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Após decisão desfavorável, Cristina faz crítica à Justiça
"Deve ser independente do poder econômico", diz argentina
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
Numa referência velada à vitória judicial obtida nesta semana pelo Grupo Clarín contra
a lei de mídia promulgada por
seu governo, a presidente da
Argentina, Cristina Kirchner,
disse ontem que "a Justiça deve
ser independente do poder econômico" e não só do "poder político de ocasião", como se ouve
em "ribombantes palavras e
grandes arengas".
Cristina afirmou que "os poderes econômicos, em quem
ninguém nunca vota, jamais
são circunstanciais, mas sim
permanentes" e asseverou que
possuem "poder de lobby para
obter medidas políticas, legislação, sentenças".
Com declarações de dois ministros, o governo já desqualificara o juiz Edmundo Carbone,
que concedeu medida cautelar
do Grupo Clarín contra a Lei de
Serviços Audiovisuais, que regula os setores de rádio e TV,
aprovada em outubro passado.
Carbone considerou inconstitucional, por ferir direitos adquiridos, o artigo da lei que fixa
prazo de um ano para as empresas se ajustarem aos novos
limites de propriedade de concessões de canais de rádio e TV,
desprendendo-se do "excedente" de seus negócios.
O juiz também apontou inconstitucionalidade no artigo
que subordina ao aval do Estado a operação de transferência
de concessões entre empresas.
Se aplicados, esses dois artigos obrigariam o Grupo Clarín,
maior conglomerado de mídia
argentino, a se desfazer de parte de seus negócios no mercado
de TV a cabo, em que é líder, só
podendo executar a venda para
compradores previamente
aprovados pelo governo.
Cristina está em atrito com o
Grupo Clarín, que adota tom
crítico à sua gestão desde meados de 2008. Ela determinou
recurso da decisão de Carbone,
juiz de primeira instância.
A presidente voltou ontem a
citar seu embate com o Grupo
Clarín, depois de já ter insinuado ser vítima de um "fuzilamento midiático". "Não é fácil
se manter de pé diante de tantas rasteiras e tanta pressão, sobretudo quando se está sobre
saltos, que facilitam ao outro
[aplicar] rasteiras", disse.
É comum a presidente se referir à questão de gênero e à influência de suposto traço misógino da sociedade argentina na
avaliação de seu governo.
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