São Paulo, quinta-feira, 19 de novembro de 2009

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Lima e Santiago internacionalizam crise

Governo e Congresso peruanos querem levar caso de suposta espionagem militar chilena para Interpol, Unasul e OEA

Tensão é mais um capítulo de antigo conflito bilateral, marcado por guerra no século 19; Peru questiona fronteira marítima em Haia


DA REDAÇÃO

O atual conflito entre Peru e Chile sobre um suposto caso de espionagem deve chegar a instâncias internacionais, após governo e Congresso peruanos anunciarem denúncias à Interpol (polícia internacional), à Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e à OEA (Organização de Estados Americanos).
O episódio veio à tona na semana passada, após a Justiça do Peru abrir processo contra o técnico da FAP (Força Aérea Peruana) Victor Ariza Mendoza, 45, preso no último dia 30 acusado de vender a militares chilenos dados sobre o sistema de defesa peruano.
Enquanto o Legislativo peruano aprovou declaração que repudia a suposta espionagem e denuncia a ""política armamentista" do Chile, a ser enviada aos órgãos regionais OEA e Unasul, o governo Alan García informou que pedirá à Interpol que investigue os documentos descobertos com Mendoza.
Ouvido pelo Ministério Público peruano, Mendoza confessou ter sido cooptado por supostos militares chilenos em 2002, quando trabalhava na Embaixada do Peru em Santiago. Entre os documentos repassados ao Chile, citou o plano estratégico da FAP até 2021.
Ontem, em nota lida por seu advogado, Mendoza, preso em unidade de segurança máxima, se disse arrependido. "Peço desculpas a minha família, ao meu país e ao presidente."
O incidente elevou a tensão diplomática entre os países e motivou discussão entre os presidentes. García, embora tenha evitado acusar diretamente o governo chileno, afirmou que o caso é "próprio de republiqueta", o que foi classificado como "ofensivo" pela mandatária chilena, Michelle Bachelet.
A política de defesa do Chile é vista com desconfiança por Lima -os gastos chilenos na área alcançaram 3,7% do PIB em 2008, contra 1,5% do Peru. O caso veio à tona no dia em que os EUA anunciaram possível venda de US$ 600 milhões em armas ao Chile e ocorre em meio a uma campanha do governo García pelo desarmamento na região.

Demanda em Haia
A suposta espionagem é mais um capítulo na história de rusgas diplomáticas e verbais entre os países, que se enfrentaram na Guerra do Pacífico (1879-1884), em que o Peru perdeu parte do território. O conflito é a origem da ação movida por Lima na Corte Internacional de Justiça de Haia para questionar as fronteiras marítimas entre os países.
Ontem, o número 2 da Chancelaria chilena, Alberto van Klaveren, renunciou ao cargo para se dedicar exclusivamente à disputa jurídica. O governo García fez a petição em Haia em 2008, e o governo Bachelet tem até março para entregar a defesa. Para o Chile, não há fundamento no questionamento, já que as divisas marítimas foram definidas em tratado nos anos 50. Para o Peru, o acordo versou só sobre regras de pesca na região, não sobre território.


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