São Paulo, sábado, 21 de julho de 2007

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ARTIGO

Iraque em tempos de guerra civil

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Tem cobertura acadêmica o aviso do general David Petraeus, chefe das tropas dos Estados Unidos no Iraque, de que pode durar anos o combate à insurgência no país. A Brookings Institution, centro de estudos independente em Washington, dá selo de validade às conclusões de que o pais invadido está à caminho de um guerra civil.
Outros -talvez intimamente o próprio Petraeus- não têm dúvidas de que esta já se instalou, e autoridades no assunto procuram dizer o que isso significaria. São citados, de modo especial, Paul Collier, James Fearon e Bárbara Walter, de Oxford, Stanford e Universidade da Califórnia em San Diego.
A primeira constatação bate com o ""pessimismo" de Petraeus. As guerras civis têm sido mais longas do que as convencionais. Há registros de até dez anos. De 1945 até hoje, a média ficou em sete. Foram oito anos sangrentos na Argélia, às vezes citados como repositórios de pontos de identificação com o Iraque. Começaram com levante de pouca intensidade contra a metrópole colonial, a França, e acabaram coletando todos os ingredientes de conflitos armados "não-convencionais", nos quais se enquadram as guerras civis. Guerrilha, terrorismo contra não-combatentes, tortura, contra-insurgência etc. Os franceses ganharam a batalha de Argel, a capital conflagrada, mas perderam a guerra politicamente.
Um filme sobre essa batalha tem sido objeto de estudo da inteligência militar americana. A nova estratégia de Bush no Iraque, a cargo de Patraeus, parte da crença de que o envio de mais tropas resultará na imposição da lei do mais forte e que um triunfo na batalha de Bagdá destruirá a insurgência em todo o Iraque. Independentemente dos equívocos que essa espécie de raciocínio possa produzir, que opções restariam a Bush em sua decisão de não dar o braço a torcer? Conseguir um compromisso político?
Estudos cobrindo 50 guerras civis mostraram que as sectárias, como a do Iraque, são muito mais difíceis de terminar por meio de acordos do que as ideológicas, como a de El Salvador. Fearon acrescenta que é ainda mais complicado alcançar compromissos políticos quando há subdivisões em ambos os lados. No Iraque, xiitas e sunitas abrigam milícias que brigam entre si. Além disso, a história das guerras civis registra que as negociações em geral só acontecem quando se chega a impasses, o que não parece ser o caso do Iraque.
Lideranças xiitas e sunitas e seus centuriões estariam convencidas de que conseguirão o que querem, por meio da força, quando (ou se) os americanos caírem fora. É possível, diz Fearon, que as ambições permaneçam até que sejam postas à prova, algo possível apenas com a saída dos Estados Unidos.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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