São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

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Droga falsa vinda da China já matou cem no Panamá

Governo panamenho importou substância e a distribuiu inadvertidamente

Produto tóxico vendido por chineses pode ter afetado milhares em diversos países; presidente Torrijos diz que está tomando providências

Presidência do Panamá - 17.mai.07
Martín Torrijos, presidente do Panamá, reúne-se com indígenas em El Salto, perto da Colômbia


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO PANAMÁ

Conhecido pela sua agressiva política de abertura econômica, o Panamá é o país mais afetado por uma complexa rede mundial de distribuição de um medicamento falsificado que provocou a morte de ao menos cem pessoas no país. Especialistas estimam que a cifra mundial chegue a alguns milhares em várias partes do mundo.
As mortes estão relacionadas ao dietileno glicol, um solvente inodoro e incolor altamente tóxico usado em fórmulas de anticongelante e como solvente de vernizes, entre outras aplicações industriais. O solvente tem sido usado por indústrias farmacêuticas chinesas para falsificar glicerol, substância de aspecto semelhante ao dietileno glicol usada tanto na indústria de medicamentos quanto na de alimentos e bebidas.
No ano passado, o governo panamenho inadvertidamente adquiriu 46 barris falsificados para produzir um xarope contra a gripe. Cerca de 250 mil frascos foram distribuídas na rede pública. Ao menos 365 mortes estão sob investigação, das quais cem já foram relacionadas ao medicamento.

Rede de comercialização
Uma reportagem do jornal "New York Times" rastreou a comercialização do produto chinês e descobriu que havia chegado ao Panamá através de empresas espanholas e chinesas vindo de uma fábrica no delta do rio Yangtsé. Segundo o diário americano, o medicamento falsificado ainda provocou mortes na própria China, no Haiti, em Bangladesh, na Argentina, na Nigéria e na Índia nos últimos anos, podendo ter matado alguns milhares.
Na última semana o dietileno glicol provocou mais um susto no Panamá, ao ter sido encontrado em duas marcas de pasta de dente importadas. A descoberta, principal assunto da imprensa na semana passada, provocou a apreensão dos produtos em supermercados e farmácias, além de duras críticas ao presidente Martín Torrijos devido à reincidência, que não registrou novas vítimas.
"Estamos preparados para abrir o mercado sem que nosso controle sanitário e de aduana estejam fortalecidos institucionalmente?", questiona o analista econômico panamenho Alexis Soto, ao lembrar que as pastas de dente entraram por contrabando no país.
"Assim como foram globalizados os mercados, também foram globalizados os crimes aos quais nós não estamos acostumados. O Panamá tem de sofisticar seus controles de segurança", afirma Soto.
Em entrevista à Folha na quinta-feira, o presidente Torrijos, um forte defensor da abertura comercial, disse que se trata de um problema institucional, mas que vem tomando providências.
"Todos os países devem ter compromissos para assegurar que os que produzem, comercializam e compram contem com garantias que velem pela saúde e segurança pessoais. Meu governo tem tomado medidas morais para compensar os familiares das vítimas, para que os tribunais estabeleçam responsabilidades e para que os funcionários responsáveis respondam à Justiça", disse.


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