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ARTIGO
O fantasma da Grande Albânia
DANIEL VERNET
DO "MONDE"
O ano era 1999. Antes da intervenção da Otan contra a Sérvia. Mas a situação em Kosovo
fervilhava. A comunidade albanesa da Macedônia também se
encontrava em ebulição.
Em Tetovo, o antigo prefeito
Alajdin Demiri, que tinha sido
preso por hastear a bandeira albanesa no mastro da prefeitura, se fez de ingênuo: "A Grande
Albânia? Que Grande Albânia?
Mesmo que nos uníssemos aos
albaneses da Albânia e de Kosovo, além de alguns outros, seria uma pequena Albânia quando comparada ao território de
nossos antepassados, que se estendia até o Danúbio".
A independência de Kosovo
põe fim a esse sonho ou relança
a chamada "questão albanesa"?
As opiniões dos observadores
se dividem, mas a grande maioria tende a favorecer a primeira
hipótese. Dois Estados albaneses vão coexistir.
Sob o titulo "Existe uma
questão albanesa?", um ensaio
publicado pelo Instituto de Estudos de Segurança da União
Européia concluiu que os interesses dos albaneses da Albânia, de Kosovo, da Macedônia
(onde formam entre 20% e
30% da população), de Montenegro (eles são 5%) e do vale de
Presevo, no sul da Sérvia, são
suficientemente distintos para
que não cogitem em se unir
-estão mais preocupados com
as dificuldades do cotidiano do
que com uma luta ideológica.
Até nova ordem, os líderes
dessas comunidades preferem
reinar sobre seus respectivos
redutos a digladiar-se entre
eles para conquistar a hegemonia num eventual Estado unificado. Desde a queda do regime
comunista, os governos de Tirana optaram por uma política
regional prudente, sendo seu
principal objetivo a entrada na
Otan e na União Européia.
Um Grande Kosovo que incluísse o vale de Presevo, chamado por seus habitantes de
"Kosovo oriental", e a parte ocidental da Macedônia, povoada
por albaneses, poderia sem dúvida ser uma alternativa à
Grande Albânia. Mas se os dirigentes kosovares o quisessem,
certamente seriam dissuadidos
da idéia pelos países ocidentais,
que lhes concederam uma independência "vigiada". A soberania de Kosovo continua limitada, especialmente no tocante
à política externa.
Quando reconheceram a independência das ex-repúblicas
iugoslavas, os países ocidentais
recusaram uma redefinição das
fronteiras: nem partilha, nem
ampliação. A independência de
Kosovo, que não era república
da Federação Iugoslava mas região autônoma da Sérvia, é uma
derrogação que se tornou inevitável devido à política de limpeza étnica de Milosevic e à
guerra de 1999. Não tendo conseguido fazer de Kosovo um
Estado multiétnico, os países
ocidentais precisam agora impedir o ressurgimento dos fantasmas que são as idéias de reagrupar cada povo em seu próprio Estado -fantasmas esses
que tantas vezes já atearam fogo aos Bálcãs.
Tradução de CLARA ALLAIN
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