São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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Nobel argentino diz que EUA não revelaram tudo

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O arquiteto e escultor argentino Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz em 1980, acredita que o governo americano tenha filtrado os documentos sobre a ditadura na Argentina para evitar que viesse à tona seu possível envolvimento em atos de violência.
Em entrevista à Folha, Esquivel disse que, mesmo após serem filtrados, os documentos mostram que os EUA eram informados regularmente pelos militares argentinos sobre a repressão. "Os norte-americanos poderiam ter salvado vidas, mas não o fizeram porque apoiavam os militares."
Em nota, a Embaixada dos EUA em Buenos Aires afirmou ter decidido divulgar os mais de 4.600 documentos para "ajudar a Argentina na investigação da violência" nos quatro últimos governos militares, que levou ao desaparecimento de ao menos 15 mil pessoas. O regime de exceção argentino durou de 1976 a 1983.
Esquivel afirmou também não acreditar que venham a ser divulgadas provas de que o próprio governo dos EUA tenha articulado os golpes que levaram militares latino-americanos ao poder.
"Os EUA promoveram o terrorismo de Estado bastante presente em países latino-americanos nas décadas de 70 e 80 para manter a hegemonia na região", disse Esquivel, que ganhou o Nobel por ter feito relatórios sobre violações de direitos humanos no período.
Esquivel, no entanto, considera um avanço a liberação dos documentos porque, a partir de agora, novos dados poderão ser agregados às investigações judiciais sobre os crimes cometidos durante a ditadura argentina e também sobre a Operação Condor (acordo de cooperação entre os regimes militares sul-americanos e que facilitou a repressão na década de 70).

De la Rúa
Em um dos documentos elaborados pelo governo dos EUA em 1977, o então senador e depois presidente Fernando de la Rúa (1999-2001) é classificado como um "cínico".
De la Rúa, que tentava se mostrar como defensor dos direitos humanos, era considerado pelos norte-americanos "o mais aberto defensor da junta militar" que então governava a Argentina, segundo o então conselheiro da Embaixada dos EUA no país, William Hallman, por considerar "corretas quase todas" as decisões tomadas pelas forças de segurança.


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