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Jornal do México pede orientação a narcocartéis
"El Diário de Juárez" quer que os grupos digam o que deve publicar
Editorial, que afirma que traficantes são as "autoridades de fato", é publicado após morte de segundo jornalista
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
O principal jornal de Ciudad Juárez, a mais violenta
cidade mexicana, anunciou
que irá restringir sua cobertura da guerra entre cartéis
de drogas depois do assassinato do segundo jornalista da publicação.
Em editorial, publicado
em sua primeira página anteontem, "El Diário de Juárez" pediu aos narcotraficantes que agem na cidade -a
cerca de 3 km de El Paso, nos
EUA- que digam o que querem, para que o jornal possa
trabalhar sem que sua equipe seja morta ou intimidada.
"Líderes das diferentes organizações que lutam pelo
controle de Ciudad Juárez: a
perda de dois repórteres [...]
em menos de dois anos representa uma dor irreparável
a todos que trabalhamos
aqui e, em particular, para suas famílias", diz.
"Somos comunicadores,
não adivinhos. Por isso, como trabalhadores da informação queremos que nos expliquem [...] o que pretendem
que publiquemos ou deixemos de publicar [...]."
O editorial foi o segundo
publicado desde que atiradores atacaram fotógrafos do
jornal na quinta-feira, quando saíam para almoçar.
Luis Carlos Santiago, 21, morreu. O outro, um estagiário, teve ferimentos graves.
Em 2008, um repórter policial do "Diário" foi morto em frente a sua casa quando levava as filhas para a escola.
Ao menos 22 jornalistas mexicanos foram mortos desde 2006 -oito devido a
reportagens publicadas sobre crime e corrupção-, diz o
Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ).
Muitos veículos deixaram
de cobrir a guerra entre cartéis. Até domingo, o "Diário"
não fazia parte desta lista.
Jornalistas reconhecem a
censura imposta pelos grupos, que lutam pelas lucrativas rotas de tráfico aos EUA.
Em agosto, profissionais
que cobriam a chacina de
imigrantes em Tamaulipas
disseram à Folha, sob anonimato, que apenas veículos
com sede na capital, Cidade
do México, ou em Ciudad
Victoria, a capital estadual,
podiam noticiar o crime, atribuído ao cartel dos Zetas.
AUTORIDADES DE FATO
O editorial do "Diário" afirma que seu pedido era endereçado às gangues porque,
nesse momento, elas são as "autoridades de fato".
E diz ainda que o presidente mexicano, Felipe Calderón, fez uma série de promessas para proteger jornalistas
que não foram cumpridas.
"Não queremos mais ser
usados como bucha de canhão nessa guerra porque estamos cansados", disse à Associated Press o editor do
"Diário", Pedro Torres.
O relatório do CPJ, divulgado no início do mês, diz
que o "governo federal tem
falhado em assumir responsabilidade pelos ataques generalizados contra a liberdade de expressão".
Desde 2006, quando teve
início a ofensiva contra os
cartéis, mais de 28 mil pessoas foram mortas no país.
Apenas em Ciudad Juárez,
5.000 morreram desde 2008,
fazendo da cidade, de 1,3 milhão de habitantes, uma das
mais perigosas do mundo.
FOLHA.com
Leia a íntegra do editorial do "El Diário de Juárez"
folha.com.br/mu801862
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