São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2004

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MISSÃO NO CARIBE

Relatórios da inteligência militar prevêem aumento de violência contra as tropas brasileiras em Porto Príncipe

Brasil envia mediador político ao Haiti

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A MARATAÍZES (ES)

Preocupado com a instabilidade no Haiti -relatórios militares recentes falam em risco crescente de brasileiros serem vítimas de emboscada no país caribenho-, o governo Lula vai enviar nesta semana um emissário ao país.
Convidado pelo chanceler Celso Amorim, Ricardo Seitenfus, 56, especialista em relações internacionais, deve chegar amanhã a Porto Príncipe, onde ficará inicialmente por três semanas.
Segundo o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), Lula também decidiu enviar Marco Aurélio Garcia. "O próprio presidente Lula considerou importante designar uma pessoa, no caso o assessor especial Marco Aurélio Garcia, para ir ao Haiti dialogar com todas as forças, inclusive com o embaixador Juan Gabriel Valdés, em um período próximo", disse o senador. As conversas de Garcia abordarão o reforço das tropas da ONU no país. A viagem do assessor deve ser realizada no final da semana que vem.
Seitenfus fará parte de uma equipe de três pessoas ligada ao chileno Valdés, chefe diplomático da Minustah (Missão da ONU de Estabilização no Haiti). O Brasil exerce a chefia militar e mantém 1.200 homens no país.
Autor do livro "Haiti: A Soberania dos Ditadores", Seitenfus é doutor em relações internacionais pela Universidade de Genebra e diretor da Faculdade de Direito de Santa Maria.
Segundo ele, que defende a participação do Brasil na Minustah, seu papel será fazer uma avaliação política e conversar com "todos os atores" do país.
Relatórios feitos recentemente e enviados ao Brasil pelo serviço de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais, que integra a missão de paz no Haiti, indicam que, nos próximos seis meses, aumentará o risco de as tropas brasileiras serem vítimas de emboscadas na região de Porto Príncipe.
Essa análise tem origem no acirramento dos confrontos entre as tropas do governo, as forças rebeldes e os grupos de ex-militares. Ao menos seis pessoas ficaram feridas ontem em Porto Príncipe durante confronto da polícia haitiana e tropas da ONU com supostos apoiadores do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide.
"A partir dos relatórios fazemos análises das ações que estão se desenhando no Haiti. Uma das conclusões é a de que eles já estão começando a fazer emboscadas, disse o capitão-de-mar-e-guerra Oswaldo Queiroz de Castro, 50, comandante do segundo contingente de 246 fuzileiros que, a partir de dezembro, substituirão os colegas que integram a missão há quase cinco meses.
Embora diga que as tropas brasileiras ainda não são o alvo preferencial dos rebeldes, Queiroz reconhece que os confrontos dos quais os fuzileiros e militares do Exército têm participado estão se tornando mais constantes.
O serviço de inteligência da Marinha tem produzido relatórios diários sobre a situação política no Haiti, transmitidos on-line a partir da base dos fuzileiros em Porto Príncipe. Contatos por rádios entre o Haiti, o comando da Marinha, em Brasília, e a Força de Fuzileiros da Esquadra, em Duque de Caxias (região metropolitana do Estado do Rio), também estão ocorrendo diariamente.
As informações são passadas por Brasília e Duque de Caxias ao acampamento montado pela Marinha na praia de Itaoca (município de Itapemirim, litoral sul do Espírito Santo). Desde o último dia 13, o Corpo de Fuzileiros realiza na região de Marataízes (cidade a 120 km de Vitória) simulações de atividades com que os fuzileiros irão se defrontar no Haiti.
Os EUA suspenderam ontem um embargo de 13 anos ao comércio de armas com o Haiti, de acordo com autoridades do país caribenho. Em setembro, o premiê interino, Gerard Latortue, havia criticado o embargo, afirmando que ele minava os esforços para restabelecer a estabilidade.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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