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"Garotos vão
morrer", afirma
veterano russo
IGOR GIELOW
COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA
Os EUA só terão chance de
sucesso no emprego de tropas terrestres no Afeganistão se apoiarem as milícias
locais anti-Taleban.
A opinião é de Viacheslav
Krasen, um ex-coronel do
Exército Vermelho que passou dois anos no Afeganistão como comandante de
unidades que combatiam os
mujahedins -nome genérico dado aos ""guerreiros santos", que hoje estão se matando entre si, com Talebans
de um lado e a Aliança do
Norte, do outro.
""Muitos desses garotos
americanos podem morrer", afirmou Krasen, que
não revela a idade nem os
postos onde trabalhou no
Afeganistão. Sócio de uma
indústria de produtos bélicos, ele prefere resguardar
parte de seu passado -só
conta que lutou, foi ferido e
voltou condecorado como
herói a Moscou.
A intervenção soviética no
Afeganistão começou em
1979, sob o pretexto de instalar um regime pró-Moscou
no país. Deu certo por um
tempo, mas o preço pago foi
grande: morreram mais de 1
milhão de afegãos, entre civis e milicianos, e cerca de 15
mil soldados soviéticos.
Além da reprovação internacional, Moscou enfrentou
resistência dos mujahedins
-alimentados com armas
pelos EUA. Osama bin Laden estava entre eles. Em
1989, já na agonia do comunismo, veio a retirada.
Leia sua entrevista, concedida por telefone ontem da
capital russa.
Agência Folha - Há algum
termo de comparação entre a
crise e a guerra dos anos 80?
Viacheslav Krasen - Sim e
não. Sim porque é uma
grande potência enfrentando guerrilheiros determinados. Não porque o país está
desunido.
Agência Folha - O que o sr.
acha do uso de tropas terrestres pelos EUA?
Krasen - Não vai dar certo.
Só existe saída para os EUA
se eles colaborarem com os
rebeldes da Aliança do Norte, como nós colaboramos
[os russos vendem material
bélico para os anti-Taleban
há dez anos".
Se isso não acontecer, muitos garotos americanos vão
morrer. Eles não têm o preparo para lutar contra essa
gente no solo. Uma coisa é
treino, outra é realidade, e
nós soviéticos vimos isso de
perto. Pelo que vimos no Iraque e na Iugoslávia, os americanos erram em suas táticas de ataque.
Agência Folha - Como assim?
Krasen - Para pegar um
guerrilheiro, você tem que
atacar simultaneamente em
várias vilas. Não adianta fazer como os EUA costumam
fazer, que é atacar com tudo
um lugar só. Lá no Afeganistão, se você destrói uma vila,
tem outras duas em volta te
atacando na sequência.
Agência Folha - O sr. acredita em uma solução militar para o conflito?
Krasen - Não. Após apoiar
os rebeldes, é preciso que a
comunidade internacional
ajude a formar um novo governo com um presidente
que unifique todas as facções, inclusive os que hoje
apóiam o Taleban. Só com a
força, e nós da Rússia sabemos, não se ganha nada lá.
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