São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2008

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Chávez ataca governador que rompeu com governo

Venezuelano usa militares para fechar duas emissoras de rádio do rival político

Dirigente de Guárico deixou partido governista ao ter filha preterida por chavista em primárias para eleições regionais de novembro

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Num sinal de que a Venezuela se aproxima de mais uma tensa jornada eleitoral, o governo Hugo Chávez fechou nesta semana duas emissoras de rádio e ameaçou uma intervenção militar no Estado de Guárico (centro), controlado pelo ex-aliado Eduardo Manuitt.
Chamado de "traidor" e "contra-revolucionário" por Chávez, Manuitt foi expulso em junho do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) ao alegar irregularidades nas primárias em que sua filha Lenny, que pretendia se candidatar ao governo de Guárico, foi derrotada pelo ex-ministro das Comunicações Willian Lara, próximo a Chávez.
As declarações do presidente venezuelano contra Manuitt atingiram o ápice na segunda, quando acusou o governo estadual de usar a polícia com fins políticos. "Não permitirei que esta polícia seja usada contra o povo nem contra os funcionários do governo", disse, em comício ao lado de Lara. "Manuitt é um Judas, e sua filha, igual."
Horas depois, funcionários da Conatel (Comissão Nacional de Telecomunicações) acompanhados por soldados confiscaram equipamentos das emissoras de Guárico, Rumbera Network 101.5 e Llanera 91.3 FM. As duas estão fora do ar.
Este é o terceiro episódio nesta semana em que o governo Chávez usa militares em operações do governo. Na mesma segunda, membros da Guarda Nacional apoiaram o confisco de 1,6 tonelada de arroz de um supermercado acusado de vender o produto fora da tabela. Na terça, militares ocuparam instalações da cimenteira Cemex, que não chegou a um acordo para a venda de suas fábricas ao Estado.
De Pequim, Manuitt disse que o fechamento das emissoras é retaliação política. "Quero denunciar a intervenção nessas emissoras, que não se uniram à campanha de Lara."
A Conatel afirmou que as duas emissoras estavam funcionando sem autorização e têm 15 dias para regularizar a sua situação.
Andrés Cañizález, pesquisador do Centro de Investigação da Comunicação (CIC) da Universidade Católica Andrés Bello (Ucab), afirma que dezenas de rádios do país funcionam irregularmente com tolerância oficial. "É um alerta de que isso pode ocorrer em locais do interior onde os meios de comunicação têm uma dependência muito maior do governo."
Marcadas para 23 de novembro, as eleições regionais renovarão praticamente todos os governadores e prefeitos da Venezuela, hoje majoritariamente pró-governo. Uma vitória convincente é considerada fundamental para Chávez, que espera relançar a proposta da reeleição indefinida, derrotada em referendo no ano passado.


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