São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005

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Saída israelense sem acordo de paz é inédita

DO ENVIADO ESPECIAL A EIN BESOR

Ao contrário do que sugere o slogan usado pelo movimento de oposição à retirada de Gaza -"judeu não expulsa judeu"-, a remoção de colônias israelenses tem um precedente: a devolução da península do Sinai ao Egito, em 1982. O que nunca aconteceu antes é Israel sair de terras conquistadas no campo de batalha sem assinar um acordo de paz, numa iniciativa unilateral, como agora.
Passados 23 anos, os ex-moradores das comunidades instaladas no Sinai, que tiveram que ser removidas para abrir caminho a reconciliação com o principal inimigo de Israel na época, se dividem em relação ao drama dos colonos de Gaza. Em Ein Besor, por exemplo, um moshav (comunidade agrícola) situado a poucos quilômetros de Gaza, que foi fundado por 75 famílias saídas do Sinai (hoje são 235), as semelhanças com a retirada atual são consideradas apenas aparentes.
"Não me identifico nem um pouco com eles", diz Yohi Sade, uma sexagenária que morou dez anos no Sinai e se juntou a outras famílias retiradas para, segundo ela, "manter o pioneirismo pelo bem de Israel", desta vez no deserto do Neguev. Hoje plantam frutas e verduras. "Fomos para o Sinai para ficar na linha de frente na defesa contra um ataque egípcio. No momento em que o governo decidiu sair, obedecemos", explica. "Já os colonos de Gaza acham que tudo podem porque têm Deus do seu lado. Mas 8 mil judeus não têm nada o que fazer entre um milhão de palestinos."
Outras comunidades retiradas do Sinai recomeçaram suas vidas, ajudadas por substanciais indenizações do governo, no Neguev. Foi numa delas que uma filha de brasileiros, Dana Galkovitz, 22, foi morta em julho, atingida por míssil palestino saído de Gaza.
Mais ao sul, no moshav Dekel, um grupo de imigrantes russos que havia tentado a vida no Sinai também transplantou seu projeto para Israel. Alguns guardam ressentimentos semelhantes aos vistos nos últimos dias. "O mesmo que o governo fez conosco faz agora com estes colonos", diz Rivka Anibar, que se opõe à retirada de Gaza. (MN)

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