São Paulo, quinta, 22 de janeiro de 1998.



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SOB SUSPEITA
Casa Branca teria forçado estagiária a mentir à Justiça sobre relação com o presidente dos EUA
Novo caso amoroso ameaça Clinton

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

O promotor independente do caso Whitewater, Kenneth Starr, está investigando se o presidente dos EUA, Bill Clinton, teve um caso de 18 meses com uma estagiária da Casa Branca e depois tentou forçá-la a mentir sobre sua relação.
Essas poderão ser as acusações mais danosas jamais feitas contra Clinton. Se forem comprovadas, disse o presidente da Comissão de Justiça da Câmara, Henry Hyde, podem levar a um processo de impeachment contra o presidente.
Starr recebeu cerca de 20 horas de gravações em que Monica Lewinsky, 24, relata (de acordo com quem teve acesso a elas) em detalhes minuciosos a relação amorosa que ela diz ter tido com Clinton durante 18 meses, de 1995 a 1997.
Mais grave ainda para o presidente: as fitas também revelam, segundo quem as ouviu, que Lewinsky diz ter sido procurada por Clinton e um de seus melhores amigos, que lhe pediram para mentir se fosse intimada judicialmente a testemunhar sobre o caso.
Lewinsky foi chamada a depor no processo que Paula Jones move contra Clinton por assédio sexual quando ele era governador do Estado de Arkansas. Seu testemunho está marcado para amanhã.
Clinton divulgou declaração em que afirma nunca ter tido "relação imprópria com esta mulher" e que ele sempre deixou claro querer que "todas as pessoas digam a verdade a respeito de todos os assuntos".
Seu porta-voz, Mike McCurry, bombardeado por dezenas de perguntas durante seu encontro diário com jornalistas, se recusou a fazer qualquer comentário adicional à declaração do presidente.
À tarde, durante entrevista marcada há semanas com a rede pública de TV, PBS, Clinton se mostrou constrangido quando o tema Lewinski foi abordado. Disse ao jornalista Jim Leherer que sabia "tanto quanto" ele sobre o caso.
George Stephanopoulos, que foi um dos mais próximos assessores de Clinton até janeiro de 1997, disse ontem que "essas são provavelmente as acusações mais graves" já levantadas contra o presidente e podem levar a uma ação de impeachment. Clinton está em minoria nas duas casas do Congresso.
As fitas de Lewinsky foram entregues a Starr por Linda Tripp, ex-funcionária da Casa Branca (nomeada durante o governo Bush). Tripp diz que outra colega, Kethleen Willey, foi vítima de assédio sexual da parte de Clinton.
O clima de crise na Casa Branca, sede do governo dos EUA, podia ser sentido logo de manhã, quando ali chegaram dois advogados pessoais de Clinton: Robert Bennett, que o defende no caso Paula Jones, e David Kendall, que o representa no caso Whitewater.
Segundo Stephanopoulos, Clinton passou boa parte da madrugada de ontem em conversas telefônicas com os dois, após ter tomado conhecimento de que a secretária da Justiça, Janet Reno, e uma corte federal autorizaram o promotor Starr a entrar no caso Lewinsky.
Embora não tenha falado sobre o assunto, Starr deverá concentrar sua investigação de Clinton neste episódio na possibilidade de tentativa de obstrução do trabalho da Justiça, não na de assédio sexual.
De acordo com o relato de quem as ouviu, Lewinsky diz nas fitas que o advogado e lobista Vernon Jordan, amigo íntimo de Clinton, recomendou a ela que mentisse sobre o caso, prometendo-lhe um emprego. Jordan se recusou a comentar o assunto com jornalistas.
Não se sabe se Lewinsky estava ciente de que suas conversas com Tripp eram gravadas. Seu advogado, William Ginsburg, diz que Lewinski havia assinado uma declaração negando que tenha tido um caso amoroso com o presidente.



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