São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005

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Países andinos de maioria indígena são os mais imprevisíveis

DA REDAÇÃO

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os países andinos majoritariamente indígenas -Bolívia, Peru e Equador- enfrentam suas próximas eleições presidenciais ante um panorama de intensas crises institucionais, convulsões sociais e uma profunda atomização do sistema partidário que exacerbam as indefinições eleitorais.
Em pelo menos dois -Bolívia e Equador-, devem exercer papéis importantes na definição da disputa os conflitos de natureza étnico-sociais que são o pano de fundo de suas crises históricas. Divisões ideológicas, nos dois casos, têm menos relevância. "As dimensões étnicas dessas eleições são muito importantes", avaliou a cientista política Frances Hagopian. "Essas são sociedades em que existe longa tradição de exclusão social e onde vemos nas últimas duas décadas a emergência de fortes movimentos étnicos."
Para ela, esse fortalecimento está ligado a um declínio dos partidos e uma fração entre eles e a sociedade. "Na Bolívia, os sofrimentos dos indígenas se tornaram um dos principais fenômenos políticos", reforçou Scott Mainwaring.
Outro vetor da disputa nesses dois países, concordam Mainwaring e Hagopian, é a política de gestão dos hidrocarbonetos (gás e petróleo), dos quais ambos dependem e cuja propriedade é fonte de controversas. "Na Bolívia, o gás natural e a água se tornaram temas muito explosivos, originando questionamentos políticos importantes", disse Mainwaring.
O cenário eleitoral na Bolívia, apesar de a votação ser em dezembro próximo, ainda está cercado de indefinições. Há dúvidas, por exemplo, sobre a capacidade de organização das eleições, que serão gerais e foram antecipadas. O Congresso ainda faz mudanças nas leis, discutindo questões como prazo para inscrição de candidaturas e cotas para mulheres.
Dos partidos tradicionais, só um já possuía candidato até a última sexta: o MAS, com o líder cocaleiro Evo Morales, em chapa com o cientista político e ex-guerrilheiro Álvaro García Linera.
Nenhum candidato soma mais de um quarto das intenções de voto. Mantido esse panorama, o próximo governante deverá ser escolhido em segundo turno por votação indireta no Congresso, o que mais uma vez abre a possibilidade de que um presidente sem legitimidade assuma o poder.

Forasteiro
Para o Peru, onde a eleição será em abril de 2006, a análise é de que a situação está em aberto e que as pesquisas atuais devem ser vistas com cautela. "Parece que outra vez teremos a presença de um "outsider", alguém que aparece em seis meses para disputar a Presidência", afirmou o cientista político peruano Gustavo Montoya. "E no horizonte político, esse "outsider" é Ollanta Humala."
Comandante do Exército na reserva, Humala liderou um levante contra o então presidente Alberto Fujimori, em 2000. Preso, foi anistiado após a queda de Fujimori. Hoje, percorre o país e tenta criar um movimento político, mas ainda não aparece em pesquisas.
Nesse cenário, o eixo da votação anterior, na qual o hoje campeão de impopularidade Alejandro Toledo se elegeu, pode ser repetir: a luta anticorrupção, já que os casos continuaram a surgir. (CVN E JCB)

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