São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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EUA

Desaquecimento da economia e prejuízos com o 11 de setembro tornam difícil cobrir déficit de US$ 5 bi, afirma Bloomberg

Nova York pode falir, adverte o prefeito

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Nova York, a cidade mais rica e poderosa do país mais rico e poderoso do mundo, pode quebrar. Se não conseguir arrecadar ou economizar os US$ 5 bilhões que devem compor o déficit do orçamento de 2003, vai dar o primeiro passo em direção à falência.
Foi isso que disse com todas as letras o prefeito Michael Bloomberg, em seu mais recente programa semanal de rádio, o que fez com que os nova-iorquinos mais antigos se lembrassem, não sem um arrepio na espinha, do clima no final dos anos 70.
Foi então que Nova York literalmente pediu concordata, levando as maiores empresas a fugir na década seguinte.
Como consequência, os anos 80 viram o desemprego explodir na cidade e a taxa de criminalidade e o índice de violência subirem aos céus.
"That 70s Show!", fez trocadilho a manchete do semanário "The New York Observer", usando o nome do seriado cômico de TV para se referir ao estado financeiro atual. Foi a deixa para que a opinião pública passasse a procurar o(s) culpado(s).
A explicação oficial de Bloomberg relaciona os dois suspeitos de sempre: o desaquecimento da economia, que já vinha fazendo estragos desde o começo de 2001, e o ataque de 11 de setembro, que minou ainda mais o turismo, espantou empresas para a vizinha Nova Jersey e pode ter custado até US$ 3 bilhões à cidade.
Na semana passada, pela primeira vez, o prefeito disse que mesmo as contas deste ano podem terminar no vermelho. "Dependendo do que acontecer até dezembro, poderemos ter um pequeno déficit já", disse ele. Trabalha-se com um valor de US$ 350 milhões negativos.
O que o prefeito não fala, mas seus auxiliares vem deixando escapar para a imprensa, é que dez meses de governo, que é o tempo em que Bloomberg está no cargo, não poderiam ter produzido nem o déficit deste ano nem o de 2003.
Assim, embora ninguém ainda tenha tido coragem de dizer com todas as letras, o culpado começa a ganhar nome e sobrenome: Rudolph Giuliani. O ex-prefeito, que comandou a cidade por dois mandatos seguidos até dezembro passado e virou herói por sua atuação depois de 11 de setembro, teria aberto demais a mão.
A torneira de dólares de sua gestão estaria principalmente em dois setores: foram concedidos mais benefícios fiscais do que recomenda a prudência e a folha de pagamento municipal inchou, principalmente na polícia, que bateu um recorde de 41 mil soldados uniformizados.
O problema agora, diz Bloomberg, do mesmo partido (Republicano) de Giuliani, é tentar consertar o futuro, e não ficar olhando para o passado. Corte de despesa é um dos caminhos, afirma, mas só isso não resolve.
Segundo os cálculos de Bloomberg, o prefeito tem controle direto sobre apenas US$ 14 bilhões dos US$ 42 bilhões anuais que compõe o orçamento. "Há muito pouco espaço de manobra aí para cortar US$ 5 bilhões", disse ele.
Sobra apenas uma alternativa efetiva: aumentar impostos. De novo, altos funcionários da administração Bloomberg dão sinais de que o prefeito pensa em elevar em até 25% o imposto de propriedade, equivalente ao IPTU.
Para fazer isso, o prefeito teria de mandar proposta à Câmara e aguentar a reação negativa que certamente viria da população, reação nada bem-vinda em ano de voto, quando outro companheiro de partido, o governador George Pataki, luta pela reeleição.
Em entrevista coletiva, indagado sobre se iria elevar impostos, Bloomberg foi enigmático: "Você não pode cortar US$ 5 bilhões apenas do total que a prefeitura controla. Próxima pergunta".



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