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Droga falsa vinda da China já matou cem no Panamá
Governo panamenho importou substância e a distribuiu inadvertidamente
Produto tóxico vendido por chineses pode ter afetado milhares em diversos países; presidente Torrijos diz que está tomando providências
Presidência do Panamá - 17.mai.07
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Martín Torrijos, presidente do Panamá, reúne-se com indígenas em El Salto, perto da Colômbia |
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO PANAMÁ
Conhecido pela sua agressiva
política de abertura econômica,
o Panamá é o país mais afetado
por uma complexa rede mundial de distribuição de um medicamento falsificado que provocou a morte de ao menos cem
pessoas no país. Especialistas
estimam que a cifra mundial
chegue a alguns milhares em
várias partes do mundo.
As mortes estão relacionadas
ao dietileno glicol, um solvente
inodoro e incolor altamente tóxico usado em fórmulas de anticongelante e como solvente
de vernizes, entre outras aplicações industriais. O solvente
tem sido usado por indústrias
farmacêuticas chinesas para
falsificar glicerol, substância de
aspecto semelhante ao dietileno glicol usada tanto na indústria de medicamentos quanto
na de alimentos e bebidas.
No ano passado, o governo
panamenho inadvertidamente
adquiriu 46 barris falsificados
para produzir um xarope contra a gripe. Cerca de 250 mil
frascos foram distribuídas na
rede pública. Ao menos 365
mortes estão sob investigação,
das quais cem já foram relacionadas ao medicamento.
Rede de comercialização
Uma reportagem do jornal
"New York Times" rastreou a
comercialização do produto
chinês e descobriu que havia
chegado ao Panamá através de
empresas espanholas e chinesas vindo de uma fábrica no
delta do rio Yangtsé. Segundo o
diário americano, o medicamento falsificado ainda provocou mortes na própria China,
no Haiti, em Bangladesh, na Argentina, na Nigéria e na Índia
nos últimos anos, podendo ter
matado alguns milhares.
Na última semana o dietileno
glicol provocou mais um susto
no Panamá, ao ter sido encontrado em duas marcas de pasta
de dente importadas. A descoberta, principal assunto da imprensa na semana passada,
provocou a apreensão dos produtos em supermercados e farmácias, além de duras críticas
ao presidente Martín Torrijos
devido à reincidência, que não
registrou novas vítimas.
"Estamos preparados para
abrir o mercado sem que nosso
controle sanitário e de aduana
estejam fortalecidos institucionalmente?", questiona o analista econômico panamenho Alexis Soto, ao lembrar que as pastas de dente entraram por contrabando no país.
"Assim como foram globalizados os mercados, também foram globalizados os crimes aos
quais nós não estamos acostumados. O Panamá tem de sofisticar seus controles de segurança", afirma Soto.
Em entrevista à Folha na
quinta-feira, o presidente Torrijos, um forte defensor da
abertura comercial, disse que
se trata de um problema institucional, mas que vem tomando providências.
"Todos os países devem ter
compromissos para assegurar
que os que produzem, comercializam e compram contem
com garantias que velem pela
saúde e segurança pessoais.
Meu governo tem tomado medidas morais para compensar
os familiares das vítimas, para
que os tribunais estabeleçam
responsabilidades e para que
os funcionários responsáveis
respondam à Justiça", disse.
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