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Nobel argentino diz que EUA não revelaram tudo
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
O arquiteto e escultor argentino Adolfo Pérez Esquivel,
Prêmio Nobel da Paz em 1980,
acredita que o governo americano tenha filtrado os documentos sobre a ditadura na Argentina para evitar que viesse à
tona seu possível envolvimento
em atos de violência.
Em entrevista à Folha, Esquivel disse que, mesmo após serem filtrados, os documentos
mostram que os EUA eram informados regularmente pelos
militares argentinos sobre a repressão. "Os norte-americanos
poderiam ter salvado vidas,
mas não o fizeram porque
apoiavam os militares."
Em nota, a Embaixada dos
EUA em Buenos Aires afirmou
ter decidido divulgar os mais
de 4.600 documentos para
"ajudar a Argentina na investigação da violência" nos quatro
últimos governos militares,
que levou ao desaparecimento
de ao menos 15 mil pessoas. O
regime de exceção argentino
durou de 1976 a 1983.
Esquivel afirmou também
não acreditar que venham a ser
divulgadas provas de que o
próprio governo dos EUA tenha articulado os golpes que levaram militares latino-americanos ao poder.
"Os EUA promoveram o terrorismo de Estado bastante
presente em países latino-americanos nas décadas de 70 e 80
para manter a hegemonia na
região", disse Esquivel, que ganhou o Nobel por ter feito relatórios sobre violações de direitos humanos no período.
Esquivel, no entanto, considera um avanço a liberação dos
documentos porque, a partir
de agora, novos dados poderão
ser agregados às investigações
judiciais sobre os crimes cometidos durante a ditadura argentina e também sobre a Operação Condor (acordo de cooperação entre os regimes militares sul-americanos e que facilitou a repressão na década de
70).
De la Rúa
Em um dos documentos elaborados pelo governo dos EUA
em 1977, o então senador e depois presidente Fernando de la
Rúa (1999-2001) é classificado
como um "cínico".
De la Rúa, que tentava se
mostrar como defensor dos direitos humanos, era considerado pelos norte-americanos "o
mais aberto defensor da junta
militar" que então governava a
Argentina, segundo o então
conselheiro da Embaixada dos
EUA no país, William Hallman, por considerar "corretas
quase todas" as decisões tomadas pelas forças de segurança.
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