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Kissinger nega que tenha se omitido na Operação Condor
Ex-secretário de Estado diz que telegrama recém-descoberto não significa suspensão de ação diplomática para evitar mortes
Porta-voz de americano diz à Folha que denúncias de omissão, reforçadas pelo National Security Archive, são "totalmente falsas"
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-secretário de Estado
americano Henry Kissinger nega ter ordenado, em 1976, a suspensão dos esforços diplomáticos para advertir ditaduras sul-americanas contra assassinatos no exterior no âmbito da
Operação Condor, de colaboração entre os regimes militares
da região.
"A acusação é totalmente falsa", disse um porta-voz de Kissinger, 86, em resposta a questionamento enviado por e-mail
pela Folha.
A denúncia sobre a omissão
de Kissinger diante dos assassinatos foi reforçada no início do
mês pelo National Security Archive, instituição não governamental de Washington.
A ONG descobriu um telegrama de Kissinger a seu secretário-assistente para Assuntos
Hemisféricos, Harry Shlaudeman, que classifica como a "peça perdida" num quebra-cabeças de documentos relacionados à Operação Condor.
No telegrama, de 16 de setembro de 1976, Kissinger respondia a uma mensagem, de 30
de agosto, em que Shlaudeman
pedia instrução após o embaixador em Montevidéu ter-lhe
dito que correria risco de vida
se comunicasse à ditadura local
"a profunda preocupação" dos
EUA sobre os "rumores" de assassinatos -ordem assinada
por Kissinger e que fora transmitida, no dia 23 de agosto, às
embaixadas do Cone Sul.
Na resposta curta, o então
secretário de Estado se nega "a
aprovar mensagem para Montevidéu" e determina que "nenhuma nova iniciativa seja tomada nessa questão".
O porta-voz de Kissinger
afirma que o telegrama refere-se apenas ao Uruguai. "O Chile
não é mencionado", diz. Segundo ele, continuaram valendo as
instruções de 23 de agosto,
"que foram transmitidas no
início de outubro ao chefe da
inteligência chilena".
O porta-voz menciona um
telegrama de 8 de outubro, parcialmente censurado antes da
liberação, em que Shlaudeman
diz a Kissinger que Manuel
Contreras, chefe da Dina (a polícia política chilena), "revelou
que já estava a par de nossa
preocupação".
Não fica claro quem falou
com Contreras ou quando, já
que o embaixador em Santiago
também resistira a transmitir
as advertências, dizendo temer
ofender o ditador Augusto Pinochet. Àquela altura, no entanto, o ex-chanceler chileno
Orlando Letelier já havia sido
morto na capital dos EUA, em
atentado executado pela Dina
no dia 21 de setembro.
Na véspera, dia 20, Shlaudeman ordenara que os embaixadores no Cone Sul fossem instruídos a "não adotar nenhuma
nova iniciativa", uma vez que
"não houve informes nas semanas recentes indicando uma intenção de ativar o esquema
Condor".
O porta-voz de Kissinger
afirma que essa última mensagem não significou a efetivação
de uma contra-ordem. Mas, para os pesquisadores do período,
foi o que aconteceu. "O Departamento de Estado iniciou um
esforço para impedir uma "Assassinatos Ltda" no Cone Sul, e
Kissinger, sem explicação, o
abortou", disse Peter Kornbluh, do National Security Archive, ao divulgar o documento
recém-descoberto.
O ex-secretário de Estado é
cioso da memória de suas ações
no governo americano -o Archive teve que recorrer à Justiça para ter acesso a documentos do período. Ele escreveu
três autobiografias e nega participação no golpe chileno de
1973, embora não o apoio a Pinochet. "Consideramos que a
mudança de governo no Chile
foi de modo geral favorável
-mesmo da perspectiva dos
direitos humanos", escreveu.
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