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Fiel da balança chileno vê vitória de suas ideias
Deputado Marco Enríquez-Ominami, 36, competiu como candidato independente e teve 20,1% dos votos para presidente
Cortejado por governo e oposição, o dissidente se mantém neutro no segundo turno e diz que "por agora" não estará na Presidência
Eliseo Fernandez -13.dez.09/Reuters
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Aos 36, Marco Enríquez-Ominami ficou em 3º no pleito chileno
THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo não tendo passado ao
segundo turno, Marco Enríquez-Ominami saiu como vencedor da eleição presidencial
do último domingo no Chile.
Sem base partidária e explorando o desgaste da política e
dos políticos em geral, o deputado de 36 anos entrou como
independente -juntou 70 mil
assinaturas para competir- e
alcançou o terceiro lugar, com
20,6% dos votos.
Seu eleitorado é agora o principal alvo do opositor Sebastián
Piñera e do ex-presidente e
candidato governista Eduardo
Frei, que se enfrentam no segundo turno do próximo dia 17
de janeiro.
Egresso da Concertação, a
coalizão de centro-esquerda
que governa o país há 20 anos,
Ominami decidiu se manter
neutro no segundo turno. Em
entrevista à Folha, por telefone, deixa antever seu futuro
político ao dizer que vai criar
um novo partido e que "por
agora" não estará no Palácio de
La Moneda, sede do governo.
FOLHA - Por que o sr. decidiu não
apoiar nenhum candidato no segundo turno? É sua decisão final?
MARCO ENRÍQUEZ-OMINAMI - Ambos são candidatos muito mais
do passado do que do presente,
mais de ontem do que do futuro. Um [Piñera] é um retrocesso, e outro [Frei] não é nenhum
avanço. Não é minha decisão final, porque vou votar, mas hoje
nenhum dos dois representa
uma mudança.
FOLHA - Mas o sr. também disse
que poderia entrar em acordo com
Frei se os presidentes dos partidos
da Concertação renunciarem aos
cargos. Essa possibilidade continua?
OMINAMI - É ver para crer. Sou
muito cético a respeito da capacidade que esses líderes do passado teriam de avançar com generosidade rumo a um país
mais justo. São esses mesmos
líderes que demonstraram níveis de fadiga inquietantes.
Convidei todos a uma reflexão
no segundo turno em torno da
superação da corrupção programática, que é fazer campanha com promessas.
FOLHA - Piñera e Frei começam a
acolher alguns de seus projetos. Como vê esses movimentos?
OMINAMI - Eu dei liberdade de
ação a todos os meus colaboradores e a meu eleitorado. Os
melhores juízes de seus votos
são os chilenos. Não cabe a mim
ditar qual é o voto. A política do
passado era essa. Quero um
país em que cada voto seja definido por convicções, com políticos invadidos por sonhos, e
não por cálculos patrimoniais e
pessoais. E se acreditam em
meu projeto, é ver para crer.
Que o coloquem em prática já.
FOLHA - Como pretende continuar
influente na política chilena sem representação no Congresso? Vai fundar um novo partido?
OMINAMI - [Farei] tudo o que
sirva para articular propostas
programáticas de uma esquerda progressista, do século 21.
Farei tudo isso e muito mais.
Participo do debate nacional
desde muito antes de ter um
cargo. Cargos não são garantia
de protagonismo. Creio na necessidade de políticos que, mais
que cargos, construam forças
de mudança, e há conservadores de direita e de esquerda.
FOLHA - Mas nenhum candidato de
seu grupo foi eleito ao Congresso.
OMINAMI - Nunca havíamos
competido em listas [como independentes]. Não tivemos
uma estratégia parlamentar.
Mas muitos candidatos que
apoiamos e que não estavam
em nossas listas foram eleitos.
FOLHA - Acredita, como diz Frei,
que existem duas visões de país em
confronto no segundo turno?
OMINAMI - Hoje há dois candidatos conservadores, do passado, com diferença apenas nas
bases de apoio.
FOLHA - A eleição marcou o fim da
Concertação como foi conhecida?
OMINAMI - A Concertação é um
processo sequestrado pela lógica do passado. Há olhares de esquerda e de direita em muitos
âmbitos, mas em outros são definições insuficientes.
FOLHA - E quais foram os erros de
sua campanha?
OMINAMI - Não tivemos capacidade de reunir os recursos necessários. Faltaram muitos recursos. Tínhamos muito menos publicidade do que os outros, e a publicidade é um fator
muito relevante quando as candidaturas são competitivas.
Efetivamente não ganhamos
por agora, e toda a campanha
nesses dias girou exclusivamente em torno da nossa candidatura. Para ser franco, por
agora não ganhamos, mas nossas ideias triunfaram de longe.
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