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ARTIGO
Iraque em tempos de guerra civil
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Tem cobertura acadêmica o
aviso do general David Petraeus, chefe das tropas dos Estados Unidos no Iraque, de que
pode durar anos o combate à
insurgência no país. A Brookings Institution, centro de estudos independente em Washington, dá selo de validade às
conclusões de que o pais invadido está à caminho de um
guerra civil.
Outros -talvez intimamente
o próprio Petraeus- não têm
dúvidas de que esta já se instalou, e autoridades no assunto
procuram dizer o que isso significaria. São citados, de modo
especial, Paul Collier, James
Fearon e Bárbara Walter, de
Oxford, Stanford e Universidade da Califórnia em San Diego.
A primeira constatação bate
com o ""pessimismo" de Petraeus. As guerras civis têm sido mais longas do que as convencionais. Há registros de até
dez anos. De 1945 até hoje, a
média ficou em sete. Foram oito anos sangrentos na Argélia,
às vezes citados como repositórios de pontos de identificação
com o Iraque. Começaram com
levante de pouca intensidade
contra a metrópole colonial, a
França, e acabaram coletando
todos os ingredientes de conflitos armados "não-convencionais", nos quais se enquadram
as guerras civis. Guerrilha, terrorismo contra não-combatentes, tortura, contra-insurgência
etc. Os franceses ganharam a
batalha de Argel, a capital conflagrada, mas perderam a guerra politicamente.
Um filme sobre essa batalha
tem sido objeto de estudo da inteligência militar americana. A
nova estratégia de Bush no Iraque, a cargo de Patraeus, parte
da crença de que o envio de
mais tropas resultará na imposição da lei do mais forte e que
um triunfo na batalha de Bagdá
destruirá a insurgência em todo o Iraque. Independentemente dos equívocos que essa
espécie de raciocínio possa
produzir, que opções restariam
a Bush em sua decisão de não
dar o braço a torcer? Conseguir
um compromisso político?
Estudos cobrindo 50 guerras
civis mostraram que as sectárias, como a do Iraque, são muito mais difíceis de terminar por
meio de acordos do que as ideológicas, como a de El Salvador.
Fearon acrescenta que é ainda mais complicado alcançar
compromissos políticos quando há subdivisões em ambos os
lados. No Iraque, xiitas e sunitas abrigam milícias que brigam entre si. Além disso, a história das guerras civis registra
que as negociações em geral só
acontecem quando se chega a
impasses, o que não parece ser
o caso do Iraque.
Lideranças xiitas e sunitas e
seus centuriões estariam convencidas de que conseguirão o
que querem, por meio da força,
quando (ou se) os americanos
caírem fora. É possível, diz Fearon, que as ambições permaneçam até que sejam postas à prova, algo possível apenas com a
saída dos Estados Unidos.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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