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ANÁLISE
Com regime sob pressão, país vive dias decisivos
DO "FINANCIAL TIMES"
À medida que avança a crise
em torno do resultado contestado da eleição presidencial,
apresentando o maior desafio à
República Islâmica do Irã desde sua criação, em 1979, as esperanças de avanço em direção
a um regime mais reformista e
tolerante estão depositadas nas
centenas de milhares de pessoas que têm saído às ruas.
O resultado da eleição de oito
dias atrás foi visto como uma
afronta pelos eleitores que votaram no candidato reformista
Mir Hossein Mousavi. "Eles
nos tomaram por tolos", é uma
frase repetida com frequência.
Para uma população jovem e
instruída, parece que uma muralha de medo se rompeu, libertando as pessoas de anos de
frustração acumulada.
Gary Sick, especialista no Irã
na Universidade Columbia, diz
que o país entrou "numa fase
inteiramente nova de sua história pós-revolução". A característica singular que sempre o
distinguiu de outros regimes
autoritários do Oriente Médio,
diz, "era o respeito pela voz do
povo, mesmo quando essa voz
dizia coisas que boa parte da liderança não queria ouvir".
Mas a mudança será tumultuosa. O regime não tem apetite pela conciliação. O líder supremo, Ali Khamenei, deixou
claro que o resultado da eleição
não será mudado e que os protestos não serão tolerados.
As dimensões reais do apoio
a Mousavi são impossíveis de
avaliar, e Ahmadinejad conserva popularidade -especialmente entre os radicais religiosos, os pobres e a população rural. Mas as divisões na sociedade que foram expostas nesta semana não irão desaparecer.
Alguns comentaristas veem a
eleição como golpe palaciano
engendrado pela linha dura do
regime, representada pelo establishment militar que apoia
Ahmadinejad. O objetivo, dizem, foi destruir o movimento
reformista e controlar qualquer abertura aos EUA.
É difícil avaliar se a crise vai
desencadear um movimento de
protesto mais amplo que possa
abalar mais profundamente a
estrutura de poder, ou se levará
à consolidação total do poder
nas mãos da linha dura.
Mousavi tem sido surpreendentemente ousado em suas
declarações. Até agora ele parece ter se deixado liderar pelas
ruas, que vêm se mobilizando
para protestos mesmo quando
ele divulga um comunicado
adiando uma manifestação.
Parte da motivação dos protestos não é tanto apoio a ele
quanto rejeição a Ahmadinejad, visto por setores da classe
média instruída como culpado
pela destruição das bases da
economia iraniana e da imagem do pais no exterior.
O regime vem trabalhando
arduamente para assegurar
que as manifestações percam
força, à medida que cresce o
medo de violência e retaliação.
O discurso de ontem do líder
supremo, avisando à população
que deve parar com os protestos e dizendo que qualquer distúrbio doméstico atende aos
interesses do inimigo, foi a iniciativa mais dramática para silenciar as ruas.
Custo da repressão
Mas analistas e diplomatas
dizem que, diferentemente dos
distúrbios de 1999, a última crise séria no Irã que envolveu um
levante estudantil, a aplicação
de uma repressão mais dura
hoje carregará um custo muito
mais alto, já que terá que ser
voltada contra muitos segmentos da população, todos os
quais têm parentes nas forças
de segurança.
A posição de Mousavi, dividido entre as reivindicações de
seus partidários e as consequências da repressão ampla,
será crucial. "Mousavi acabará
se posicionando ao lado do regime e decidindo pôr fim a isto,
ou vai seguir seus partidários e
ficar do lado deles? Vai se tornar mais radical e desafiar o regime ainda mais?", pergunta
um diplomata ocidental.
O medo em Teerã é que as
ações do regime transformem
os manifestantes pacíficos em
uma oposição mais radicalizada que queira o fim do próprio
sistema islâmico. Com a sociedade dividida e o regime sob
pressão, o país pode enfrentar
um período de intranquilidade
prolongado. A disputa em torno da eleição pode ser um mau
augúrio para os governos ocidentais que esperam conseguir
frear o programa nuclear iraniano ou pode pelo menos
adiar as intenções americanas
de iniciar um diálogo.
"O regime sofreu um grande
golpe", observa o diplomata
ocidental. "Mas a linha dura
pensa que qualquer concessão
representaria o começo de seu
fim."
(ROULA KHALAF, NAJMEH BOZORGMEHR E ANNA FIFIELD)
Tradução de CLARA ALLAIN
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