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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

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NO IRAQUE

Principais lideranças iraquianas permanecem leais ao ditador e se dizem prontos para guerra; vice nega deserção

Parlamento declara lealdade a Saddam

DA REDAÇÃO

As principais autoridades iraquianas permaneciam leais ao ditador Saddam Hussein ontem, poucas horas antes de os primeiros ataques aéreos norte-americanos atingirem Bagdá.
O Parlamento do Iraque declarou lealdade ao ditador e recusou-se, por unanimidade, a aceitar o ultimato imposto pelo presidente dos EUA, George W. Bush, para que Hussein deixasse o país junto com sua família e aliados. A mesma atitude foi tomada por outras lideranças do país em meio a informações de que o vice-premiê de Saddam teria desertado, o que acabou não se confirmando.
O ditador também manteve inalterada a sua decisão de permanecer no país diante da ameaça americana, rejeitando ofertas de exílio feitas oficialmente pelo Bahrein e por outros países do golfo Pérsico.
"Nós estamos decididos a nos martirizar para defender o Iraque sob a sua liderança", afirmaram os parlamentares em mensagem para Saddam. O chefe do Parlamento, Saadoon Hammadi, abriu a sessão extraordinária afirmando que "os iraquianos, com uma vontade livre e honesta, falaram de forma decisiva e clara que escolhem lutar pelo líder Saddam Hussein, presidente do país".
"O Iraque é Saddam e Saddam é o Iraque. Nós não abandonaremos nem o Iraque, nem Saddam", afirmou Hammadi. Estavam presentes ao Parlamento os 250 deputados que o compõe. Segundo o chefe do Parlamento, "Saddam está a frente de todos. Ele guiará o país para a vitória."
Durante a sessão, em vários momentos, os parlamentares entoavam gritos de apoio ao ditador: "Nós sacrificaremos nosso sangue e nossa alma por Saddam".
O Parlamento do Iraque é quase uma peça figurativa na escala de poder do país. Acima dele está o partido governista Baath e o Conselho Revolucionário, ambos presididos por Saddam.
Porém a demonstração de apoio é um sinal de que o ditador ainda mantinha o poder horas antes de vencer o prazo do ultimato americano a ele.

Rumores de deserção
O vice-premiê, Tariq Aziz, um dos homens mais fortes de Saddam e de origem cristã, ao contrário da maioria do governo, que é muçulmana, também foi à TV para mostrar lealdade ao líder.
Durante o dia, haviam surgido rumores de que Aziz teria desertado e se exilado na Jordânia.
"Esses rumores, sobre a minha partida, se inscrevem no marco da guerra psicológica que leva a cabo os EUA para tentar sabotar o moral do povo iraquiano", disse.
Descartando a possibilidade de Saddam se render e, desse modo, evitar uma guerra, o vice-premiê disse: "Está claro que é impossível que nosso ilustre líder deixe o Iraque. Essa não será uma guerra curta. A não ser que Bush decida encerrar a sua agressão. Não será um piquenique".
"Estou carregando a minha pistola para confirmar para vocês que nós estamos prontos para lutar contra os agressores", acrescentou Aziz. Segundo ele, "os soldados americanos não são nada mais do que mercenários e serão derrotados".
A saída de Aziz seria considerada uma grande perda para Saddam. Ele é um dos mais hábeis políticos e negociadores do país. Aliado do ditador, ele nunca ofereceu perigo à sua liderança. Saddam sempre soube que o fato de Aziz ser cristão tornava impossível ele chegar um dia ao topo do poder no Iraque.
O ministro da Informação iraquiano, Mohammed Saeed al Sahaf, disse que os comandantes militares dos EUA e do Reino Unido estavam mentindo ao dizer para seus subalternos que a vitória sobre o Iraque será fácil.


Com agências internacionais


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