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entrevista
Para analista, "direitização" derruba Le Pen
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE
PARIS
Os franceses vão às urnas ainda assombrados
pelo resultado do primeiro
turno da eleição presidencial de 2002, quando Jean-Marie le Pen, do partido de
extrema direita Frente
Nacional, passou para o
segundo turno. Com a incorporação de vários temas caros à extrema direita na campanha, como o
controle da imigração,
Jean-Yves Camus, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais em
Paris, afirma que a Le Pen
não deve chegar ao segundo turno neste ano.
A seguir, trechos de sua
entrevista à Folha.
(CC)
FOLHA - Há um fenômeno de
"direitização" do eleitorado?
JEAN-YVES CAMUS - Não podemos dizer que há uma
"direitização" do eleitorado francês, mas há uma
"direitização" dos temas
da campanha presidencial. Claramente, o centro
de gravidade dessa eleição
se deslocou para a direita.
Ségolène trouxe para a esquerda temas que estavam
nas mãos da direita, como
a "ordem justa" e a identidade nacional. Mas é importante ressaltar que o
patriotismo, por exemplo,
nasceu com a esquerda e é
uma tradição herdada da
Revolução Francesa.
FOLHA - Então por que alguns
candidatos flertam com o discurso da extrema direita?
CAMUS - Na campanha
deste ano, todos os candidatos fizeram de tudo para
evitar que Le Pen chegue
ao segundo turno. Por isso, eles emitiram vários sinais para os eleitores da
extrema direita. Sarkozy
adotou uma boa estratégia
de tentar conquistar os
eleitores de Le Pen, mas
acabou abraçando o discurso da extrema direita
de uma forma meio estabanada, fazendo amálgamas entre identidade nacional e imigração.
FOLHA - Poderemos vermos
Le Pen no segundo turno?
CAMUS - É bem menos
provável desta vez. Há
uma polarização maior
entre a esquerda e a direita. É verdade que os programas de Ségolène e de
Sarkozy começaram muito próximos, mas, ao longo
da campanha, Ségolène
procurou se dirigir cada
vez mais para a classe popular e Sarkozy imprimiu
um tom mais à direita que
o de Jacques Chirac.
FOLHA - Por que Le Pen ainda
tem tantos eleitores?
CAMUS - Há um sentimento de que a França está virando uma outra coisa;
uma sensação de declínio.
Junte-se a isso um medo
crescente dessa nova sociedade que é a França hoje. Uma sociedade plural,
multiconfessional. As angústias a respeito da globalização, do desemprego, da
imigração e da saída das
empresas instaladas na
França para outros países
ajudam a alimentar esse
eleitorado.
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