São Paulo, quinta-feira, 19 de novembro de 2009

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Preso por tráfico no Irã, brasileiro sonha com "uma forcinha" de Lula

Condenado à prisão perpétua espera entrar na pauta da visita de Ahmadinejad

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O caso de um cidadão brasileiro condenado à prisão perpétua no Irã por tráfico de drogas deve entrar na agenda da visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil na semana que vem.
Nascido no Líbano, mas naturalizado brasileiro, Ali Mohammad, 32, está preso há três anos e nove meses em Teerã. Ele foi condenado à pena de morte, comutada por prisão perpétua em fevereiro de 2008. Só tem direito à nova apelação após cumprir dez anos de pena.
"Tomara que o presidente Lula dê uma forcinha e fale com Ahmadinejad sobre o meu caso", diz. "Imagino que o Lula tenha mil outras coisas na cabeça, mas só ele pode me ajudar."
Em entrevista por telefone à Folha, Mohammad nega qualquer envolvimento com tráfico de drogas. Ele diz que vendeu, por US$ 32 mil, uma BMW 305 a um conhecido iraniano, Ali Asghar Nazeri, que morava no bairro de Santo Amaro e vendia tapetes persas em São Paulo.
O comprador só pagou metade da transação. Precisando do dinheiro, o amigo sugeriu que ele o visitasse no Irã, onde pagaria os US$ 16 mil restantes. "Aproveitaria para ver os festejos do Ano Novo Persa, visitar o Irã, pegar o restante da venda do carro e passar por Dubai para comprar mercadorias", diz.
Até então, o brasileiro morava em São Paulo, onde era proprietário de uma loja com outro sócio. O estabelecimento vendia eletrônicos na rua Santa Ifigênia, no centro da cidade.
"Estava dormindo na casa de Nazeri em Teerã quando fui acordado a socos e pontapés por policiais iranianos. Eles diziam que havia cocaína na casa, nunca vi nada."
A polícia iraniana apreendeu 750 gramas da droga.
Questionado se não é estranho alguém ir até o Irã por causa de uma dívida, ele nega qualquer atividade ilícita. "Nunca tive contato com drogas, não seria tão estúpido", diz. "Minha família está há 50 anos no Brasil e nunca houve nenhum problema conosco. Pensava em casar com minha namorada, andava bem nos negócios, e agora perdi tudo."
"Meu pai é muçulmano, tinha muita curiosidade de ir ao Irã", acrescenta. A viagem aconteceu em março de 2006.

Tortura e roubo
Desde então, ele está preso na prisão de Evin, em que também ficam os presos políticos do regime. "Nazari ferrou comigo, disse que trabalhávamos juntos", conta. "Soube que ele já foi solto, enquanto eu, que não conheço ninguém no país, continuo aqui."
Mohammad diz que ficou algemado por dois dias, apanhando enquanto era interrogado em farsi. "Não entendia o que eles diziam, então apanhava mais, tenho um dente quebrado até hoje."
Ele relata que seu relógio, mala, roupas, um terno e US$ 1.000 foram furtados. Ficou 22 meses aguardando julgamento e contratou um advogado iraniano indicado por um amigo de Dubai (Emirados Árabes).
Foi condenado à morte, mas no aniversário da Revolução Islâmica do ano passado, em fevereiro, a pena foi comutada por prisão perpétua. "Paguei US$ 3.000 ao advogado, mas ele não conseguiu nada."
Mohammad divide cela com outros 20 presos, em boa parte africanos, e diz que dorme mal quase todos os dias.
"Nos acordam muitas vezes de madrugada e nos levam para dar uma volta às 3h30 da manhã, em pleno frio."


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