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Campanha britânica ferve antes de 2º debate eleitoral
Véspera do confronto entre os três candidatos é marcada por troca de acusações
Embate anterior, o primeiro na história do país, alterou o cenário para a eleição do dia 6 e personalizou cobertura; tema hoje é política externa
DE GENEBRA
Os líderes dos três principais
partidos britânicos -um dos
quais deve ser o premiê do Reino Unido pelos próximos cinco
anos- se enfrentam hoje num
segundo debate na TV, abrindo
a reta final de uma campanha
cuja tensão sobe na mesma medida que a atenção do público.
A véspera do confronto foi de
troca de acusações, escrutínio
de táticas e detalhadas análises
sobre retórica e gestos na tentativa de antecipar como se sairão o premiê trabalhista Gordon Brown, seu oponente conservador David Cameron e o
astro ascendente Nick Clegg,
dos liberais-democratas.
O debate da semana passada,
o primeiro não só desta eleição
mas da história do Reino Unido, mudou a cobertura da corrida britânica, em que a personalidade do candidato -o sistema
é parlamentarista- conta menos que nos EUA e no Brasil.
Os três estão cientes e tentaram ontem tirar proveito da
personalização da campanha,
antes centrada nos partidos.
Clegg disse ao "Daily Telegraph" que Brown está "desesperado" -sinal lido pelos analistas como obstáculo à aliança
entre trabalhistas e liberais-democratas caso nenhum partido
obtenha maioria ampla no Parlamento, cenário provável.
"Ele tenta se apresentar como um agente da reforma e do
bloco quando seu partido por
13 anos foi um bloco teimoso
contra a reforma", disse Clegg.
"Por que nos submeteríamos a
um partido que se recusa a lidar
com as falhas em prestação de
contas e transparência?"
Mas Brown, que vê em Clegg
sua melhor chance de seguir no
cargo, acenou ao rival e afirmou
querer uma "coalizão progressista para manter os conservadores longe do poder".
Foi o suficiente para David
Cameron, que vê sua vantagem
encolher para a margem de erro, dizer que os adversários não
se entendem (ontem, ele quase
levou uma ovada em um discurso). A campanha de Cameron -bem como atores do mercado e da economia britânica-
vem martelando nos últimos
dias os riscos de um governo
sem maioria, que tropeçaria
para fazer passar sua agenda.
Em pesquisa do YouGov divulgada ontem, os liberais-democratas já surgem na frente,
com 34% das intenções contra
31% para os conservadores e
26% para os trabalhistas. Em
outros levantamentos, porém,
Cameron aparece à frente.
Documentos no táxi
O liberal-democrata teve de
rebater ontem mais críticas de
que imita Cameron -ambos
são jovens, exímios oradores e
têm o mesmo tipo físico. Anotações de um assessor achadas
em um táxi sugeriam que ele
usasse a linguagem do conservador e retratasse a oratória de
Brown como esquisita.
Questionado, saiu-se com
uma piada em alusão ao extravio de documentos confidenciais por descuido de funcionários do governo em 2007 -"estou feliz que minha equipe esteja se preparando para governar criando o hábito de deixar
documentos em táxis". Depois,
negou emular o rival.
O embate de hoje, que começa às 20h (16h no Brasil), será
focado em política externa.
Mas as expectativas de ouvir
algo substancial são pequenas.
O historiador Timothy Garton
Ash, no "Guardian", lembra
que a forma pode ter mais impacto do que o conteúdo do discurso em um grau maior ainda
do que no primeiro debate.
"Com a grande exceção da
Europa [Cameron é eurocético
contumaz, Brown, reticente, e
Clegg, eurocentrista], as diferenças em temas externos são
espantosamente pequenas",
escreve. Garton Ash lista como
temas de que os candidatos deveriam tratar a detenção sem
julgamento prolongada de suspeitos de terrorismo, a protelada adesão ao euro e, claro, o lugar do Reino Unido no mundo.
Na outra quinta, o embate é
sobre um tema-chave: economia -ontem, o país anunciou
seu pior índice de desemprego
em 16 anos. A votação é em 6 de
maio.
(LUCIANA COELHO)
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