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São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003

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TRANSIÇÃO NA ARGENTINA

Advogado Rafael Bielsa, que era cotado para Justiça, será chanceler; analistas vêem aproximação com Brasil

Kirchner anuncia gabinete com surpresas

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

O presidente eleito da Argentina, Néstor Kirchner, confirmou ontem quais nomes irão integrar o seu gabinete a partir do dia 26 de maio. A principal surpresa foi a escolha de Rafael Bielsa, 50, para o Ministério das Relações Exteriores. Kirchner toma posse neste domingo, dia 25.
Advogado conceituado, Bielsa chegou a ser cogitado para a Justiça e não tem experiência na área internacional. Irmão do técnico da seleção argentina de futebol, Marcelo Bielsa, o futuro chanceler é definido por analistas como homem de centro-esquerda, que tende a trabalhar pelo fortalecimento do Mercosul e pelo estreitamento dos laços com o Brasil.
Sua escolha foi classificada como "mais política do que técnica". "Bielsa é um homem fortemente ligado a Kirchner, de confiança dele [do presidente]", diz Roberto Bacman, do Ceop (Centro de Estudos e Opinião Pública).
Para Alberto Etcheberry, do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade San Martín, o fato de Kirchner ter feito uma escolha política e não técnica não é novidade. "A chancelaria da Argentina sempre foi formada por quadros políticos e não técnicos. A falta de experiência com a área internacional não desqualifica Bielsa", afirma. "Palocci também não tinha experiência com economia", disse, fazendo uma comparação com o ministro brasileiro, que é médico.
Roberto Lavagna, 60, atual ministro da Economia, vai continuar na pasta e irá acumular também o Ministério da Produção. A decisão sinaliza que, no futuro, o Ministério da Produção possa se tornar apenas uma secretária vinculada à Economia. A permanência de Lavagna no cargo era a única certeza do gabinete. O ministro fez campanha para Kirchner e foi apontado como a peça-chave para que o governador de Santa Cruz pudesse chegar ao segundo turno das eleições.
Kirchner nomeou ainda Alberto Fernández para a Chefia de Gabinete e Alícia Kirchner, sua irmã, para a pasta de Desenvolvimento Social. Fernández, 44, foi o braço direito de Kirchner na campanha. Deputado por Buenos Aires, tem uma boa relação com o Congresso e com líderes de outros partidos, o que ajudará na articulação e formação da base de apoio ao governo. Alícia Kirchner, 52, já era responsável pela área social da Província de Santa Cruz, governada pelo irmão durante 12 anos.
Os outros nomes são: Daniel Filmus (Educação), Ginés González García (Saúde), Carlos Tomada (Trabalho), José Pampuro (Defesa), Gustavo Beliz (Justiça), Aníbal Fernández (Interior) Julio de Vido (Planificação e Investimento Público) e Oscar Parrilli (Secretaria Geral da Presidência).

Renovação
Kirchner classificou o seu gabinete como "homogêneo e coerente" e disse que o objetivo da equipe será "mudar a Argentina para melhor". "É um gabinete de gente jovem, com muita pluralidade", disse. "É um gabinete de ponta de lança, de realizações, de trabalho e espero que de muito tempo."
Para Alberto Etcheberry, a escolha do gabinete foi "quase que 100% acertada". "São pessoas jovens que vão renovar o quadro político da Argentina. É um primeiro passo para que se eliminem os velhos políticos da era Menem e que se encaixe uma nova geração, que não está comprometida com a corrupção que se instalou nos últimos anos."


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