|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Corte busca reconciliar Argentina e Uruguai
Tribunal de Haia anunciará hoje decisão sobre fábrica de celulose instalada na margem uruguaia de rio que separa os países
Governos expressaram a expectativa de que sentença encerre a polêmica, mas argentinos cogitam manter protestos em caso de derrota
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
A Corte Internacional de
Justiça de Haia anuncia hoje
sua decisão sobre uma controvérsia que há cinco anos representa um nó na relação entre
Argentina e Uruguai, sócios do
Brasil no Mercosul.
O governo argentino acusa o
uruguaio de ter infringido o
tratado que estipula a administração conjunta do rio Uruguai
pelos dois países, ao autorizar a
instalação da empresa de celulose de origem finlandesa Botnia em sua margem do rio, na
localidade de Fray Bentos.
Os argentinos avaliam que a
fábrica é poluente e causa danos à saúde dos moradores da
região, ao meio ambiente e à indústria do turismo, importante
na economia local. Eles exigem
a realocação da fábrica.
O Uruguai nega violação do
tratado e diz que o aval dado ao
investimento estrangeiro no
país pertence ao âmbito de suas
decisões soberanas .
Os governos de José Mujica
(Uruguai) e Cristina Kirchner
(Argentina) -sucessores de
Tabaré Vázquez (2005-2010) e
Néstor Kirchner (2003-2007),
em cujas gestões o conflito foi
iniciado- expressaram a expectativa de que a decisão de
Haia encerre a controvérsia e
elimine o foco de tensão entre
os dois países.
Há, porém, um consistente
indício de que a desavença venha a persistir após o pronunciamento da corte. "Esperamos
que a sentença seja favorável [à
Argentina] e marque um ponto
de inflexão nessa história, mas
estamos alertas para continuar
a luta", diz Paula Robles, moradora de Gualeguaychú, na margem argentina do rio, e integrante da Assembleia Cidadã
Ambiental do município.
Desde 2006, os manifestantes de Gualeguaychú impedem
a passagem na fronteira para o
Uruguai, bloqueando a principal ponte da região.
O protesto tem o declarado
propósito de prejudicar os negócios da fábrica de celulose,
inviabilizando a circulação por
terra de sua matéria-prima, a
madeira. Mas o bloqueio impede também a livre circulação de
cidadãos na fronteira e provoca
impacto negativo no fluxo turístico para o lado uruguaio.
Foi com o argumento de que
Néstor Kirchner foi leniente
com o cerceamento do direito
de ir e vir que afeta cidadãos
dos dois países que Tabaré Vázquez vetou, em 2008, a indicação do argentino à Secretaria-Geral da Unasul (União de Nações Sul-Americanas).
O gesto de Vázquez suscitou
represália da Argentina, que
passou a travar liberação de um
fundo de investimentos do
Mercosul para um projeto de
interconexão energética, estratégico para o Uruguai.
Próximos passos
Os manifestantes de Gualeguaychú pretendem assistir ao
anúncio da sentença de Haia
em um telão gigante instalado
em área de preservação ecológica no município.
Após conhecer a decisão da
corte, eles deliberarão seus
próximos passos. "A manutenção do bloqueio da ponte é uma
das alternativas, caso a corte
decida que a fábrica deve continuar funcionando, sob monitoramento nosso. Minha opinião
é que não se pode monitorar algo ilegal", afirma Robles.
A Folha tentou ouvir a UPM
-marca finlandesa que adquiriu as ações da Botnia no ano
passado- sobre o assunto. A
assessoria de imprensa da
UPM disse que, "assim como
fez durante todo esse processo,
a empresa não fará comentários" sobre o tema, por entender tratar-se de "um assunto
entre governos".
O chanceler uruguaio, Luis
Almagro, afirmou que Mujica e
Cristina deverão ter um encontro pouco depois de anunciado
o veredicto. O chanceler argentino, Jorge Taiana, disse estar
"confiante" no resultado.
Texto Anterior: Guarulhos tem chegadas previstas para hoje Próximo Texto: Chávez faz festa socialista pelo bicentenário Índice
|