São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2001

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Sigilo envolve partida de soldados

FOX BUTTERFIELD
DO "THE NEW YORK TIMES", EM CLARKSVILLE (EUA)

Judy Pryor não apareceu para dar sua aula de aeróbica no Clarksville Athletic Club, domingo à noite. Ela se desculpou com os alunos no dia seguinte. Estava se despedindo do marido, membro do 5º Grupo de Forças Especiais, uma das unidades dos Boinas Verdes do Exército norte-americano baseada em Fort Campbell, na fronteira entre o Tennessee e o Kentucky. Ele recebera ordens de partida para operações no Afeganistão.
Depois que os ataques aéreos contra alvos do Taleban no Afeganistão presumivelmente amaciaram as defesas antiaéreas do inimigo, a expectativa dominante é de que unidades de comandos comecem sua busca por Osama bin Laden em breve, e que algumas delas venham de Fort Campbell, mais conhecido como base da 101ª Divisão Aeroterrestre, os "Screaming Eagles" ["Águias Gritadoras"".
Mas ao contrário do deslocamento integral da 101ª Divisão Aeroterrestre realizado durante a Guerra do Golfo, em 1991, com grandes aviões de transporte da Força Aérea carregando milhares de soldados do campo de pouso de Fort Campbell para a região de combate, as unidades de forças especiais estão partindo em silêncio, sem grandes celebrações e da maneira mais sigilosa possível.
O marido de Laura Skelly, capitão no 5º Grupo de Forças Especiais, partiu quase imediatamente depois dos ataques terroristas contra o World Trade Center e o Pentágono, em 11 de setembro, sendo deslocado para algum lugar no Uzbequistão, a ex-república soviética localizada na fronteira norte do Afeganistão, segundo ela. O marido de Lisa Kirkland, sargento especialista Sean Kirkland, do 5º Grupo de Forças Especiais, partiu em 1º de outubro.
Kirkland, cujo marido é um atirador de elite, disse que não sabia onde ele estava. Ele vinha enviando mensagens por e-mail e telefonando para ela todos os dias.
"Isso é meio assustador", diz Lisa Kirkland. "Talvez eles estejam entrando em ação."
O sargento Kirkland estava entusiasmado com a perspectiva de ir para a guerra, diz sua mulher, recepcionista no Conselho de Desenvolvimento Econômico de Clarksville. A cidade, com 104 mil habitantes, fica ao lado do Fort Campbell, e é a que cresce mais rápido no Tennessee. O Exército é a força central da economia local.
"É algo que ele deseja fazer desde os cinco anos de idade, quando vivia em Wyandotte, Michigan, juro", diz Kirkland sobre o marido e a reação dele quando soube que iria para a guerra. Eles têm uma fotografia do sargento Kirkland aos cinco anos de idade, segurando um rifle de brinquedo e usando uniforme. "Agora ele estava realmente ansioso."
A companhia do sargento Kirkland treinou no Uzbequistão durante quatro meses, a partir do segundo trimestre do ano passado, de acordo com a mulher dele.
Quanto aos seus sentimentos, Lisa Kirkland diz estar "dividida". "Estou feliz por ele poder fazer aquilo para o que foi treinado e se esforçou tanto por fazer, mas não se trata de uma brincadeira".
A mulher que trabalha na Universidade Austin Peay, cujo marido é primeiro-sargento nas Forças Especiais, diz que ela e o marido, ambos de Springdale, Arkansas, assistiram à série ""Band of Brothers", exibida pelo canal HBO, sobre as realizações da 101ª Divisão Aeroterrestre no teatro europeu da Segunda Guerra Mundial. ""Ele adora, e assistir àquilo, ver todas as táticas, foi algo que o ajudou."


Tradução de Paulo Migliaccio


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