São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2001

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País foi cenário do 1º ataque com o vírus

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os Estados Unidos foram o palco do primeiro ataque militar com o vírus da varíola de que se tem notícia na história moderna.
Aconteceu em 1763. As vítimas eram índios hostis aos colonizadores britânicos. A forma de difusão reprisava em escala menor o mitológico cavalo de Tróia: vírus eram enviados em cobertas retiradas de hospitais que tratavam varíola na Pensilvânia.
A ordem de atacar os índios com uma doença fatal foi dada pelo general Jeffrey Amhest, comandante das forças britânicas na guerra contra os índios e os franceses (1754-1767).
O capitão Simeon Ecuyer, executor do plano, anotou em seu diário: "Espero que isso tenha o efeito desejado". Teve.
Ninguém sabe com precisão quantos índios morreram. O certo é que os britânicos conquistaram o vale do rio Ohio onde viviam os nativos das tribos Mingo, Delaware e Shawnee.
O episódio do Forte Pitt virou referência histórica por causa da farta documentação, mas não é o mais antigo registro do uso de armas biológicas em batalhas.
Há lendas de que gregos e romanos já faziam uso de cadáveres para disseminar vírus entre os inimigos, mas a documentação mais antiga data de 1346. É o relato da tomada da cidade de Kaffa (a atual Feodossia, na Ucrânia) pelos tártaros. Para conquistar a cidade, eles catapultavam cadáveres infectados sobre os muros.
Ganharam a batalha, mas os resultados seriam desastrosos, segundo medievalistas como o norte-americano Lynn H. Nelson. Foi em Kaffa, defende Nelson, que teria começado a Peste Negra, uma pandemia que matou milhões em cinco anos, de 1346 a 1351.
Mercadores de Kaffa teriam levado a bactéria Y. Pestis, que causa a peste, em pulgas e ratos que infestavam os navios para Constantinopla e de lá para Gênova.
No século 20, uma das experiências mais tenebrosas com armas biológicas foi conduzida pelo Japão. Elas começaram, de maneira precária, em 1932, logo após a ocupação da Manchúria (China) pelos japoneses. Foram oficializadas em 1936 e em dez anos resultaram na morte de 3.000 a 10 mil chineses. Todos foram mortos como cobaias de varíola, antraz, tifo e peste bubônica. Morreram mais mil ocidentais, vítimas dos ataques com vírus e bactérias.
Os EUA fizeram uma proposta aos japoneses em 1945: o coronel Ishii Shiro, que dirigiu os experimentos, não seria processado por crimes de guerra, mas teria que entregar suas descobertas ao americanos. Assim foi feito.


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