São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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Número de moradores de rua bate recorde

DE NOVA YORK

Faça um teste: tente atravessar dois quarteirões de Manhattan a pé ou tomar um metrô sem encontrar um morador de rua que lhe peça esmola, fale (sozinho) a seu lado ou simplesmente marque presença na paisagem deitado no chão sobre caixas de papelões e um pedaço de plástico aberto à guisa de telhado.
Outro fantasma das décadas de 70 e 80 ameaça a rica Nova York do século 21: a volta dos "homeless", termo em inglês que significa literalmente "sem lar" e que substituiu o politicamente incorreto "mendigo".
Não há cálculos oficiais de quantas pessoas moram nas ruas de Nova York, mas um número divulgado na semana passada serviu para colocar o problema em perspectiva. Segundo a prefeitura, os abrigos públicos oficiais receberam 37 mil sem-teto diariamente no mês passado, a maioria mulheres e crianças.
É o maior número desde o recorde de 1987, quando a cidade abrigou 29 mil pessoas em média por dia. E pode ser ainda pior, segundo as ONGs da área, que afirmam que voluntários e samaritanos que distribuem sopas para a população carente têm visto filas como não viam desde os anos 80.
"O número de moradores de rua é o mesmo de sempre", disse o prefeito Michael Bloomberg. "Não achamos que o problema seja pior do que no passado, mas estamos nos concentrando nele mais do que nunca e vamos continuar fazendo isso."
O prefeito não comenta, mas o fato é que a chamada "indústria dos sem-teto" movimenta um bom dinheiro e atrai cada vez mais comerciantes interessados em lucrar com o problema.
É que, no auge da crise dos anos 80, entidades de direitos humanos pressionaram para que fossem aprovadas leis municipais que lidassem com a situação. Uma delas, a mais polêmica, obriga a cidade a pagar hotel para todos as pessoas que não caibam nos abrigos oficiais.
É aí que entra a oportunidade: por lei, a diária a ser paga varia entre US$ 90 e US$ 95, a mesma de muito hotel frequentado por turista brasileiro e metade da taxa média da cidade. Assim, nos últimos anos houve um verdadeiro boom de hotéis de mendigos, geralmente ex-residências transformadas em pensões, alguns em áreas nobres de Manhattan. (SD)


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