São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

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EUA usaram solo britânico para transporte ilegal de suspeitos

Reino Unido admite que aeronaves com supostos terroristas detidos em terceiros países pousaram duas vezes em base no Índico, para reabastecimento

JAMES BLITZ
DO "FINANCIAL TIMES"

O governo britânico disse que o território do país foi usado duas vezes para o pouso de vôos de "transporte especial de prisioneiros" dos Estados Unidos, a despeito das garantias anteriores de que isso não havia acontecido. Em declaração ao Parlamento do país, o chanceler David Miliband afirmou que, em duas diferentes ocasiões, em 2002, vôos americanos transportando suspeitos de terrorismo fizeram paradas de reabastecimento em uma base aérea em Diego Garcia, território britânico no oceano Índico.
Miliband disse que, em 15 de fevereiro, funcionários do governo dos EUA haviam informado às autoridades britânicas sobre os vôos, que foram realizados a despeito das garantias em contrário oferecidas pela Casa Branca. Ele afirmou que "lamentava muito" que informações anteriormente fornecidas por ministros britânicos tenham sido incorretas.
O governo havia insistido em repetidas ocasiões que não estava ciente do uso de qualquer território britânico para transferência de suspeitos de terrorismo à margem dos procedimentos formais de extradição, desde a posse do presidente George W. Bush, em 2001. De acordo com o chanceler, nenhum dos dois prisioneiros era cidadão ou residente do Reino Unido e que um deles continua detido em Guantánamo e o outro foi libertado.
Ele afirmou que a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, compartilhava da sua preocupação em relação ao caso. "Nós dois concordamos que os erros cometidos em ambos os casos não são aceitáveis, e ela compartilha do meu profundo pesar quanto à informação que acaba de ser revelada a respeito desses incidentes." Miliband afirmou que Rice havia "enfatizado em conversa comigo a firme compreensão dos EUA de que não pode haver, sem permissão expressa do governo britânico, transporte de suspeitos pelo território e espaço aéreo do Reino Unido propriamente dito e de suas possessões ultramarinas".
O governo do Reino Unido sempre insistiu em que não havia provas que sugerissem que aviões da CIA, a agência de inteligência norte-americana, haviam feito escala em territórios sobre o controle do país, a despeito de um exemplo de vôo desse tipo ter sido citado em um relatório de 2006 sobre 14 países europeus envolvidos em práticas semelhantes.
A CIA admitiu ontem que os dois vôos de transporte de prisioneiro haviam sido reabastecidos em solo britânico. Michael Hayden, o diretor da agência, afirmou em mensagem a funcionários da organização que as informações anteriormente transmitidas ao Reino Unido "estavam erradas". Vôos de "transporte extraordinário de prisioneiros" começaram a ser realizados após os ataques terroristas do 11 de Setembro, em 2001. Posteriormente, forças militares norte-americanas ajudaram na derrubada do governo do Taleban, no Afeganistão.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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