São Paulo, quinta-feira, 19 de novembro de 2009

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Brasil vê plano palestino com ceticismo

Presidente Abbas, que chega hoje a Salvador, ouvirá de Lula reservas brasileiras sobre projeto de independência unilateral

Para Itamaraty, prioridade do encontro é tentativa de convencer líder palestino a reverter sua decisão de não concorrer à reeleição


SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo brasileiro dirá ao presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, que não vê com bons olhos a declaração unilateral de independência de Cisjordânia, faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, contrariando a meta da liderança palestina, de obter apoio do Brasil.
No encontro que terá amanhã em Salvador com o colega Luiz Inácio Lula da Silva, Abbas tentará justificar seu controverso plano alegando que duas décadas de negociação com Israel não tiveram nenhum resultado positivo para os palestinos e que um plano de independência deve ser levado à ONU.
O governo brasileiro, que tem merecido cada vez mais atenção dos países do Oriente Médio e que assumirá em janeiro 1 das 10 cadeiras rotativas do Conselho de Segurança da ONU, diz oficialmente que só se pronunciará após ouvir de Abbas os detalhes da proposta.
Mas a Folha apurou que o Brasil, a exemplo dos Estados Unidos e da União Europeia, não vê a ideia com bons olhos. Segundo um alto diplomata, o Brasil teme que uma declaração unilateral de independência provoque um novo ciclo de violência e que Israel passe a ocupar mais terras palestinas.
Israel deixou claro que responderá com "atos unilaterais" caso seja proclamada a criação da Palestina -que até agora só teve promessa de apoio de alguns países árabes.
O Itamaraty também considera que a proposta fere a tradição brasileira de buscar soluções multilaterais e negociadas. O Brasil não reconheceu a independência unilateral de Kosovo, no ano passado.
Mesmo cético em relação a uma declaração de independência palestina, o Brasil usa em documentos oficiais o termo "Palestina" -que carece de valor legal, já que a Cisjordânia e a faixa de Gaza não são reconhecidas pela ONU como país.
Segundo um diplomata brasileiro, a nomenclatura reflete um "wishful thinking" (pensamento com vocação a ser concretizado) do Itamaraty.
Para o Brasil, a prioridade é tentar convencer Abbas a recuar da decisão de não concorrer à reeleição no pleito de janeiro. O presidente da ANP anunciou há duas semanas que não será candidato em protesto contra a recusa israelense em congelar os assentamentos judaicos na Cisjordânia. O Itamaraty avalia que a saída de cena de Abbas pode deixar um vácuo de poder perigoso.
Israel alega que não se pode impedir o "crescimento natural" das colônias, enquanto os palestinos consideram que a multiplicação das residências judaicas inviabiliza a criação de um estado palestino.
A visita de Abbas ocorre em meio à intensificação dos contatos entre o Brasil e países do Oriente Médio. Na semana passada, o presidente de Israel, Shimon Peres, apresentou em Brasília, São Paulo e Rio as posições do Estado judaico sobre as colônias judaicas e a suposta ameaça iraniana. Na segunda, Lula receberá o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.


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