São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 2009

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Brasil condena discurso de Ahmadinejad

A duas semanas da visita de iraniano a Brasília, embaixadora levará crítica ao plenário de conferência contra racismo da ONU

Confederação Israelita pede cancelamento da viagem; ONU diz que presidente do Irã alterou trecho que questionava o Holocausto


MARCELO NINIO
DE GENEBRA

O Brasil condenará hoje no plenário da Conferência contra o Racismo da ONU as declarações feitas no mesmo fórum pelo presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que deram um tom de polêmica e confronto à abertura do encontro.
As críticas ocorrem a duas semanas da visita que Ahmadinejad fará ao Brasil, em 6 de maio, onde o tema deverá fazer parte do encontro com o presidente Lula. Na segunda, Ahmadinejad usou o plenário, em Genebra, para fazer duros ataques a Israel, que acusou de racismo, e provocou uma debandada de diplomatas europeus.
Ontem, a ONU tentou salvar a conferência, anunciando a aprovação por consenso do documento final. Mas a saída da República Tcheca, que se juntou a outros oito países que decidiram boicotar o encontro, manteve o ambiente tenso. Além disso, houve novos protestos contra o Irã.

"Intolerância"
A delegação brasileira não se retirou, mas ontem deixou claro seu desagrado, especialmente em relação ao questionamento do Holocausto. "Queria frisar e deixar clara a posição da delegação brasileira, de condenação veemente da postura do presidente, que não condiz com o ambiente da conferência", disse o ministro da Igualdade Racial, Edson Santos. "Ele esteve aqui com um discurso agressivo, de intolerância, que não reconhece fatos históricos condenados pela humanidade, a saber, o Holocausto."
Num trecho do discurso distribuído pela diplomacia iraniana, Ahmadinejad diz que Israel foi criado "sob o pretexto dos sofrimentos judeus e da ambígua e dúbia questão do Holocausto". Ontem, a ONU buscou diluir a polêmica, afirmando que Ahmadinejad mudou o trecho ao discursar e disse "sob o pretexto dos sofrimentos judeus e o abuso da questão do Holocausto".
Nota do Itamaraty condenou o discurso de Ahmadinejad, afirmando que "manifestações dessa natureza prejudicam o clima de diálogo e entendimento necessário ao tratamento internacional da questão da discriminação".
A mensagem será reiterada hoje no discurso da embaixadora do Brasil no escritório da ONU em Genebra, Maria Nazareth Farani de Azevêdo.
O ministro Edson Santos disse que os interesses do Brasil na relação com o Irã não deverão inibir o presidente Lula de repetir as críticas no encontro com Ahmadinejad. "Embora haja colaboração em outros campos da economia, isso não impede o governo brasileiro de colocar a discordância com a orientação política e ideológica do governo do Irã."
Ontem, a Confederação Israelita do Brasil cobrou de Lula que "não permita que o presidente do Irã acredite ter um aliado em Brasília". "Repudiamos a eventual presença de Ahmadinejad no solo de um país como o nosso, democrático e hospitaleiro, que acolheu tantos sobreviventes do Holocausto", diz nota da entidade.

Consenso
A alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, comemorou ontem a aprovação do documento final da conferência por consenso. Ele foi assinado por todos os 192 membros da ONU, com exceção dos nove que boicotaram a reunião: Israel, Estados Unidos, Austrália, Itália, Canadá, Alemanha, Nova Zelândia, Polônia e República Tcheca.
Apesar de os trechos mais polêmicos terem sido retirados, como as referências ao conflito no Oriente Médio e o conceito de "difamação de religiões", esses países decidiram ficar de fora porque o documento reafirma as resoluções da conferência contra o racismo de Durban que consideram injusta em relação a Israel.


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