|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasil vê plano palestino com ceticismo
Presidente Abbas, que chega hoje a Salvador, ouvirá de Lula reservas brasileiras sobre projeto de independência unilateral
Para Itamaraty, prioridade do encontro é tentativa de convencer líder palestino a reverter sua decisão de
não concorrer à reeleição
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo brasileiro dirá ao
presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, que não vê com
bons olhos a declaração unilateral de independência de Cisjordânia, faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, contrariando a
meta da liderança palestina, de
obter apoio do Brasil.
No encontro que terá amanhã em Salvador com o colega
Luiz Inácio Lula da Silva, Abbas
tentará justificar seu controverso plano alegando que duas
décadas de negociação com Israel não tiveram nenhum resultado positivo para os palestinos e que um plano de independência deve ser levado à ONU.
O governo brasileiro, que
tem merecido cada vez mais
atenção dos países do Oriente
Médio e que assumirá em janeiro 1 das 10 cadeiras rotativas
do Conselho de Segurança da
ONU, diz oficialmente que só
se pronunciará após ouvir de
Abbas os detalhes da proposta.
Mas a Folha apurou que o
Brasil, a exemplo dos Estados
Unidos e da União Europeia,
não vê a ideia com bons olhos.
Segundo um alto diplomata, o
Brasil teme que uma declaração unilateral de independência provoque um novo ciclo de
violência e que Israel passe a
ocupar mais terras palestinas.
Israel deixou claro que responderá com "atos unilaterais"
caso seja proclamada a criação
da Palestina -que até agora só
teve promessa de apoio de alguns países árabes.
O Itamaraty também considera que a proposta fere a tradição brasileira de buscar soluções multilaterais e negociadas. O Brasil não reconheceu a
independência unilateral de
Kosovo, no ano passado.
Mesmo cético em relação a
uma declaração de independência palestina, o Brasil usa
em documentos oficiais o termo "Palestina" -que carece de
valor legal, já que a Cisjordânia
e a faixa de Gaza não são reconhecidas pela ONU como país.
Segundo um diplomata brasileiro, a nomenclatura reflete
um "wishful thinking" (pensamento com vocação a ser concretizado) do Itamaraty.
Para o Brasil, a prioridade é
tentar convencer Abbas a recuar da decisão de não concorrer à reeleição no pleito de janeiro. O presidente da ANP
anunciou há duas semanas que
não será candidato em protesto
contra a recusa israelense em
congelar os assentamentos judaicos na Cisjordânia. O Itamaraty avalia que a saída de cena de Abbas pode deixar um
vácuo de poder perigoso.
Israel alega que não se pode
impedir o "crescimento natural" das colônias, enquanto os
palestinos consideram que a
multiplicação das residências
judaicas inviabiliza a criação de
um estado palestino.
A visita de Abbas ocorre em
meio à intensificação dos contatos entre o Brasil e países do
Oriente Médio. Na semana
passada, o presidente de Israel,
Shimon Peres, apresentou em
Brasília, São Paulo e Rio as posições do Estado judaico sobre
as colônias judaicas e a suposta
ameaça iraniana. Na segunda,
Lula receberá o presidente do
Irã, Mahmoud Ahmadinejad.
Texto Anterior: Cargo de chanceler também é alvo de disputa acirrada Próximo Texto: Preso por tráfico no Irã, brasileiro sonha com "uma forcinha" de Lula Índice
|