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"Tudo piorou"
após a guerra, diz
chefe de ONG
ESPECIAL PARA A FOLHA
A presença militar dos EUA
no Iraque incentiva a atuação
de grupos extremistas islâmicos e dificulta a implementação
de democracia e de direitos humanos no Oriente Médio.
A opinião é de Hassan Barghouti, 52, secretário-geral da
Federação para o Apoio à Democracia em Países Árabes.
Leia trechos de entrevista por
telefone, de Ramallah.
(PDF)
Folha - Como os árabes vêem a
situação atual do Iraque?
Hassan Barghouti -Libaneses,
sírios, jordanianos, palestinos e
marroquinos, entre outros,
acreditam que o que acontece
no Iraque tenha a ver com toda
a região, é o prenúncio de uma
situação catastrófica.
Os árabes vêem uma relação
entre o que se passa no Iraque e
na Palestina e acreditam que a
ocupação incentive grupos extremistas islâmicos.
Folha - Um ano depois da Guerra do Iraque, o que mudou para
os árabes?
Barghouti -Creio que tudo
piorou, e muito. A questão palestina faz parte agora da nova
política americana para a região e está inserida na idéia de
um "Grande Oriente Médio".
Evidentemente, isso dificultou muito a possibilidade de
uma solução para esse problema. Agora, não só os palestinos
têm de cumprir as exigências
americanas e israelenses para
que haja uma desocupação militar de suas terras, como também os outros árabes precisam
se "comportar bem" para que
isso seja possível algum dia.
Os EUA e Israel querem que a
questão palestina seja parte da
reformulação de todo o Oriente Médio. Por isso, não há nenhum interesse neste momento em implementar um plano
de paz. Se os EUA realmente
quisessem uma solução para
todos nesta região, precisariam
primeiro achar uma solução
justa para a questão palestina.
Folha - Os dirigentes árabes
estão interessados em resolver a
questão palestina?
Barghouti -Sabemos que eles
têm outros interesses, mas não
podem ignorar eternamente o
anseio das populações.
Folha - Qual sua opinião sobre
a idéia de um "Grande Oriente
Médio"?
Barghouti -Entendemos que
os países árabes enfrentam um
grande desafio, pois precisam
urgentemente de democracia e
de direitos humanos. Mas a
questão é: será que os EUA
querem realmente mudanças
de verdade? Porque, se a resposta for negativa, isso só deslegitima os governos árabes. E
há muito desconfiança sobre
Washington no Oriente Médio.
Folha - Mas a posição dos governantes é diferente...
Barghouti -Sim, a população
quer uma nova ordem, mas a
posição dos governantes é bem
diferente. Querem continuar
onde estão, e muito tempo...
Creio que os regimes políticos árabes incentivem os grupos extremistas em seus países
na medida em que não oferecem as soluções necessárias
que a população exige.
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