São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2010

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Campanha britânica ferve antes de 2º debate eleitoral

Véspera do confronto entre os três candidatos é marcada por troca de acusações

Embate anterior, o primeiro na história do país, alterou o cenário para a eleição do dia 6 e personalizou cobertura; tema hoje é política externa


DE GENEBRA

Os líderes dos três principais partidos britânicos -um dos quais deve ser o premiê do Reino Unido pelos próximos cinco anos- se enfrentam hoje num segundo debate na TV, abrindo a reta final de uma campanha cuja tensão sobe na mesma medida que a atenção do público.
A véspera do confronto foi de troca de acusações, escrutínio de táticas e detalhadas análises sobre retórica e gestos na tentativa de antecipar como se sairão o premiê trabalhista Gordon Brown, seu oponente conservador David Cameron e o astro ascendente Nick Clegg, dos liberais-democratas.
O debate da semana passada, o primeiro não só desta eleição mas da história do Reino Unido, mudou a cobertura da corrida britânica, em que a personalidade do candidato -o sistema é parlamentarista- conta menos que nos EUA e no Brasil.
Os três estão cientes e tentaram ontem tirar proveito da personalização da campanha, antes centrada nos partidos. Clegg disse ao "Daily Telegraph" que Brown está "desesperado" -sinal lido pelos analistas como obstáculo à aliança entre trabalhistas e liberais-democratas caso nenhum partido obtenha maioria ampla no Parlamento, cenário provável.
"Ele tenta se apresentar como um agente da reforma e do bloco quando seu partido por 13 anos foi um bloco teimoso contra a reforma", disse Clegg. "Por que nos submeteríamos a um partido que se recusa a lidar com as falhas em prestação de contas e transparência?"
Mas Brown, que vê em Clegg sua melhor chance de seguir no cargo, acenou ao rival e afirmou querer uma "coalizão progressista para manter os conservadores longe do poder".
Foi o suficiente para David Cameron, que vê sua vantagem encolher para a margem de erro, dizer que os adversários não se entendem (ontem, ele quase levou uma ovada em um discurso). A campanha de Cameron -bem como atores do mercado e da economia britânica- vem martelando nos últimos dias os riscos de um governo sem maioria, que tropeçaria para fazer passar sua agenda.
Em pesquisa do YouGov divulgada ontem, os liberais-democratas já surgem na frente, com 34% das intenções contra 31% para os conservadores e 26% para os trabalhistas. Em outros levantamentos, porém, Cameron aparece à frente.

Documentos no táxi
O liberal-democrata teve de rebater ontem mais críticas de que imita Cameron -ambos são jovens, exímios oradores e têm o mesmo tipo físico. Anotações de um assessor achadas em um táxi sugeriam que ele usasse a linguagem do conservador e retratasse a oratória de Brown como esquisita.
Questionado, saiu-se com uma piada em alusão ao extravio de documentos confidenciais por descuido de funcionários do governo em 2007 -"estou feliz que minha equipe esteja se preparando para governar criando o hábito de deixar documentos em táxis". Depois, negou emular o rival.
O embate de hoje, que começa às 20h (16h no Brasil), será focado em política externa.
Mas as expectativas de ouvir algo substancial são pequenas. O historiador Timothy Garton Ash, no "Guardian", lembra que a forma pode ter mais impacto do que o conteúdo do discurso em um grau maior ainda do que no primeiro debate.
"Com a grande exceção da Europa [Cameron é eurocético contumaz, Brown, reticente, e Clegg, eurocentrista], as diferenças em temas externos são espantosamente pequenas", escreve. Garton Ash lista como temas de que os candidatos deveriam tratar a detenção sem julgamento prolongada de suspeitos de terrorismo, a protelada adesão ao euro e, claro, o lugar do Reino Unido no mundo.
Na outra quinta, o embate é sobre um tema-chave: economia -ontem, o país anunciou seu pior índice de desemprego em 16 anos. A votação é em 6 de maio. (LUCIANA COELHO)

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