São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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IRAQUE

Decreto liberta prisioneiros políticos e quase todos os comuns; medida visa a unir iraquianos em torno do ditador

Saddam dá anistia a quase todos os presos

DA REDAÇÃO

O ditador Saddam Hussein celebrou ontem sua eleição "perfeita" -na qual obteve 100% dos votos na terça-feira passada- concedendo uma ampla anistia a quase todos os presos do Iraque.
O decreto de Saddam libertando todos os prisioneiros políticos, quase todos os comuns e também os detidos por tentar escapar do serviço militar é visto como parte de uma campanha para unir os iraquianos sob sua liderança. Saddam enfrenta a perspectiva de sofrer um ataque norte-americano.
Testemunhas afirmaram que viram várias dezenas de prisioneiros deixando uma prisão em Bagdá e cantando: "Com nosso sangue e nossa alma, nós nos sacrificamos por você, Saddam".
Foi a primeira vez que Saddam perdoou todos os presos políticos desde que chegou ao poder.
Segundo o governo, todos os prisioneiros anistiados deverão ser liberados dentro de no máximo 48 horas. Não foi divulgado o número exato de beneficiados pelo decreto, mas eles devem chegar a vários milhares, incluindo lideranças xiitas (uma das correntes do islamismo).
De acordo com o ministro da Informação iraquiano, Muhammad Assahaf, só não serão libertados "árabes condenados ou acusados de espionar para a entidade sionista ou para os EUA".

"Manipulação"
O secretário de Estado dos EUA, general Colin Powell, disse que a anistia é "manipulação" e que Saddam tenta "apresentar-se como alguém distinto quando na verdade é um ditador brutal". Powell disse ainda que os verdadeiros opositores voltarão a ser presos dentro de alguns dias.
Powell também afirmou que os EUA poderão não depor Saddam se ele desistir de tentar obter armas de destruição em massa. A declaração contrasta com outras dadas ao longo dos últimos 18 meses, nas quais o secretário afirmava que deveria haver uma "mudança de regime" no Iraque.
O vice-presidente Taha Iassin Ramadan disse que o Iraque continua disposto a aceitar a presença dos inspetores de armas das Nações Unidas. Os EUA acusam Bagdá de desenvolver armas de destruição em massa.
Os EUA, que queriam obter do Conselho de Segurança da ONU uma resolução autorizando automaticamente o uso da força caso Saddam Hussein não cooperasse com os inspetores, recuaram diante da oposição de diversos países a uma ação unilateral.
Colin Powell também anunciou ontem que Washington deve apresentar ao Conselho de Segurança, ainda nesta semana, o esboço de uma nova resolução, menos dura. Segundo Powell, o novo texto vai propor "um regime de inspeção de armas mais estrito" e "consequências" na hipótese de o Iraque não colaborar com a ONU. Analistas acreditam que o texto não vai ameaçar Bagdá explicitamente com uma ação militar.
Os EUA já afirmaram que se reservam o direito de atacar o Iraque caso julguem necessário, ainda que não haja uma autorização da ONU para isso.


Com agências internacionais


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