São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2000


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CONVIVÊNCIA PACÍFICA
Presidente Thabo Mbeki conquista empresários africâneres
Empresários brancos elogiam o governo da África do Sul

RACHEL L. SWARNS
do "The New York Times"

Durante décadas Neil van Heerden trabalhou como diplomata do apartheid (o regime de segregação racial da África do Sul). Ele é um africâner orgulhoso, que fala de forma incisiva sobre a opressão sofrida pela minoria branca após ela finalmente ter entregue o poder a um governo negro, há seis anos.
Mas ele também é um homem prático. Há dois meses, assinou uma declaração, com outros 30 empresários africâneres, elogiando o presidente Thabo Mbeki por sua "visão e liderança", ganhando as primeiras páginas dos jornais do país.
O inesperado tapinha nas costas do sucessor de Nelson Mandela é sinal de uma das mais surpreendentes mudanças no cenário econômico sul-africano desde o fim do apartheid: a crescente segurança e prosperidade dos africâneres ricos.
Foram os africâneres, descendentes de colonos holandeses, alemães e franceses do século 17, que inventaram o brutal sistema de segregação racial.
Mas, quando o poder finalmente mudou de mãos, muitos africâneres decidiram esperar para ver. Após mais de 300 anos na África do Sul, a maioria não tinha para onde ir. Já um grande número de descendentes dos colonizadores britânicos -que eram menos numerosos que os africâneres, mas controlavam grande parte da economia- partiu, permitindo que os africâneres preenchessem o espaço deixado por eles.
Entre 1996 e 1999, os empresários africâneres viram sua parcela na Bolsa de Johannesburgo crescer de 24% para 36%, controlando empresas deixadas pelos brancos que partiram e dominando os setores de tecnologia e eletrônicos.
E muitos africâneres, que antes temiam um governo negro, agora acreditam que seu futuro econômico irá melhorar com Mbeki. Ele está reduzindo o déficit orçamentário e os impostos e prometeu liberalizar a rígida legislação trabalhista e acelerar as privatizações.
A inflação, que estava em 12,5% ao ano em 1994, caiu para 5,2% em 1999. E a economia, que cresceu apenas 1% no ano passado, deve crescer 6% ao ano nos próximos dois anos.
"O que me impressionou é a forma decidida com que Mbeki busca seus objetivos econômicos", diz Paul Kruger, presidente da Sasol, a maior empresa de produtos químicos do país. "Eu acho que deve-se dar crédito quando ele é merecido. Isso não quer dizer que vá votar por esse governo", diz Kruger, que foi por muito tempo um membro orgulhoso do Partido Nacional, o partido africâner que institucionalizou o apartheid.
"Mas o governo está no caminho certo, e estou otimista em relação ao futuro. (Ao assinar a declaração pró-Mbeki) eu quis difundir a mensagem de otimismo, principalmente ao povo africâner."
Para o governo, foi um momento de doce vingança, uma oportunidade de mostrar que estavam errados aqueles que presumiram que Mbeki perseguiria os brancos.
Ele pode não ser Mandela, o grande conciliador. Mas seus simpatizantes dizem que ele é um líder realizador, que conquista os outros com políticas práticas e eficientes.
E enquanto Mbeki não precisa dos africâneres para vencer eleições -eles são apenas cerca de 7% da população-, o apoio de seus líderes empresariais pode ajudá-lo a conseguir maior credibilidade no exterior num momento em que seu governo está buscando ativamente investimentos externos.
Mas alguns africâneres acusam ricos empresários como Kruger de estarem simplesmente tentando obter favores do governo negro.
Esses homens milionários, dizem os críticos, perderam contato com os brancos "comuns", que desconfiam de um governo que promove, de forma agressiva, a ação afirmativa (imposição de quotas de trabalhadores negros nas empresas), mas tem dificuldades de combater a criminalidade.
Uma pesquisa de novembro apontou que 11% dos brancos estavam satisfeitos com o governo federal, contra 6% um ano antes, mas ainda longe de ser um endosso ao governo.


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