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Annan diz que todos devem se submeter à lei
DE NOVA YORK
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, exortou o cumprimento
da lei internacional e afirmou que
países que a invocam devem também se submeter a ela, numa alusão ao fato de os EUA terem ido à
guerra no Iraque sem o aval das
Nações Unidas. O discurso, no
início da 59ª Assembléia Geral da
ONU, endossa a afirmação feita
por ele na semana passada de que
a Guerra do Iraque foi ilegal.
"Hoje, mais do que nunca, o
mundo precisa de um mecanismo efetivo pelo qual buscar soluções a problemas comuns. Foi para isso que esta organização foi
criada. Não vamos imaginar que,
caso fracassemos em usá-la, encontraremos um instrumento
mais efetivo", declarou.
"Não prejulgarei essas decisões,
mas lembrarei da importância da
lei no mundo", acrescentou, invocando o Código de Hamurabi -a
mais antiga lei escrita do mundo,
criada onde hoje é o Iraque.
Embora não tenha mencionado
diretamente os EUA, Annan citou
a tortura de prisioneiros iraquianos por soldados dos EUA ao lado
dos ataques terroristas no país, da
carnificina em Darfur (Sudão), da
mutilação e da exploração de
crianças em Uganda e do seqüestro e do assassinato de crianças
por terroristas em uma escola em
Beslan (Rússia). "A lei está em risco no mundo. Vemos sucessivamente as leis serem vergonhosamente desrespeitadas", disse. Annan também condenou os ataques de terroristas palestinos em
Israel e a destruição de casas palestinas em represália.
O secretário-geral também fez
uma referência velada à limitação
das liberdades civis em nome da
guerra ao terrorismo travada pelos EUA. "Em muitos lugares, o
cumprimento da lei é evasivo. Em
alguns momentos, até a necessária luta contra o terrorismo tem a
permissão para atropelar desnecessariamente as liberdades civis", declarou.
Annan não foi o único a criticar
a posição americana em seu discurso. O premiê espanhol, José
Luis Rodríguez Zapatero, foi bem
mais explícito em seu pronunciamento.
"A maioria esmagadora do povo espanhol se manifestou contra
a guerra. Não nos convenceram
as razões apresentadas pelos que a
promoveram. Manifestamos essa
opinião nas ruas e no Parlamento
espanhol. Dissemos que ganhar a
guerra era muito mais fácil que
ganhar a paz, que é uma tarefa
que exige mais valentia, mais determinação e mais heroísmo do
que a guerra", afirmou o premiê,
que, tão logo assumiu, em abril,
ordenou a retirada das tropas
mandadas por seu antecessor, José María Aznar, ao país.
Zapatero também propôs uma
aliança entre países ocidentais e
países árabes e muçulmanos para
aprofundar as relações políticas,
culturais e educacionais. "Caiu
um muro. Devemos agora evitar
que o ódio e a incompreensão levantem outro", afirmou, citando
os conflitos no Oriente Médio.
Kerry
Nos EUA, o adversário do presidente George W. Bush nas eleições de novembro, John Kerry,
criticou seu discurso à Assembléia, acusando-o de tentar "ditar
a direção" aos líderes mundiais
"ao invés de lhes mostrar o caminho".
"Precisamos de um enfoque
muito diferente para ter sucesso
no Iraque", disse. "O presidente
tem de se adaptar ao mundo real.
George W. Bush não tem credibilidade para dirigir o mundo."
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