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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

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PLANO

Operação de US$ 5 mi por semana contra possíveis ataques é deflagrada; prefeito diz que espera mais verbas de Washington

Assustada, NY se prepara para o terror

DE NOVA YORK

Oficiais com armas automáticas a tiracolo tomaram as ruas. A população se mostra apreensiva. O governo diz que, mesmo sem dinheiro, vai fazer todo o possível para evitar ataques à cidade.
A guerra pode até ter Bagdá como alvo, mas é Nova York que dá a medida de como a ação militar assusta também os americanos.
Na cidade que mais sofreu com os atentados de 11 de setembro de 2001, a preocupação com a possibilidade de novos ataques terroristas desencadeou uma verdadeira operação de guerra.
A polícia montou um pacote de medidas, reunidas sob o nome de "Operação Atlas". O plano é ambicioso. Na parte mais evidente, leva para locais de grande concentração pública a armadura do esquema que tem funcionado nos aeroportos americanos desde o 11 de setembro.
A cidade promete vigilância especial, incluindo cães farejadores e esquadrões antibombas, a estações de trem e metrô, prédios governamentais, hotéis, instituições financeiras, órgãos da mídia, consulados e casas religiosas.
Pontes e túneis de acesso a Manhattan já ganharam barreiras policiais, assim com algumas avenidas da cidade. Policiais também guardam emissoras de TV e rádio, por causa do temor de que elas sejam usadas para transmitir mensagens de algum grupo.
A polícia diz ainda que boa parte do plano não será percebida pela população, como a presença de policiais a paisana pela cidade.
Todo esse aparato, porém, custa caro, e a cidade, que vê sua economia andar de lado, não quer pagar a conta. A polícia diz que seu plano custará US$ 5 milhões por semana. Com o orçamento já deficitário, o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg acabou de colocar em marcha um plano de cortes no funcionalismo municipal -só na polícia, por exemplo, desapareceram 10% dos 40 mil postos que havia em 2001.
Por causa da guerra, diz que precisa de socorro do governo federal. "Primeiro vamos providenciar proteção. Como vamos achar dinheiro é a parte difícil. [Mas] não estamos determinando quanta segurança teremos pelo caixa que temos. Estou otimista em relação a que Washington entenda a importância de Nova York, que eles virão nos ajudar."
Bloomberg, que esteve ontem em Washington atrás de dinheiro, tem também de equacionar um problema político em relação aos gastos por causa da guerra: a população nova-iorquina demonstra menos apoio à guerra do que a média nacional. Pesquisa recente indicou que só 19% das pessoas aprovariam atacar sem aval da ONU. Para 67%, a guerra aumenta o risco de ataques à cidade.
A cidade teme ainda o impacto que o clima de guerra poderá ter em sua economia, já mais deprimida que o restante dos EUA -o desemprego em Nova York, por exemplo, é de 8,6%, acima da média nacional, 5,7%.
"As pessoas vão viajar menos, sair menos, isso afeta o turismo", diz o professor Anthony Townsend, do Taub Urban Research Centre, da New York University. "Mas Nova York é muito afetada pelo que acontece na Bolsa. Depende muito de lá. Se a guerra for curta, a cidade vai reagir mais rápido", afirma.
Não por acaso, o governador do Estado de Nova York, George Pataki, foi à TV pregar: "As pessoas têm de continuar saindo de casa, indo ao cinema, vivendo normalmente". No mesmo discurso, porém, o outro lado da moeda: pediu ajuda à população para avisar sobre pessoas e atividades suspeitas por meio de um disque-denúncia.
"As pessoas não vão chegar a paralisar suas atividades e deixar de fazer coisas agora. [Mas] se houver um novo ataque terrorista, vai ser muito difícil para os nova-iorquinos", diz Bruce Dohrenwend, chefe de pesquisa do departamento de psiquiatria social da Universidade Columbia.
(ROBERTO DIAS)


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