São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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1º militar julgado por tortura pega 1 ano

DA REDAÇÃO

A primeira corte marcial para julgar a tortura de iraquianos por soldados dos EUA resultou ontem em pena máxima, mas não aplacou a revolta de iraquianos que protestavam em frente à prisão bagdali de Abu Ghraib, palco dos abusos. Em Washington, um chefe das Forças Armadas prometeu uma investigação completa de "toda a cadeia de comando".
O recruta Jeremy Sivits, 24, foi condenado a um ano de reclusão, teve a patente rebaixada e foi dispensado por má conduta. No protesto em Abu Ghraib, que reuniu cerca de 200 pessoas, alguns pediam penas mais duras.
Graças a um acordo com promotores, dentro do qual Sivits denunciou colegas, ele sofreu acusações mais brandas do que os outros seis militares indiciados até agora: maus-tratos, conspiração para maltratar prisioneiros e abandono do cargo. O recruta, que se declarou culpado, é o autor de várias das fotos de abusos, sendo a mais célebre a que mostra iraquianos nus empilhados como se fossem sacos de farinha.
"Gostaria de me desculpar com o povo iraquiano e os prisioneiros. Deveria tê-los protegido, não tirado fotos", disse Sivits, chorando. Em Hyndman (Pensilvânia), sua cidade natal, mais de 200 pessoas fizeram uma vigília, usando pequenas bandeiras dos EUA e fitas amarelas em apoio. Perto da casa do recruta, havia um cartaz com os dizeres: "Jeremy Sivits, herói de nossa cidade".
O recruta deve ser levado para uma prisão militar na Alemanha ou nos EUA após a sentença ser revista pelo comandante das tropas no Iraque e por uma corte militar de apelação em Washington.

Cadeia de comando
Os sargentos Charles Graner, descrito por Sivits como "o chefe do bando", Ivan Frederick e Javal Davis se recusaram a se declarar ao tribunal. Eles voltam a se apresentar no dia 21 de junho. Aguardam a data do julgamento as soldados Lynndie England, Sabrina Harman e Megan Ambuhl.
O governo dos EUA tem sido acusado de usar Sivits e os demais como bodes expiatórios, aplicando-lhes punições exemplares para atenuar o prejuízo à sua imagem e evitar que o escândalo chegue a postos mais altos na Defesa.
A posição de Washington é a de que os abusos foram cometidos por um grupo restrito de soldados -versão endossada pelo depoimento de Sivits e pelo relatório do general Antonio Taguba, que cita apenas "falha de comando" na esfera mais baixa- apesar de o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e a Anistia Internacional afirmarem que as práticas eram sistemáticas e generalizadas.
Mas os depoimentos de dois dos principais comandantes americanos ante o Congresso podem indicar uma reversão da situação.
Segundo o general John Abizaid, chefe do Comando Central americano no Oriente Médio, os militares investigaram 75 casos de abusos no Iraque e no Afeganistão desde o fim de 2002. Já o general Ricardo Sanchez, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, disse que militares já repreendidos podem ainda ser indiciados e que toda a cadeia de comando militar será investigada. "Incluindo eu mesmo", afirmou.
Os militares disseram que novas fotos de abusos foram encontradas, mas não deram detalhes.


Com agências internacionais

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