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Preso por tráfico no Irã, brasileiro sonha com "uma forcinha" de Lula
Condenado à prisão perpétua espera entrar na pauta da visita de Ahmadinejad
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O caso de um cidadão brasileiro condenado à prisão perpétua no Irã por tráfico de drogas
deve entrar na agenda da visita
do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil
na semana que vem.
Nascido no Líbano, mas naturalizado brasileiro, Ali Mohammad, 32, está preso há três
anos e nove meses em Teerã.
Ele foi condenado à pena de
morte, comutada por prisão
perpétua em fevereiro de 2008.
Só tem direito à nova apelação
após cumprir dez anos de pena.
"Tomara que o presidente
Lula dê uma forcinha e fale com
Ahmadinejad sobre o meu caso", diz. "Imagino que o Lula tenha mil outras coisas na cabeça, mas só ele pode me ajudar."
Em entrevista por telefone à
Folha, Mohammad nega qualquer envolvimento com tráfico
de drogas. Ele diz que vendeu,
por US$ 32 mil, uma BMW 305
a um conhecido iraniano, Ali
Asghar Nazeri, que morava no
bairro de Santo Amaro e vendia
tapetes persas em São Paulo.
O comprador só pagou metade da transação. Precisando do
dinheiro, o amigo sugeriu que
ele o visitasse no Irã, onde pagaria os US$ 16 mil restantes.
"Aproveitaria para ver os festejos do Ano Novo Persa, visitar o
Irã, pegar o restante da venda
do carro e passar por Dubai para comprar mercadorias", diz.
Até então, o brasileiro morava em São Paulo, onde era proprietário de uma loja com outro
sócio. O estabelecimento vendia eletrônicos na rua Santa Ifigênia, no centro da cidade.
"Estava dormindo na casa de
Nazeri em Teerã quando fui
acordado a socos e pontapés
por policiais iranianos. Eles diziam que havia cocaína na casa,
nunca vi nada."
A polícia iraniana apreendeu
750 gramas da droga.
Questionado se não é estranho alguém ir até o Irã por causa de uma dívida, ele nega qualquer atividade ilícita. "Nunca
tive contato com drogas, não
seria tão estúpido", diz. "Minha
família está há 50 anos no Brasil e nunca houve nenhum problema conosco. Pensava em casar com minha namorada, andava bem nos negócios, e agora
perdi tudo."
"Meu pai é muçulmano, tinha muita curiosidade de ir ao
Irã", acrescenta. A viagem
aconteceu em março de 2006.
Tortura e roubo
Desde então, ele está preso
na prisão de Evin, em que também ficam os presos políticos
do regime. "Nazari ferrou comigo, disse que trabalhávamos
juntos", conta. "Soube que ele
já foi solto, enquanto eu, que
não conheço ninguém no país,
continuo aqui."
Mohammad diz que ficou algemado por dois dias, apanhando enquanto era interrogado
em farsi. "Não entendia o que
eles diziam, então apanhava
mais, tenho um dente quebrado até hoje."
Ele relata que seu relógio,
mala, roupas, um terno e US$
1.000 foram furtados. Ficou 22
meses aguardando julgamento
e contratou um advogado iraniano indicado por um amigo
de Dubai (Emirados Árabes).
Foi condenado à morte, mas
no aniversário da Revolução Islâmica do ano passado, em fevereiro, a pena foi comutada
por prisão perpétua. "Paguei
US$ 3.000 ao advogado, mas
ele não conseguiu nada."
Mohammad divide cela com
outros 20 presos, em boa parte
africanos, e diz que dorme mal
quase todos os dias.
"Nos acordam muitas vezes
de madrugada e nos levam para
dar uma volta às 3h30 da manhã, em pleno frio."
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