São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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Ocidente vê petróleo caro como ameaça geopolítica

Sob pressão, sauditas organizam conferência para tentar conter preço do barril

Potências ocidentais temem a instabilidade provocada pelos preços recordes de comida e combustível nos países em desenvolvimento


CAROLA HOYOS E JAVIER BLAS
DO "FINANCIAL TIMES"

Washington há 30 anos considera o petróleo questão de segurança nacional, e se preocupa com a possibilidade de que um país hostil do Oriente Médio ganhe controle sobre a força motora da sua economia, como os países árabes fizeram durante o embargo de 1973.
Agora, os políticos europeus e americanos estão vinculando o petróleo e os preços recordes da comida a uma nova ameaça estratégica: a instabilidade nos países em desenvolvimento.
Nas últimas semanas, altos funcionários de governos ocidentais começaram discretamente a alterar sua ênfase quanto à crise do petróleo e dos alimentos; em lugar de considerá-la como problema puramente social, eles se preocupam com a possibilidade de que governos caiam quando pessoas famintas e desprovidas de combustível saírem às ruas para expressar sua ira.
O premiê do Haiti foi demitido pela Assembléia Nacional, alguns meses atrás, devido a protestos por falta de alimentos. O Paquistão informou à Arábia Saudita, neste mês, que não poderia pagar sua conta de petróleo, e a China aderiu, nesta semana, ao crescente número de países asiáticos forçados a reduzir seus dispendiosos subsídios aos combustíveis.
Josette Sheeran, diretora executiva do Programa Mundial de Alimentos, alertou que os distúrbios registrados em mais de 30 países eram "lembretes sombrios de que a insegurança alimentar é uma ameaça não só de fome mas também à paz e à estabilidade".
Lee Hsien Loong, premiê de Cingapura, declarou na abertura de uma conferência de segurança, no mês passado, que o desgaste causado pela fome poderia resultar em sublevação social e distúrbios civis, o que exacerbaria condições que já causaram o colapso de Estados.
Mas só agora, com os preços do petróleo perto de US$ 140 e diversas commodities agrícolas batendo recordes, esse tipo de raciocínio começa a ser transferido à política externa. O sinal mais visível dessa mudança é a conferência de cúpula sobre o petróleo que começa hoje em Jidda (Arábia Saudita). Pela primeira vez, ministros e executivos do setor discutirão o que está causando a alta e o que fazer para revertê-la. Na sexta-feira, o barril estava em torno de US$ 134. "Nos próximos dias, testemunharemos outra alta no preço do petróleo", disse ontem Hojjatollah Ghanimifard, responsável pelo setor internacional da Companhia Nacional de Petróleo do Irã.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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