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TRANSIÇÃO NA ARGENTINA
Advogado Rafael Bielsa, que era cotado para Justiça, será chanceler; analistas vêem aproximação com Brasil
Kirchner anuncia gabinete com surpresas
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
O presidente eleito da Argentina, Néstor Kirchner, confirmou
ontem quais nomes irão integrar
o seu gabinete a partir do dia 26 de
maio. A principal surpresa foi a
escolha de Rafael Bielsa, 50, para o
Ministério das Relações Exteriores. Kirchner toma posse neste
domingo, dia 25.
Advogado conceituado, Bielsa
chegou a ser cogitado para a Justiça e não tem experiência na área
internacional. Irmão do técnico
da seleção argentina de futebol,
Marcelo Bielsa, o futuro chanceler
é definido por analistas como homem de centro-esquerda, que
tende a trabalhar pelo fortalecimento do Mercosul e pelo estreitamento dos laços com o Brasil.
Sua escolha foi classificada como "mais política do que técnica". "Bielsa é um homem fortemente ligado a Kirchner, de confiança dele [do presidente]", diz
Roberto Bacman, do Ceop (Centro de Estudos e Opinião Pública).
Para Alberto Etcheberry, do
Instituto de Estudos Brasileiros
da Universidade San Martín, o fato de Kirchner ter feito uma escolha política e não técnica não é novidade. "A chancelaria da Argentina sempre foi formada por quadros políticos e não técnicos. A
falta de experiência com a área internacional não desqualifica Bielsa", afirma. "Palocci também não
tinha experiência com economia", disse, fazendo uma comparação com o ministro brasileiro,
que é médico.
Roberto Lavagna, 60, atual ministro da Economia, vai continuar
na pasta e irá acumular também o
Ministério da Produção. A decisão sinaliza que, no futuro, o Ministério da Produção possa se tornar apenas uma secretária vinculada à Economia. A permanência
de Lavagna no cargo era a única
certeza do gabinete. O ministro
fez campanha para Kirchner e foi
apontado como a peça-chave para que o governador de Santa
Cruz pudesse chegar ao segundo
turno das eleições.
Kirchner nomeou ainda Alberto Fernández para a Chefia de Gabinete e Alícia Kirchner, sua irmã,
para a pasta de Desenvolvimento
Social. Fernández, 44, foi o braço
direito de Kirchner na campanha.
Deputado por Buenos Aires, tem
uma boa relação com o Congresso e com líderes de outros partidos, o que ajudará na articulação
e formação da base de apoio ao
governo. Alícia Kirchner, 52, já
era responsável pela área social da
Província de Santa Cruz, governada pelo irmão durante 12 anos.
Os outros nomes são: Daniel
Filmus (Educação), Ginés González García (Saúde), Carlos Tomada (Trabalho), José Pampuro
(Defesa), Gustavo Beliz (Justiça),
Aníbal Fernández (Interior) Julio
de Vido (Planificação e Investimento Público) e Oscar Parrilli
(Secretaria Geral da Presidência).
Renovação
Kirchner classificou o seu gabinete como "homogêneo e coerente" e disse que o objetivo da equipe será "mudar a Argentina para
melhor". "É um gabinete de gente
jovem, com muita pluralidade",
disse. "É um gabinete de ponta de
lança, de realizações, de trabalho e
espero que de muito tempo."
Para Alberto Etcheberry, a escolha do gabinete foi "quase que
100% acertada". "São pessoas jovens que vão renovar o quadro
político da Argentina. É um primeiro passo para que se eliminem
os velhos políticos da era Menem
e que se encaixe uma nova geração, que não está comprometida
com a corrupção que se instalou
nos últimos anos."
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