São Paulo, domingo, 22 de abril de 2007

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entrevista

Para analista, "direitização" derruba Le Pen

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Os franceses vão às urnas ainda assombrados pelo resultado do primeiro turno da eleição presidencial de 2002, quando Jean-Marie le Pen, do partido de extrema direita Frente Nacional, passou para o segundo turno. Com a incorporação de vários temas caros à extrema direita na campanha, como o controle da imigração, Jean-Yves Camus, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais em Paris, afirma que a Le Pen não deve chegar ao segundo turno neste ano. A seguir, trechos de sua entrevista à Folha. (CC)

 

FOLHA - Há um fenômeno de "direitização" do eleitorado?
JEAN-YVES CAMUS
- Não podemos dizer que há uma "direitização" do eleitorado francês, mas há uma "direitização" dos temas da campanha presidencial. Claramente, o centro de gravidade dessa eleição se deslocou para a direita.
Ségolène trouxe para a esquerda temas que estavam nas mãos da direita, como a "ordem justa" e a identidade nacional. Mas é importante ressaltar que o patriotismo, por exemplo, nasceu com a esquerda e é uma tradição herdada da Revolução Francesa.

FOLHA - Então por que alguns candidatos flertam com o discurso da extrema direita?
CAMUS
- Na campanha deste ano, todos os candidatos fizeram de tudo para evitar que Le Pen chegue ao segundo turno. Por isso, eles emitiram vários sinais para os eleitores da extrema direita. Sarkozy adotou uma boa estratégia de tentar conquistar os eleitores de Le Pen, mas acabou abraçando o discurso da extrema direita de uma forma meio estabanada, fazendo amálgamas entre identidade nacional e imigração.

FOLHA - Poderemos vermos Le Pen no segundo turno?
CAMUS
- É bem menos provável desta vez. Há uma polarização maior entre a esquerda e a direita. É verdade que os programas de Ségolène e de Sarkozy começaram muito próximos, mas, ao longo da campanha, Ségolène procurou se dirigir cada vez mais para a classe popular e Sarkozy imprimiu um tom mais à direita que o de Jacques Chirac.

FOLHA - Por que Le Pen ainda tem tantos eleitores?
CAMUS
- Há um sentimento de que a França está virando uma outra coisa; uma sensação de declínio. Junte-se a isso um medo crescente dessa nova sociedade que é a França hoje. Uma sociedade plural, multiconfessional. As angústias a respeito da globalização, do desemprego, da imigração e da saída das empresas instaladas na França para outros países ajudam a alimentar esse eleitorado.


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