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Escândalo de grampo e pedofilia ofusca eleição
ELIZABETH NASH
DO "INDEPENDENT"
Um escândalo do grampo telefônico ilegal envolvendo mais de
60 políticos e juízes portugueses
vem lançando sombra sobre a
campanha para a eleição presidencial, que ocorre hoje.
O presidente socialista Jorge
Sampaio e o ex-premiê socialista
Antonio Guterres estão entre as
figuras públicas cujos telefonemas teriam sido grampeados durante investigações não autorizadas de um escândalo altamente
divulgado que envolve casos de
abuso sexual infantil cometidos
no maior orfanato do país.
Sampaio, que está concluindo
seu segundo mandato, pediu uma
investigação urgente e rápida das
alegações de grampo telefônico.
"As violações de vidas privadas,
através do grampo telefônico ilegal ou outras formas intoleráveis
de intrusão na vida particular dos
portugueses, não podem ser permitidas", disse o presidente.
A Procuradoria Geral da República teria grampeado os telefones
de mais de 200 pessoas e copiado
as conversas gravadas em cinco
disquetes de computador. De
acordo com o jornal português
"24 Horas", os disquetes foram
colocados num chamado "envelope 9", que foi posto no arquivo
do inquérito sobre o escândalo de
pedofilia envolvendo a Casa Pia.
Gravações confidenciais desse
tipo supostamente devem ser entregues às autoridades apenas
atendendo a ordem de um juiz. O
procurador-geral da República,
José Souto de Moura, cujas conversas também teriam sido grampeadas, desmentiu as informações divulgadas, mas concordou
em abrir um inquérito.
Rumores sobre grampo telefônico em grande escala foram difundidos durante todo o escândalo sexual da Casa Pia, cujas ramificações atingiram as elites política
e social portuguesa. Entre as pessoas que vêm sendo levadas a julgamento desde novembro de
2004 figuram um ex-embaixador,
um deputado e o mais conhecido
apresentador de TV de Portugal.
Muitos deputados estão pressionando o governo a aumentar
sua fiscalização sobre os grampos
telefônicos conduzidos pela polícia, que, segundo as autoridades,
chegam à média de 8.000 por ano.
Acredita-se que as investigações
judiciais em Portugal são conduzidas de maneira pouco transparente e responsável. Souto de
Moura vem sofrendo pressão para apresentar sua renúncia por
conta de vazamentos de informações relativas à investigação do escândalo da Casa Pia.
De acordo com o "24 Horas", a
companhia telefônica Portugal
Telecom entregou aos responsáveis pela investigação da Casa Pia
os registros de 79 mil telefonemas
feitos a partir de 208 telefones particulares entre dezembro de 2001
e maio de 2002. A telefônica disse
que entregou os registros em
2003, atendendo a mandado judicial, e que forneceu os números
dos telefones sem os nomes dos
clientes. Mas o jornal disse que,
nos volumosos arquivos relacionados à investigação, não encontrou mandados judiciais autorizando os grampos telefônicos.
Os principais candidatos na
eleição presidencial do domingo
vêm tratando o escândalo com
cuidado. As pesquisas de opinião
atribuem grande vantagem a Aníbal Cavaco Silva, 66, que estimulou o crescimento econômico de
Portugal, mas reforçou a desigualdade reinante no país.
O socialista Mário Soares, 81, está distante de Cavaco Silva, mas,
em entrevista ao espanhol "El
País", previu que vai impedi-lo de
ter maioria absoluta, forçando a
ocorrência de um segundo turno.
Tradução de Clara Allain
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