São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2008

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Morre aos 95 Garganta Profunda, o algoz de Nixon

Ex-número 2 do FBI foi a fonte do repórter Bob Woodward no escândalo de Watergate

Mark Felt, que revelou sua identidade apenas em 2005, forneceu informações de bastidores sobre abuso de poderes pela Casa Branca

John G. Mabanglo-31.mai.05/Efe
Mark Felt, que surpreendeu ao revelar ser o Garganta Profunda

DO "NEW YORK TIMES"

William Mark Felt, que era o número 2 do FBI quando ajudou a derrubar o presidente Richard Nixon ao resistir ao acobertamento de Watergate e tornar-se Garganta Profunda, a mais famosa fonte anônima na história dos EUA, morreu anteontem. Tinha 95 anos e vivia em Santa Rosa, Califórnia.
Em 2005, Felt revelou que foi ele quem deu a Bob Woodward, do "Washington Post", informações cruciais sobre o caso Watergate, no início dos anos 70. Sua decisão de revelar sua identidade, em artigo na "Vanity Fair", pôs fim a mais de 30 anos de suspense -e surpreendeu até mesmo a Woodward e seu parceiro na cobertura do caso Watergate, Carl Bernstein, que respeitavam a promessa de não revelar quem era a fonte até sua morte.
Felt exerceu papel duplo na queda de Nixon. Como informante secreto, manteve o assunto vivo na imprensa. Como diretor associado do Birô Federal de Investigações, onde começou a trabalhar em 1942, combateu os esforços do presidente para obstruir a investigação feita pelo FBI do arrombamento do edifício Watergate.
Sem ele, talvez não tivesse havido Watergate -o escândalo de abuso do poder presidenciais por Nixon, incluindo grampos de telefones, furtos e lavagem de dinheiro.
Foi no início da década de 70, em uma visita à Casa Branca, que Felt conheceu por acaso um tenente da Marinha que entregava mensagens sigilosas a funcionários do Conselho Nacional de Segurança. O jovem era Bob Woodward, que, ambicioso, pediu conselhos de carreira a Felt e deixou a Casa Branca com seu telefone.
Quando Edgard Hoover morreu, e seu braço direito, Clyde Tolson, se aposentou, Felt imaginou que o caminho rumo ao poder estivesse livre. Mas Nixon o preteriu, e, no verão americano de 1972, Felt fervia de ambição frustrada.
Algumas semanas depois, após o arrombamento no edifício Watergate, Woodward, então jornalista novato, bateu à sua porta em busca de informações sobre o caso. Felt decidiu cooperar e criou um sistema de técnicas de espionagem para manter encontros secretos com Woodward em um estacionamento subterrâneo. O editor Howard Simons, do "Post", criou seu famoso pseudônimo, inspirado no filme pornográfico "Garganta Profunda", em voga na época.
Em junho de 1973, Felt foi forçado a deixar o FBI. Pouco depois, começou a ser investigado por suspeita de vazar informações não ao "Washington Post", mas ao "New York Times". Ele passou boa parte do meio da década de 70 depondo em segredo ao Congresso sobre abusos de poder no FBI.
Milhões de pessoas o conheceram como a figura misteriosa que, no filme "Todos os Homens do Presidente" (1976), dá a Robert Redford (Woodward) a famosa pista: "Siga o dinheiro". Felt nunca disse isso. É parte do mito em torno do Garganta Profunda.


Tradução de CLARA ALLAIN


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