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VENEZUELA
Oposicionistas querem maior envolvimento de Grupo de Amigos e Lula
Oposição entrega assinaturas para referendo anti-Chávez
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Sob acusações de "megafraude"
pelo presidente Hugo Chávez, a
oposição venezuelana entregou
ontem ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) as assinaturas coletadas há cerca de três semanas para
convocar um referendo sobre sua
permanência no poder.
A oposição afirma ter conseguido coletar 3.467.050 assinaturas,
cerca de 1 milhão a mais do que o
número exigido por lei (20% do
eleitorado). O CNE tem até o início de fevereiro para analisar as
assinaturas.
Os chavistas também prometem entregar hoje ao CNE uma série de irregularidades supostamente realizadas pela oposição,
que atingiriam cerca de 30% das
assinaturas.
Nos últimos dias, os governistas
montaram 830 centros em praças
públicas para recolher denúncias
de fraude contra a oposição.
O ano de 2004 promete aumentar ainda mais tensão política na
Venezuela. Além dos possíveis referendos sobre a permanência de
Chávez e de 64 dos 169 deputados
venezuelanos, também estão
marcadas eleições regionais, em
junho e em julho, para governadores, prefeitos e vereadores.
EUA
Otto Reich, embaixador especial do presidente dos EUA, George W. Bush, disse ontem que a região "não está em boa situação" e
que a Venezuela tem "a situação
política mais séria". Para Reich,
"se as duas partes não se acalmarem, pode haver problemas".
Também ontem, o porta-voz do
Departamento de Estado americano Adam Ereli disse que o processo de coleta de assinaturas foi
"pacífico e ordenado".
Os dois países vivem uma relação diplomática estremecida. Governistas já acusaram os EUA de
ingerência em assuntos internos
do país, inclusive na tentativa de
golpe promovida pela oposição
em abril de 2002.
Amigos da Venezuela
Afirmando temer que o presidente Chávez promova um autogolpe para impedir o referendo, a
oposição planeja pedir formalmente em janeiro que o Grupo de
Amigos da Venezuela e, em especial, o governo brasileiro acompanhem mais de perto o processo
político venezuelano.
Criado no início do ano por iniciativa do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, o Grupo de Amigos
da Venezuela (Brasil, EUA, México, Chile, Portugal e Espanha)
participou ativamente do acordo
celebrado em maio entre a oposição e o governo. Foi esse pacto
que permitiu a realização das coletas de assinaturas para o referendo contra Chávez.
Durante a coleta, no entanto, o
Grupo de Amigos não enviou representantes. Havia observadores
internacionais do Centro Carter
(EUA) e da OEA (Organização
dos Estados Americanos).
"Lula tem de evitar um "fujimoraço" de Chávez na Venezuela",
disse à Folha o deputado Timoteo
Zambrano, em alusão ao ex-presidente peruano Alberto Fujimori
(1990-2000), que, em 1992, promoveu um autogolpe para se
manter no poder.
A declaração representa uma
inversão da estratégia da oposição. Há um ano, o próprio Zambrano acusou o então presidente
eleito, Lula, de ser "fura-greves"
por ter defendido o envio de gasolina à Venezuela durante a greve
geral que paralisou o país.
Para o ex-embaixador venezuelano no Brasil Vladimir Villegas,
que no mês passado se tornou
presidente da TV estatal VTV, a
presença do Grupo de Amigos
não é necessária. "A Venezuela
tem estrutura para realizar esse
processo. O que a oposição busca
são mecanismos de pressão externa", disse à Folha.
O Itamaraty considera que o
Grupo de Amigos seja subordinado à política da OEA e deve seguir
sua orientação. O Brasil também
descarta participação no processo
venezuelano sem o envolvimento
dos demais países.
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