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Xeque defende seqüestro como ato de resistência
RÉMY OUDAN
DO "LE MONDE", EM BAGDÁ
Ele é um xeque influente. Pertence a uma facção da guerrilha
iraquiana que combate lado a lado com voluntários árabes estrangeiros, que rejeitam da forma
mais extrema a presença americana no país. "O seqüestro é uma
nova estratégia da resistência",
diz ele, com o compromisso de
não ter sua identidade revelada.
"É preciso que nós, islâmicos,
nos informemos, façamos inquéritos. Temos o direito de matar
quem quer que seja, mesmo um
muçulmano que trabalhe para as
forças de ocupação ou que lhes
preste auxílio. Nossa religião nos
ensina que será morto quem der
água ao estrangeiro opressor. As
coisas são para nós assim."
Essas declarações sobre uma
"nova estratégia" são feitas em
meio a uma sucessão de estrangeiros mortos ou ainda mantidos
como reféns em Bagdá.
Os últimos seqüestros foram
reivindicados por uma organização clandestina que se autodenomina Tawhid e Jihad (Unificação
e Guerra Santa), e que seria comandada por Abu Musab al Zarqawi, considerado por Washington como o representante da Al
Qaeda no Iraque.
Nova modalidade
Os cerca de 200 a 300 seqüestros
de estrangeiros ocorridos a partir
de abril são considerados pelo xeque como "seqüestros oportunos". A expressão é também utilizada por um diplomata. Suas vítimas eram capturadas em estradas
ou ao acaso. Agora seriam os "seqüestros planificados", nos quais
se procura punir a nacionalidade
das vítimas e o papel que seus países de origem vêm exercendo no
Iraque.
A própria idéia de "inquérito islâmico" para identificar o grupo
potencial de vítimas se torna corrente no momento em que os seqüestradores publicam comunicados na internet nos quais evocam "tribunais islâmicos".
Antes, os reféns não eram "julgados" por colaborarem com as
forças de ocupação, fossem eles
ou não muçulmanos. O seqüestro
de ocidentais serve agora como
meio de chantagem contra seus
respectivos países.
Jornalistas na mira
A respeito, o xeque deixa claro a
seu interlocutor que "a nova estratégia também se aplica a jornalistas". O xeque diz que "infelizmente" as coisas são assim. Afirma acreditar que os jornalistas,
mesmo os americanos, deveriam
trabalhar em liberdade. Mas que,
na resistência, eles são freqüentemente acusados de vínculos com
a CIA, o que, segundo ele, coloca
muita gente da comunidade estrangeira num "estado crítico" de
insegurança.
Indagado se não seria negativo
para a imagem da guerrilha e da
resistência o fato de tantos correspondentes estrangeiros já terem
deixado o Iraque, ele reage de forma insólita: "Por que? Não seríamos afetados se todos os repórteres deixassem o Iraque. Por que é
que a resistência iraquiana precisaria de repórteres?"
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