São Paulo, segunda-feira, 22 de junho de 2009

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Estrangeiros comandam os distúrbios, diz governo do Irã

Europa sobe o tom, e Merkel pede recontagem total

DA REDAÇÃO

Autoridades iranianas acusaram ontem os países ocidentais de "interferir" em assuntos internos do Irã e de serem os verdadeiros responsáveis por fomentar os atuais protestos da oposição, com o objetivo de derrubar o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores afirmou que a "Voice of America", rádio financiada pelos EUA, e a britânica BBC eram os "postos de comando dos distúrbios".
Ao mesmo tempo, a chanceler (premiê) alemã, Angela Merkel, pediu recontagem total dos votos da contestada eleição de 12 de junho. Países europeus negaram as acusações dos iranianos e exortaram Teerã a abrir mão da violenta repressão que vem praticando contra os protestos da oposição.
O primeiro ataque de ontem às potências ocidentais por parte dos iranianos veio do ministro das Relações Exteriores, Manoucher Mottaki, que após convocar os diplomatas europeus pela manhã, acusou França, Alemanha e Reino Unido de tentarem aproveitar as eleições presidenciais para tentar derrubar o regime estabelecido com a Revolução Islâmica.
Segundo Mottaki, "o Reino Unido preparava um complô contra a eleição presidencial do Irã há mais de dois anos". O ministro afirmou ter informações de que "pessoas relacionadas com a inteligência britânica aportaram em massa no país logo antes da eleição".
O interesse da diplomacia britânica, ele disse, é perturbar a paz no Oriente Médio para "proteger o Estado sionista", em referência a Israel.
Para Ahmadinejad, que se manifestou de forma mais moderada que seu ministro, EUA e Reino Unido devem "corrigir a sua atitude intervencionista".
O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Miliband, rechaçou as acusações, afirmando que países estrangeiros nada têm a ver com os protestos de cidadãos iranianos que acusam o governo de ter fraudado as eleições.
A chanceler alemã disse que seu país, na verdade, está "do lado do povo iraniano, que deseja exercer seu direito de liberdade de expressão".
Em entrevista, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse que a repressão no Irã é "indesculpável", e que o governo local, "depois de ter conduzido seu povo ao isolamento internacional, agora lhe tira direitos democráticos elementares".
Já o presidente americano, Barack Obama, que tem procurado não se manifestar sobre o tema específico da suposta fraude na eleição, repetiu ontem as acusações que fizera na véspera à forma "violenta e injusta" com que Teerã tem reprimido as manifestações.
Ele tem sido criticado por sua "timidez" por republicanos, mas recebeu apoios ontem de integrantes democratas do Legislativo, que disseram ser correta a posição de não intervenção adotada pelo presidente.
O senador Christopher Dodd argumentou que um apoio aberto de Obama à oposição iraniana poderia prejudicar o próprio esforço dos reformistas, dando motivos para ataques do regime islâmico contra a "interferência" externa.
Menos cautelosos, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, se manifestaram ontem sobre o Irã, em direções opostas. Para Netanyahu, a "verdadeira natureza do regime foi desmascarada graças aos atos de valentia" da oposição.
Chávez pediu "ao mundo" que "respeite o Irã". Segundo ele, está em curso uma tentativa de se abalar "a fortaleza da Revolução Iraniana".


Com agências internacionais


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