São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Exército nega ter atirado contra manifestação; Conselho de Segurança condena país e pede fim da violência

Israel mata dez durante protesto em Gaza

Khalil Hamra/Associated Press
Palestino carrega criança ferida pelo Exército de Israel durante manifestação no campo de refugiados de Rafah, na faixa de Gaza


DA REDAÇÃO

Disparos israelenses mataram pelo menos dez palestinos ontem durante manifestação no campo de refugiados de Rafah, em Gaza. Segundo testemunhas, o Exército disparou contra os manifestantes, o que Israel nega. Líderes palestinos pediram intervenção internacional.
O Conselho de Segurança (CS) da ONU aprovou uma resolução pedindo o fim da violência e da demolição de casas palestinas por Israel. Segundo agências da ONU, quase cem casas foram demolidas em Rafah desde a semana passada e cerca de 2.000 na atual Intifada (iniciada em setembro de 2000).
A resolução teve 14 votos a favor (inclusive o do Brasil) e a abstenção dos EUA, que costumam vetar medidas contra Israel. "É essencial que as pessoas respeitem vidas inocentes para conquistarmos a paz", disse o presidente dos EUA, George W. Bush, acusado de ser pró-Israel.
A Casa Branca fez críticas mais fortes do que de costume ao aliado. "Enquanto acreditamos que Israel tem o direito de se defender, não vemos as operações em Gaza como úteis ao propósito de atingir a paz e a segurança", disse o porta-voz Scott McClellan. Para a União Européia, a ação foi "completamente desproporcional".
Segundo a agência de notícias Reuters, 33 palestinos -incluindo civis e palestinos armados, considerados terroristas por Israel- morreram em Rafah, na fronteira com o Egito, nos últimos dois dias. Israel iniciou a operação no campo de refugiados, onde vivem cerca de 90 mil palestinos, após a morte de sete soldados israelenses no local na semana passada. Outros cinco soldados morreram no norte da faixa de Gaza.
As mortes de ontem aconteceram quando palestinos exigiam a entrada de ajuda humanitária no campo, cercado há três dias.
O Exército expressou "profunda tristeza pela morte de civis" e afirmou não ter atirado deliberadamente contra a manifestação, embora, segundo Israel, houvesse atiradores no meio dos manifestantes. Os palestinos negam.
Segundo Ruth Yaron, porta-voz do Exército, um helicóptero disparou um míssil em direção a uma área aberta para afugentar os manifestantes. Em seguida, tanques teriam alvejado um prédio abandonado próximo à multidão.
"É possível que as mortes sejam resultado dos tiros disparados pelos tanques contra a estrutura abandonada. Os detalhes do incidente continuam sendo investigados", afirmou a militar israelense.
"Foi um horror", disse o manifestante Mahmoud Abu Hashem, 35. "Havia uma pessoa com os intestinos de fora. Uma outra tinha sangue cobrindo todo o rosto." Mais de 50 pessoas teriam ficado feridas, inclusive crianças.
À noite, mais três mísseis teriam sido disparados de helicópteros para dar cobertura ao avanço de blindados. A ação teria sido estendida a um bairro de Rafah chamado Brasil. Não havia informação sobre vítimas.
Apesar das duras críticas internacionais, o ministro da Defesa israelense, Shaul Mofaz, disse que o Exército continuará a operação porque ela seria "necessária e vital [...] para a segurança de Israel".
Israel diz que o objetivo é destruir túneis que ligam Rafah ao outro lado da fronteira com o Egito, por onde haveria contrabando de armas destinadas aos grupos terroristas palestinos. O Exército diz que não visa destruir casas, a não ser quando elas sirvam de esconderijo para terroristas ou como entrada de túneis.
Na semana passada, surgiram informações de que Israel destruiria centenas de casas em Rafah para alargar uma "faixa de segurança" na fronteira com o Egito. Até agora, isso não ocorreu.

Protesto em Israel
Entre 200 e 300 israelenses, inclusive militares da reserva, protestaram ontem em frente ao Ministério da Defesa contra a ação em Gaza, ocupada após a guerra de 1967. No sábado, cerca de 150 mil israelenses pediram, em Tel Aviv, a saída de Israel de Gaza.
O recrudescimento da violência em Gaza acontece no momento em que o premiê israelense, Ariel Sharon, tenta obter apoio interno para uma retirada unilateral de 7.500 colonos israelenses de Gaza e das tropas que os protegem.
A saída de Gaza integra um plano mais amplo de separação unilateral de Israel dos territórios palestinos, do qual também faz parte a barreira que os israelenses estão construindo na Cisjordânia.
Sharon sustenta que a saída de Gaza trará mais segurança para Israel, mas, para analistas, não quer dar a impressão de que está saindo por causa da ação de terroristas. Por isso estaria aumentando as ações militares na região.
Pesquisas mostram que a maioria em Israel apóia a saída de Gaza, mas o plano foi rejeitado pelo partido de Sharon, o Likud. Para os adversários, o plano premia o terrorismo ao devolver Gaza sem exigir concessões. Segundo o jornal israelense "Haaretz", Sharon deve decidir hoje se reapresenta o plano, com mudanças, a seu gabinete no próximo domingo.
O plano é apoiado pelos EUA, pela União Européia, pela ONU e pela Rússia (o "Quarteto").

Com agências internacionais

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