São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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Annan diz que todos devem se submeter à lei

DE NOVA YORK

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, exortou o cumprimento da lei internacional e afirmou que países que a invocam devem também se submeter a ela, numa alusão ao fato de os EUA terem ido à guerra no Iraque sem o aval das Nações Unidas. O discurso, no início da 59ª Assembléia Geral da ONU, endossa a afirmação feita por ele na semana passada de que a Guerra do Iraque foi ilegal.
"Hoje, mais do que nunca, o mundo precisa de um mecanismo efetivo pelo qual buscar soluções a problemas comuns. Foi para isso que esta organização foi criada. Não vamos imaginar que, caso fracassemos em usá-la, encontraremos um instrumento mais efetivo", declarou.
"Não prejulgarei essas decisões, mas lembrarei da importância da lei no mundo", acrescentou, invocando o Código de Hamurabi -a mais antiga lei escrita do mundo, criada onde hoje é o Iraque.
Embora não tenha mencionado diretamente os EUA, Annan citou a tortura de prisioneiros iraquianos por soldados dos EUA ao lado dos ataques terroristas no país, da carnificina em Darfur (Sudão), da mutilação e da exploração de crianças em Uganda e do seqüestro e do assassinato de crianças por terroristas em uma escola em Beslan (Rússia). "A lei está em risco no mundo. Vemos sucessivamente as leis serem vergonhosamente desrespeitadas", disse. Annan também condenou os ataques de terroristas palestinos em Israel e a destruição de casas palestinas em represália.
O secretário-geral também fez uma referência velada à limitação das liberdades civis em nome da guerra ao terrorismo travada pelos EUA. "Em muitos lugares, o cumprimento da lei é evasivo. Em alguns momentos, até a necessária luta contra o terrorismo tem a permissão para atropelar desnecessariamente as liberdades civis", declarou.
Annan não foi o único a criticar a posição americana em seu discurso. O premiê espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, foi bem mais explícito em seu pronunciamento.
"A maioria esmagadora do povo espanhol se manifestou contra a guerra. Não nos convenceram as razões apresentadas pelos que a promoveram. Manifestamos essa opinião nas ruas e no Parlamento espanhol. Dissemos que ganhar a guerra era muito mais fácil que ganhar a paz, que é uma tarefa que exige mais valentia, mais determinação e mais heroísmo do que a guerra", afirmou o premiê, que, tão logo assumiu, em abril, ordenou a retirada das tropas mandadas por seu antecessor, José María Aznar, ao país.
Zapatero também propôs uma aliança entre países ocidentais e países árabes e muçulmanos para aprofundar as relações políticas, culturais e educacionais. "Caiu um muro. Devemos agora evitar que o ódio e a incompreensão levantem outro", afirmou, citando os conflitos no Oriente Médio.

Kerry
Nos EUA, o adversário do presidente George W. Bush nas eleições de novembro, John Kerry, criticou seu discurso à Assembléia, acusando-o de tentar "ditar a direção" aos líderes mundiais "ao invés de lhes mostrar o caminho".
"Precisamos de um enfoque muito diferente para ter sucesso no Iraque", disse. "O presidente tem de se adaptar ao mundo real. George W. Bush não tem credibilidade para dirigir o mundo."


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