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Raúl pede ajuda a Lula para integração internacional
Para ele, Brasil é parceiro mais útil que a Venezuela
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em encontro na capital cubana, Havana, no mês passado,
Raúl Castro disse ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva que
desejava acelerar o processo de
transição política e econômica
em Cuba. Para o sucesso dessa
tarefa, observou que o Brasil
seria um parceiro mais conveniente do que a Venezuela, de
Hugo Chávez.
No poder desde julho de
2006, quando Fidel se afastou
"temporariamente", Raúl pediu em janeiro último a ajuda
de Lula para aumentar investimentos privados no país e melhorar as relações internacionais de Cuba, sobretudo com os
Estados Unidos.
Na opinião de integrantes da
cúpula do governo brasileiro,
Raúl deseja empenho de Lula
para tentar convencer os Estados Unidos a pôr fim ao bloqueio econômico que teve início em 1962. Num cenário de
transição mais rápida do que a
atual, Lula avalia que os empresários brasileiros deveriam
acelerar planos de investimento em Cuba. O brasileiro pretende estimular esses empreendimentos.
Triangulação
Nas palavras de um ministro,
o Brasil é um dos poucos países
do mundo capazes de dialogar
com o regime cubano, Chávez e
o governo norte-americano.
Logo, poderá ser mais útil do
que Chávez, líder em conflito
com os Estados Unidos e com a
Colômbia. Na disputa com a
Venezuela pela liderança na
América Latina, interessaria ao
Brasil socorrer Cuba no cenário pós-Fidel.
Na reunião com Lula, Raúl
elogiou o presidente da Venezuela, dizendo que ele tem sido
um bom parceiro. Raúl destacou que Chávez ajudara Cuba
num momento de enfrentamento duro com a gestão do republicano George W. Bush, no
poder em Washington desde
janeiro de 2001.
Segundo apurou a Folha,
Raúl, mais moderado na economia e na política do que Fidel, vê em Lula uma forma de
se descolar um pouco de Chávez sem melindrar o venezuelano. Afinal, são antigos e fortes
os laços de amizade de Lula e
do PT com Fidel e Cuba.
Com a saída de cena de Fidel,
Raúl deverá fazer acenos para a
comunidade internacional, disseram à Folha auxiliares de
Lula que acompanharam o brasileiro em Havana. Lula disse a
Raúl que avanços econômicos
deveriam ser acompanhados
de maior abertura política. Para o petista, Raúl deveria fazer
um gesto na área de direitos
humanos (prisioneiros políticos) para demonstrar que deseja uma transição de verdade e
não somente replicar o modelo
chinês (abertura na economia e
mão-de-ferro na política).
Impressões lulistas
Apesar de amigo de Lula, Fidel alfinetou o petista nos últimos anos em questões como os
biocombustíveis e a boa relação
com Bush. Chávez fez dobradinha com Fidel em algumas críticas.
A recomposição da relação
com Fidel foi um dos objetivos
da recente viagem de Lula à
ilha. O encontro deles durou
mais de duas horas. Fidel recebeu Lula de pé, o que surpreendeu o petista. Lula esperava encontrar um líder mais alquebrado, mas o achou lúcido e
com boa memória. E revelou a
auxiliares que Fidel lhe dera a
entender que não voltaria ao
poder.
Lula também se surpreendeu
com o bom humor de Raúl. Julgou o irmão de Fidel mais confiante do que em outros encontros que tiveram. O presidente
brasileiro crê que Raúl se consolidou como o sucessor do irmão, de quem era uma sombra.
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