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Países andinos de maioria indígena são os mais imprevisíveis
DA REDAÇÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os países andinos majoritariamente indígenas -Bolívia, Peru e
Equador- enfrentam suas próximas eleições presidenciais ante
um panorama de intensas crises
institucionais, convulsões sociais
e uma profunda atomização do
sistema partidário que exacerbam
as indefinições eleitorais.
Em pelo menos dois -Bolívia e
Equador-, devem exercer papéis importantes na definição da
disputa os conflitos de natureza
étnico-sociais que são o pano de
fundo de suas crises históricas.
Divisões ideológicas, nos dois casos, têm menos relevância. "As dimensões étnicas dessas eleições
são muito importantes", avaliou a
cientista política Frances Hagopian. "Essas são sociedades em
que existe longa tradição de exclusão social e onde vemos nas últimas duas décadas a emergência
de fortes movimentos étnicos."
Para ela, esse fortalecimento está ligado a um declínio dos partidos e uma fração entre eles e a sociedade. "Na Bolívia, os sofrimentos dos indígenas se tornaram um
dos principais fenômenos políticos", reforçou Scott Mainwaring.
Outro vetor da disputa nesses
dois países, concordam Mainwaring e Hagopian, é a política de
gestão dos hidrocarbonetos (gás e
petróleo), dos quais ambos dependem e cuja propriedade é fonte de controversas. "Na Bolívia, o
gás natural e a água se tornaram
temas muito explosivos, originando questionamentos políticos
importantes", disse Mainwaring.
O cenário eleitoral na Bolívia,
apesar de a votação ser em dezembro próximo, ainda está cercado de indefinições. Há dúvidas,
por exemplo, sobre a capacidade
de organização das eleições, que
serão gerais e foram antecipadas.
O Congresso ainda faz mudanças
nas leis, discutindo questões como prazo para inscrição de candidaturas e cotas para mulheres.
Dos partidos tradicionais, só
um já possuía candidato até a última sexta: o MAS, com o líder cocaleiro Evo Morales, em chapa
com o cientista político e ex-guerrilheiro Álvaro García Linera.
Nenhum candidato soma mais
de um quarto das intenções de voto. Mantido esse panorama, o
próximo governante deverá ser
escolhido em segundo turno por
votação indireta no Congresso, o
que mais uma vez abre a possibilidade de que um presidente sem
legitimidade assuma o poder.
Forasteiro
Para o Peru, onde a eleição será
em abril de 2006, a análise é de
que a situação está em aberto e
que as pesquisas atuais devem ser
vistas com cautela. "Parece que
outra vez teremos a presença de
um "outsider", alguém que aparece em seis meses para disputar a
Presidência", afirmou o cientista
político peruano Gustavo Montoya. "E no horizonte político, esse
"outsider" é Ollanta Humala."
Comandante do Exército na reserva, Humala liderou um levante
contra o então presidente Alberto
Fujimori, em 2000. Preso, foi anistiado após a queda de Fujimori.
Hoje, percorre o país e tenta criar
um movimento político, mas ainda não aparece em pesquisas.
Nesse cenário, o eixo da votação
anterior, na qual o hoje campeão
de impopularidade Alejandro Toledo se elegeu, pode ser repetir: a
luta anticorrupção, já que os casos
continuaram a surgir.
(CVN E JCB)
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