São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 2006

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Escândalo de grampo e pedofilia ofusca eleição

ELIZABETH NASH
DO "INDEPENDENT"

Um escândalo do grampo telefônico ilegal envolvendo mais de 60 políticos e juízes portugueses vem lançando sombra sobre a campanha para a eleição presidencial, que ocorre hoje.
O presidente socialista Jorge Sampaio e o ex-premiê socialista Antonio Guterres estão entre as figuras públicas cujos telefonemas teriam sido grampeados durante investigações não autorizadas de um escândalo altamente divulgado que envolve casos de abuso sexual infantil cometidos no maior orfanato do país.
Sampaio, que está concluindo seu segundo mandato, pediu uma investigação urgente e rápida das alegações de grampo telefônico. "As violações de vidas privadas, através do grampo telefônico ilegal ou outras formas intoleráveis de intrusão na vida particular dos portugueses, não podem ser permitidas", disse o presidente.
A Procuradoria Geral da República teria grampeado os telefones de mais de 200 pessoas e copiado as conversas gravadas em cinco disquetes de computador. De acordo com o jornal português "24 Horas", os disquetes foram colocados num chamado "envelope 9", que foi posto no arquivo do inquérito sobre o escândalo de pedofilia envolvendo a Casa Pia.
Gravações confidenciais desse tipo supostamente devem ser entregues às autoridades apenas atendendo a ordem de um juiz. O procurador-geral da República, José Souto de Moura, cujas conversas também teriam sido grampeadas, desmentiu as informações divulgadas, mas concordou em abrir um inquérito.
Rumores sobre grampo telefônico em grande escala foram difundidos durante todo o escândalo sexual da Casa Pia, cujas ramificações atingiram as elites política e social portuguesa. Entre as pessoas que vêm sendo levadas a julgamento desde novembro de 2004 figuram um ex-embaixador, um deputado e o mais conhecido apresentador de TV de Portugal.
Muitos deputados estão pressionando o governo a aumentar sua fiscalização sobre os grampos telefônicos conduzidos pela polícia, que, segundo as autoridades, chegam à média de 8.000 por ano. Acredita-se que as investigações judiciais em Portugal são conduzidas de maneira pouco transparente e responsável. Souto de Moura vem sofrendo pressão para apresentar sua renúncia por conta de vazamentos de informações relativas à investigação do escândalo da Casa Pia.
De acordo com o "24 Horas", a companhia telefônica Portugal Telecom entregou aos responsáveis pela investigação da Casa Pia os registros de 79 mil telefonemas feitos a partir de 208 telefones particulares entre dezembro de 2001 e maio de 2002. A telefônica disse que entregou os registros em 2003, atendendo a mandado judicial, e que forneceu os números dos telefones sem os nomes dos clientes. Mas o jornal disse que, nos volumosos arquivos relacionados à investigação, não encontrou mandados judiciais autorizando os grampos telefônicos.
Os principais candidatos na eleição presidencial do domingo vêm tratando o escândalo com cuidado. As pesquisas de opinião atribuem grande vantagem a Aníbal Cavaco Silva, 66, que estimulou o crescimento econômico de Portugal, mas reforçou a desigualdade reinante no país.
O socialista Mário Soares, 81, está distante de Cavaco Silva, mas, em entrevista ao espanhol "El País", previu que vai impedi-lo de ter maioria absoluta, forçando a ocorrência de um segundo turno.


Tradução de Clara Allain


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