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São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2003

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VENEZUELA

Oposicionistas querem maior envolvimento de Grupo de Amigos e Lula

Oposição entrega assinaturas para referendo anti-Chávez

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Sob acusações de "megafraude" pelo presidente Hugo Chávez, a oposição venezuelana entregou ontem ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) as assinaturas coletadas há cerca de três semanas para convocar um referendo sobre sua permanência no poder.
A oposição afirma ter conseguido coletar 3.467.050 assinaturas, cerca de 1 milhão a mais do que o número exigido por lei (20% do eleitorado). O CNE tem até o início de fevereiro para analisar as assinaturas.
Os chavistas também prometem entregar hoje ao CNE uma série de irregularidades supostamente realizadas pela oposição, que atingiriam cerca de 30% das assinaturas.
Nos últimos dias, os governistas montaram 830 centros em praças públicas para recolher denúncias de fraude contra a oposição.
O ano de 2004 promete aumentar ainda mais tensão política na Venezuela. Além dos possíveis referendos sobre a permanência de Chávez e de 64 dos 169 deputados venezuelanos, também estão marcadas eleições regionais, em junho e em julho, para governadores, prefeitos e vereadores.

EUA
Otto Reich, embaixador especial do presidente dos EUA, George W. Bush, disse ontem que a região "não está em boa situação" e que a Venezuela tem "a situação política mais séria". Para Reich, "se as duas partes não se acalmarem, pode haver problemas".
Também ontem, o porta-voz do Departamento de Estado americano Adam Ereli disse que o processo de coleta de assinaturas foi "pacífico e ordenado".
Os dois países vivem uma relação diplomática estremecida. Governistas já acusaram os EUA de ingerência em assuntos internos do país, inclusive na tentativa de golpe promovida pela oposição em abril de 2002.

Amigos da Venezuela
Afirmando temer que o presidente Chávez promova um autogolpe para impedir o referendo, a oposição planeja pedir formalmente em janeiro que o Grupo de Amigos da Venezuela e, em especial, o governo brasileiro acompanhem mais de perto o processo político venezuelano.
Criado no início do ano por iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Grupo de Amigos da Venezuela (Brasil, EUA, México, Chile, Portugal e Espanha) participou ativamente do acordo celebrado em maio entre a oposição e o governo. Foi esse pacto que permitiu a realização das coletas de assinaturas para o referendo contra Chávez.
Durante a coleta, no entanto, o Grupo de Amigos não enviou representantes. Havia observadores internacionais do Centro Carter (EUA) e da OEA (Organização dos Estados Americanos).
"Lula tem de evitar um "fujimoraço" de Chávez na Venezuela", disse à Folha o deputado Timoteo Zambrano, em alusão ao ex-presidente peruano Alberto Fujimori (1990-2000), que, em 1992, promoveu um autogolpe para se manter no poder.
A declaração representa uma inversão da estratégia da oposição. Há um ano, o próprio Zambrano acusou o então presidente eleito, Lula, de ser "fura-greves" por ter defendido o envio de gasolina à Venezuela durante a greve geral que paralisou o país.
Para o ex-embaixador venezuelano no Brasil Vladimir Villegas, que no mês passado se tornou presidente da TV estatal VTV, a presença do Grupo de Amigos não é necessária. "A Venezuela tem estrutura para realizar esse processo. O que a oposição busca são mecanismos de pressão externa", disse à Folha.
O Itamaraty considera que o Grupo de Amigos seja subordinado à política da OEA e deve seguir sua orientação. O Brasil também descarta participação no processo venezuelano sem o envolvimento dos demais países.


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