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Chávez faz festa socialista pelo bicentenário
Presidente venezuelano transforma cerimônia em homenagem a Bolívar em desfile de armamentos
FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
O governo venezuelano comemorou ontem os 200 anos
do primeiro grito de independência do país com uma grande
parada cívico-militar, cuja tônica foi a demonstração das recentes aquisições de armas e a
defesa do "socialismo do século
21". Passaram 12 mil pessoas
pelo imponente passeio dos
Próceres, em Caracas, dos
"guerreiros indígenas socialistas" à brigada de funcionários
da estatal petroleira PDVSA.
O presidente Hugo Chávez,
com traje militar de gala, abriu
o desfile afirmando que a Venezuela não será jamais "colônia
ianque ou de nenhum país estrangeiro", ladeado por líderes
esquerdistas, entre eles os de
Cuba, Nicarágua, Equador e
Bolívia, integrantes da chavista
Alba (Aliança Bolivariana para
as Américas).
A convidada de honra, e que
seria oradora da sessão solene
da Assembleia Nacional mais
tarde, foi Cristina Kirchner,
presidente da Argentina -escolha criticada pela oposição.
Chávez se esmera para fixar a
ideia de que a comemoração do
bicentenário representa a retomada das ideias do herói da independência Simón Bolívar
(1783-1830). Seu governo, porém, atravessa momento delicado. A popularidade do presidente caiu (44%, segundo o instituto Datanálisis), efeito do
desgaste da crise energética e
da inflação.
Aviões americanos F-16, e os
russos Sukhoi-30, parte do arsenal a partir de 2008, e os chineses K-8W, comprados neste
ano -todos adquiridos após os
EUA vetarem a venda de aeronaves brasileiras e espanholas,
com componentes americanos,
e de peças de reposição para os
F-16-, cruzaram o céu. Parte
levava câmeras a bordo, efeito
para a transmissão em cadeia
de rádio e TV. Um grupo de militares de Belarus fez uma apresentação de honra de dez minutos, e desfilaram ainda tratores
iranianos e delegações de Argélia e Líbia.
Também desfilou a controversa Milícia Nacional Bolivariana, composta por militares
da reserva e civis treinados pelo
governo -de estudantes e funcionários públicos a camponeses. Os diferentes contingentes
militares gritavam palavras de
ordem socialistas.
Venezuelanos, a maioria de
vermelho, com camisetas e bonés identificando programas
sociais do governo e estatais,
preencheram a arquibancada
do passeio, aplaudindo apresentações folclóricas.
"Antes de 1999 [ano da posse
de Chávez], eu era excluído",
diz Miguel Liendo, 26, facilitador da Missão Sucre, programa
de alfabetização do governo.
"Viemos para nos divertir, conhecer mais do país", disse o estudante Ángel Sandrano, 18,
defensor do governo, ao lado da
namorada, Albaña Molina, 18,
que "não gosta do governo de
jeito nenhum", mas quis vir
mesmo assim.
A oposição não foi convidada
às comemorações. As forças
opositoras, que tentam se unir
para disputar as cruciais eleições legislativas de setembro,
lançaram nota dizendo que a
democracia corre risco sob
Chávez e rejeitando o "militarismo" dos festejos.
A realeza espanhola também
não foi convidada, mas "movimentos sociais e historiadores
do país, sim", disse à Folha o
historiador e vice-ministro da
Cultura, Pedro Cazaldilla.
A ex-metrópole faz parte do
Grupo Bicentenário, integrado
por todos os países que comemoram a emancipação entre
1809 e 1811 -cada um adaptando a cor política do momento à
data- e tenta se equilibrar na
atual conjuntura. Madri já disse, porém, que não pedirá desculpas pela colonização, ao
contrário do que sugeriram
Chávez e outros presidentes.
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