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População de Gaza questiona ataques contra alvos civis
DO "NEW YORK TIMES"
Os moradores de Gaza estão
atordoados com uma pergunta:
por que Israel bombardeou e
atacou instituições civis?
Em rodas de almoço e mesas
de café, as pessoas enumeram
os alvos: o Ministério da Justiça, o Parlamento, a delegacia
central de polícia, o quartel do
corpo de bombeiros, a Universidade Islâmica de Gaza.
Israel argumenta que essas
instituições levantam fundos e
fornecem funcionários ao Hamas, que considera uma organização terrorista, e por isso se
tornam alvos legítimos.
Mas prevalece em Gaza a impressão de que os ataques, que
deixaram enormes crateras nas
ruas e montanhas de escombros, visava a sociedade.
"A guerra não foi contra o
Hamas. Foi contra mim, minha
loja e cidade", diz o comerciante Rahmi el Kheldi. "O objetivo
era semear o caos para desorganizar a sociedade", afirma.
Muhammed Baroud, estudante de medicina na universidade, encara o bombardeio do
laboratório de ciência como um
ataque contra seu futuro. A faculdade é uma das mais conceituadas do Oriente Médio e seus
diplomas são reconhecidos em
Israel.
A questão da legitimidade
dos alvos é complexa.
Com base em relatórios de
inteligência, Israel diz que os
laboratórios eram usados como
centro de desenvolvimento dos
mísseis artesanais Qassam disparados pelo Hamas e que muitos funcionários da universidade estavam envolvidos.
Pessoas ouvidas na universidade negam as acusações e dizem que a instituição é um condensado da sociedade de Gaza,
com gente contrária e favorável
ao Hamas. Fahkr Abu Awad,
professor de química, ressalta
que apoiar o Hamas não significa participar de suas atividades
militares.
A discussão remete à própria
natureza do grupo islâmico.
Moradores podem manter vários tipos de relação com o Hamas, da simpatia à vontade de
carregar cinturão-bomba.
Mas algumas profissões civis
acabam ficando numa espécie
de zona cinzenta. Israel considera os policiais de Gaza, agentes uniformizados de um Estado comandado pelo Hamas, como alvo legítimo.
Discorda Abu Aymad, veterano policial de 52 anos que trabalha em Gaza desde 1994,
muito antes de o Hamas assumir o território.
"Somos uma instituição civil
que serve ao povo, não aos partidos", diz o agente, apontando
para o cigarro na boca como
prova de que não é radical.
Kheldi, o comerciante, vê por
trás da ofensiva a vontade de
atacar a identidade palestina e
afirma que, em vez de enfraquecer o Hamas, tornará a população mais defensiva.
"Hoje quando vejo um foguete sendo disparado de Gaza,
torço para que atinja um ônibus. Não porque eu queira ver
crianças mortas, mas porque os
israelenses mataram tantas por
aqui."
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