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CONVIVÊNCIA PACÍFICA
Presidente Thabo Mbeki conquista empresários africâneres
Empresários brancos elogiam o governo da África do Sul
RACHEL L. SWARNS
do "The New York Times"
Durante décadas Neil van
Heerden trabalhou como diplomata do apartheid (o regime de
segregação racial da África do
Sul). Ele é um africâner orgulhoso, que fala de forma incisiva
sobre a opressão sofrida pela
minoria branca após ela finalmente ter entregue o poder a
um governo negro, há seis anos.
Mas ele também é um homem
prático. Há dois meses, assinou
uma declaração, com outros 30
empresários africâneres, elogiando o presidente Thabo
Mbeki por sua "visão e liderança", ganhando as primeiras páginas dos jornais do país.
O inesperado tapinha nas costas do sucessor de Nelson Mandela é sinal de uma das mais surpreendentes mudanças no cenário econômico sul-africano
desde o fim do apartheid: a crescente segurança e prosperidade
dos africâneres ricos.
Foram os africâneres, descendentes de colonos holandeses,
alemães e franceses do século
17, que inventaram o brutal sistema de segregação racial.
Mas, quando o poder finalmente mudou de mãos, muitos
africâneres decidiram esperar
para ver. Após mais de 300 anos
na África do Sul, a maioria não
tinha para onde ir. Já um grande
número de descendentes dos
colonizadores britânicos -que
eram menos numerosos que os
africâneres, mas controlavam
grande parte da economia-
partiu, permitindo que os africâneres preenchessem o espaço
deixado por eles.
Entre 1996 e 1999, os empresários africâneres viram sua parcela na Bolsa de Johannesburgo
crescer de 24% para 36%, controlando empresas deixadas pelos brancos que partiram e dominando os setores de tecnologia e eletrônicos.
E muitos africâneres, que antes temiam um governo negro,
agora acreditam que seu futuro
econômico irá melhorar com
Mbeki. Ele está reduzindo o déficit orçamentário e os impostos
e prometeu liberalizar a rígida
legislação trabalhista e acelerar
as privatizações.
A inflação, que estava em
12,5% ao ano em 1994, caiu para
5,2% em 1999. E a economia,
que cresceu apenas 1% no ano
passado, deve crescer 6% ao ano
nos próximos dois anos.
"O que me impressionou é a
forma decidida com que Mbeki
busca seus objetivos econômicos", diz Paul Kruger, presidente da Sasol, a maior empresa de
produtos químicos do país. "Eu
acho que deve-se dar crédito
quando ele é merecido. Isso não
quer dizer que vá votar por esse
governo", diz Kruger, que foi
por muito tempo um membro
orgulhoso do Partido Nacional,
o partido africâner que institucionalizou o apartheid.
"Mas o governo está no caminho certo, e estou otimista em
relação ao futuro. (Ao assinar a
declaração pró-Mbeki) eu quis
difundir a mensagem de otimismo, principalmente ao povo
africâner."
Para o governo, foi um momento de doce vingança, uma
oportunidade de mostrar que
estavam errados aqueles que
presumiram que Mbeki perseguiria os brancos.
Ele pode não ser Mandela, o
grande conciliador. Mas seus
simpatizantes dizem que ele é
um líder realizador, que conquista os outros com políticas
práticas e eficientes.
E enquanto Mbeki não precisa
dos africâneres para vencer eleições -eles são apenas cerca de
7% da população-, o apoio de
seus líderes empresariais pode
ajudá-lo a conseguir maior credibilidade no exterior num momento em que seu governo está
buscando ativamente investimentos externos.
Mas alguns africâneres acusam ricos empresários como
Kruger de estarem simplesmente tentando obter favores do governo negro.
Esses homens milionários, dizem os críticos, perderam contato com os brancos "comuns",
que desconfiam de um governo
que promove, de forma agressiva, a ação afirmativa (imposição
de quotas de trabalhadores negros nas empresas), mas tem dificuldades de combater a criminalidade.
Uma pesquisa de novembro
apontou que 11% dos brancos
estavam satisfeitos com o governo federal, contra 6% um ano
antes, mas ainda longe de ser
um endosso ao governo.
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