São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / ESTADOS-CHAVE

Obama centra esforços na Flórida

A duas semanas das eleições, democrata investe dois dias no Estado, que ontem começou a votar antecipadamente

Crucial eleitorado latino, que antes pendia para os republicanos, já se divide entre os dois candidatos; pleito pode ser definido ali

Zach Boyden-Holmes/Getty Images/France Presse
Eleitores fazem fila para votar antecipadamente em shopping em Fort Lauderdale, na Flórida

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

O democrata Barack Obama começou sua semana passando dois dias na Flórida para tentar ganhar esse Estado que votou com os republicanos em 8 das 10 últimas eleições presidenciais. Ele está fazendo campanha em cidades locais desde ontem. Hoje, encerra sua passagem com um comício em Miami, no fim do dia.
Em 2000, os democratas viveram um drama na Flórida. Houve problemas por causa do sistema de votação obsoleto, e os resultados oficiais demoraram um mês para sair. No fim, George W. Bush venceu Al Gore por menos de mil votos.
A prévia democrata deste ano também foi tumultuada. A seção local do partido desafiou a direção nacional, antecipando suas primárias. Obama ficou fora, e Hillary Clinton, que era a favorita, ganhou com facilidade. Ontem, Hillary e Obama fizeram um comício juntos em Orlando, no início da noite.
A Flórida tem 27 votos no Colégio Eleitoral, que escolhe o presidente -a eleição nos EUA é indireta- e onde são precisos 270 votos para ser eleito.
Neste ano, a campanha de Obama tomou duas providências principais para tentar arrancar o Estado dos republicanos. Primeiro, registrou um número recorde de eleitores (nos EUA, o voto não é obrigatório). A segunda providência dos obamistas foi focar no voto antecipado -no país, é possível ir ao local de votação mais cedo.

Avanço
Algum efeito da estratégia já pode ser aferido pelas pesquisas. O democrata tem aparecido empatado com o republicano John McCain nos levantamentos mais recentes -mas sempre numericamente à frente, dentro da margem de erro.
Outra notícia relevante para Obama é o fato de o voto latino não estar mais pendendo fortemente para os republicanos, uma tradição em eleições na Flórida. Essa é a conclusão de um estudo do WCVI (Instituto William C. Velasquez), ONG especializada no comportamento eleitoral dos latinos.
Estado que abrigou os cubanos exilados depois que Fidel Castro tomou o poder em Cuba, em 1959, a Flórida sempre foi um local no qual prevaleceu o voto conservador, antiliberal. Agora, com a crise econômica e quase 50 anos depois da revolução comunista no país vizinho, a população latina (cerca de 20% do total) começa a mudar um pouco de opinião.
Quando se retira o voto latino das pesquisas de opinião na Flórida, segundo o WCVI, Obama fica empatado com McCain: 42,6% a 40,3%. Quando os latinos são incluídos, o democrata continua numericamente à frente, com 48% contra 46% do republicano.
"É uma grande mudança sobre o resultado de 2004 e de outras eleições, quando os latinos da Flórida sempre votaram fortemente com os republicanos. Mas é necessário cautela ao analisar os números, pois temos de verificar se essa tendência de fato vai se traduzir em votos no dia da eleição", explicou à Folha Steven Ochoa, vice-presidente para políticas públicas e pesquisa do WCVI.
Outro aspecto a ser considerado na Florida é o número de eleitores registrados para a disputa atual. No último domingo, a Divisão de Eleições do Estado divulgou o total de pessoas habilitadas para o pleito de 4 de novembro: 11,2 milhões. Desses, 4.722.076 são democratas, e 4.064.301 são republicanos. Ou seja, uma diferença pró-Obama de 657.755 eleitores.
Mas é necessário que esse universo de eleitores apareça para votar no dia da eleição ou comece a votar já nesta semana. Em 2004, quando Bush ganhou na Flórida, havia 368.757 mais eleitores democratas do que republicanos registrados no Estado. A vantagem não foi suficiente para John Kerry superá-lo.
Ao se decidir por fazer campanha dois dias seguidos na Flórida -sua mulher, Michele continuará lá amanhã-, Obama sinaliza que seus cálculos indicam a possibilidade de vitória no Estado. De outra forma, não gastaria tanto tempo a apenas 14 dias da eleição. Há uma tradição de os eleitores republicanos, em menor número, serem sempre mais eficientes quando se trata de aparecer para votar -ou votar pelo correio.
Cerca de 857 mil eleitores republicanos no Estado já pediram os formulários para votar pelo correio neste ano. Do lado democrata, só 629 mil demonstraram interesse em votar dessa maneira até agora.


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