São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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Raúl pede ajuda a Lula para integração internacional

Para ele, Brasil é parceiro mais útil que a Venezuela

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em encontro na capital cubana, Havana, no mês passado, Raúl Castro disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que desejava acelerar o processo de transição política e econômica em Cuba. Para o sucesso dessa tarefa, observou que o Brasil seria um parceiro mais conveniente do que a Venezuela, de Hugo Chávez.
No poder desde julho de 2006, quando Fidel se afastou "temporariamente", Raúl pediu em janeiro último a ajuda de Lula para aumentar investimentos privados no país e melhorar as relações internacionais de Cuba, sobretudo com os Estados Unidos.
Na opinião de integrantes da cúpula do governo brasileiro, Raúl deseja empenho de Lula para tentar convencer os Estados Unidos a pôr fim ao bloqueio econômico que teve início em 1962. Num cenário de transição mais rápida do que a atual, Lula avalia que os empresários brasileiros deveriam acelerar planos de investimento em Cuba. O brasileiro pretende estimular esses empreendimentos.

Triangulação
Nas palavras de um ministro, o Brasil é um dos poucos países do mundo capazes de dialogar com o regime cubano, Chávez e o governo norte-americano. Logo, poderá ser mais útil do que Chávez, líder em conflito com os Estados Unidos e com a Colômbia. Na disputa com a Venezuela pela liderança na América Latina, interessaria ao Brasil socorrer Cuba no cenário pós-Fidel.
Na reunião com Lula, Raúl elogiou o presidente da Venezuela, dizendo que ele tem sido um bom parceiro. Raúl destacou que Chávez ajudara Cuba num momento de enfrentamento duro com a gestão do republicano George W. Bush, no poder em Washington desde janeiro de 2001.
Segundo apurou a Folha, Raúl, mais moderado na economia e na política do que Fidel, vê em Lula uma forma de se descolar um pouco de Chávez sem melindrar o venezuelano. Afinal, são antigos e fortes os laços de amizade de Lula e do PT com Fidel e Cuba.
Com a saída de cena de Fidel, Raúl deverá fazer acenos para a comunidade internacional, disseram à Folha auxiliares de Lula que acompanharam o brasileiro em Havana. Lula disse a Raúl que avanços econômicos deveriam ser acompanhados de maior abertura política. Para o petista, Raúl deveria fazer um gesto na área de direitos humanos (prisioneiros políticos) para demonstrar que deseja uma transição de verdade e não somente replicar o modelo chinês (abertura na economia e mão-de-ferro na política).

Impressões lulistas
Apesar de amigo de Lula, Fidel alfinetou o petista nos últimos anos em questões como os biocombustíveis e a boa relação com Bush. Chávez fez dobradinha com Fidel em algumas críticas.
A recomposição da relação com Fidel foi um dos objetivos da recente viagem de Lula à ilha. O encontro deles durou mais de duas horas. Fidel recebeu Lula de pé, o que surpreendeu o petista. Lula esperava encontrar um líder mais alquebrado, mas o achou lúcido e com boa memória. E revelou a auxiliares que Fidel lhe dera a entender que não voltaria ao poder.
Lula também se surpreendeu com o bom humor de Raúl. Julgou o irmão de Fidel mais confiante do que em outros encontros que tiveram. O presidente brasileiro crê que Raúl se consolidou como o sucessor do irmão, de quem era uma sombra.


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