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Brasil condena discurso de Ahmadinejad
A duas semanas da visita de iraniano a Brasília, embaixadora levará crítica ao plenário de conferência contra racismo da ONU
Confederação Israelita pede cancelamento da viagem; ONU diz que presidente
do Irã alterou trecho que questionava o Holocausto
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O Brasil condenará hoje no
plenário da Conferência contra
o Racismo da ONU as declarações feitas no mesmo fórum
pelo presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que deram um tom de polêmica e confronto à abertura do encontro.
As críticas ocorrem a duas semanas da visita que Ahmadinejad fará ao Brasil, em 6 de maio,
onde o tema deverá fazer parte
do encontro com o presidente
Lula. Na segunda, Ahmadinejad usou o plenário, em Genebra, para fazer duros ataques a
Israel, que acusou de racismo, e
provocou uma debandada de
diplomatas europeus.
Ontem, a ONU tentou salvar
a conferência, anunciando a
aprovação por consenso do documento final. Mas a saída da
República Tcheca, que se juntou a outros oito países que decidiram boicotar o encontro,
manteve o ambiente tenso.
Além disso, houve novos protestos contra o Irã.
"Intolerância"
A delegação brasileira não se
retirou, mas ontem deixou claro seu desagrado, especialmente em relação ao questionamento do Holocausto. "Queria
frisar e deixar clara a posição da
delegação brasileira, de condenação veemente da postura do
presidente, que não condiz com
o ambiente da conferência",
disse o ministro da Igualdade
Racial, Edson Santos. "Ele esteve aqui com um discurso agressivo, de intolerância, que não
reconhece fatos históricos condenados pela humanidade, a
saber, o Holocausto."
Num trecho do discurso distribuído pela diplomacia iraniana, Ahmadinejad diz que Israel foi criado "sob o pretexto
dos sofrimentos judeus e da
ambígua e dúbia questão do
Holocausto". Ontem, a ONU
buscou diluir a polêmica, afirmando que Ahmadinejad mudou o trecho ao discursar e disse "sob o pretexto dos sofrimentos judeus e o abuso da
questão do Holocausto".
Nota do Itamaraty condenou
o discurso de Ahmadinejad,
afirmando que "manifestações
dessa natureza prejudicam o
clima de diálogo e entendimento necessário ao tratamento internacional da questão da discriminação".
A mensagem será reiterada
hoje no discurso da embaixadora do Brasil no escritório da
ONU em Genebra, Maria Nazareth Farani de Azevêdo.
O ministro Edson Santos disse que os interesses do Brasil na
relação com o Irã não deverão
inibir o presidente Lula de repetir as críticas no encontro
com Ahmadinejad. "Embora
haja colaboração em outros
campos da economia, isso não
impede o governo brasileiro de
colocar a discordância com a
orientação política e ideológica
do governo do Irã."
Ontem, a Confederação Israelita do Brasil cobrou de Lula
que "não permita que o presidente do Irã acredite ter um
aliado em Brasília". "Repudiamos a eventual presença de
Ahmadinejad no solo de um
país como o nosso, democrático e hospitaleiro, que acolheu
tantos sobreviventes do Holocausto", diz nota da entidade.
Consenso
A alta comissária de Direitos
Humanos da ONU, Navi Pillay,
comemorou ontem a aprovação do documento final da conferência por consenso. Ele foi
assinado por todos os 192
membros da ONU, com exceção dos nove que boicotaram a
reunião: Israel, Estados Unidos, Austrália, Itália, Canadá,
Alemanha, Nova Zelândia, Polônia e República Tcheca.
Apesar de os trechos mais
polêmicos terem sido retirados, como as referências ao
conflito no Oriente Médio e o
conceito de "difamação de religiões", esses países decidiram
ficar de fora porque o documento reafirma as resoluções
da conferência contra o racismo de Durban que consideram
injusta em relação a Israel.
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