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Guerra do Iraque foi
erro, diz McNamara
J. M. MARTÍ FONT
DO "EL PAÍS", EM BARCELONA
Robert McNamara, 87, foi secretário da Defesa dos EUA entre
1961 e 1968. Viveu a crise dos mísseis de Cuba e a escalada da Guerra do Vietnã. Para ele, a Guerra do
Iraque não era necessária.
Pergunta - Há algum paralelo entre o Vietnã e o Iraque?
Robert McNamara- Não, são totalmente diferentes. As razões da
Guerra do Vietnã precisam ser
buscadas na Guerra Fria. Eisenhower [1953-61] disse que, se o
Ocidente cedesse o controle do
Vietnã do Sul à URSS, as peças do
dominó começariam a cair, uma
após a outra, e o comunismo se
estenderia por toda a Ásia. Estávamos equivocados. A intervenção no Iraque se baseou na existência de armas de destruição em
massa e no perigo que Saddam
Hussein representava. Muitas
pessoas acreditavam em uma dessas razões, mas era preciso ir à
guerra? Minha resposta é não. Era
preciso levar a questão à ONU.
Pergunta - Existe, na opinião pública européia, a idéia de que os
EUA travaram essa guerra com o
objetivo de controlar o petróleo.
McNamara- Não acredito nisso.
É verdade que consumimos
quantidades muito pouco razoáveis de petróleo, mas a questão é
se nosso fornecimento corre perigo. E não corre. O petróleo é um
produto cujo preço é muito elástico. Quando o preço subiu bastante, nos anos 80, o consumo caiu.
Além disso, os produtores de petróleo não podem comê-lo. Precisam vendê-lo, sob o risco de suas
economias pararem.
Pergunta - A opinião pública nos
EUA apóia o unilateralismo atual?
McNamara- Não há dúvida de
que os EUA estão divididos. A visão de mundo dos neoconservadores, a direita religiosa, é importante, mas minoritária. Hoje ela é
prevalecente, mas os acontecimentos das últimas duas semanas
no Iraque vão enfraquecê-la.
Pergunta - Com o Vietnã em vista,
como o sr. acha que a guerra afetará a sociedade americana?
McNamara- A Guerra do Iraque
está tendo um efeito adverso sobre o governo. A do Vietnã também teve. Mas acho que Bush está
em posição muito mais forte do
que Johnson estava. O Iraque ainda não se converteu em um problema tão sério quanto o Vietnã.
Pergunta - Talvez agora, com o
escândalo das torturas...
McNamara- É verdade. A tortura
é absolutamente condenável, e todas as medidas devem ser tomadas para que nunca volte a acontecer. Mas acredito que a opinião
pública americana ainda não se
veja refletida nessas imagens.
Pergunta - O governo Kennedy
(1961-63) representava o sonho de
uma geração. A Europa os adorava.
Os EUA mudaram tanto assim?
McNamara - Nem tanto. Muitas
pessoas criticam o governo Bush
por ele ser unilateralista, mas a
verdade é que, basicamente, os
americanos são unilateralistas.
Acreditamos que salvamos a Europa nas duas guerras mundiais e
que a salvamos economicamente
com o Plano Marshall. Acreditamos que fazemos mais do que
nossa devida parte para ajudar os
países em desenvolvimento, o que
não é verdade, e acreditamos que
procuramos fazer o bem, que o fazemos e que, por Deus, os outros
países deveriam reconhecê-lo.
Não compartilho esse ponto de
vista, mas ele é muito difundido.
Tradução de Clara Allain
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