São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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Xeque defende seqüestro como ato de resistência

RÉMY OUDAN
DO "LE MONDE", EM BAGDÁ

Ele é um xeque influente. Pertence a uma facção da guerrilha iraquiana que combate lado a lado com voluntários árabes estrangeiros, que rejeitam da forma mais extrema a presença americana no país. "O seqüestro é uma nova estratégia da resistência", diz ele, com o compromisso de não ter sua identidade revelada.
"É preciso que nós, islâmicos, nos informemos, façamos inquéritos. Temos o direito de matar quem quer que seja, mesmo um muçulmano que trabalhe para as forças de ocupação ou que lhes preste auxílio. Nossa religião nos ensina que será morto quem der água ao estrangeiro opressor. As coisas são para nós assim."
Essas declarações sobre uma "nova estratégia" são feitas em meio a uma sucessão de estrangeiros mortos ou ainda mantidos como reféns em Bagdá.
Os últimos seqüestros foram reivindicados por uma organização clandestina que se autodenomina Tawhid e Jihad (Unificação e Guerra Santa), e que seria comandada por Abu Musab al Zarqawi, considerado por Washington como o representante da Al Qaeda no Iraque.

Nova modalidade
Os cerca de 200 a 300 seqüestros de estrangeiros ocorridos a partir de abril são considerados pelo xeque como "seqüestros oportunos". A expressão é também utilizada por um diplomata. Suas vítimas eram capturadas em estradas ou ao acaso. Agora seriam os "seqüestros planificados", nos quais se procura punir a nacionalidade das vítimas e o papel que seus países de origem vêm exercendo no Iraque.
A própria idéia de "inquérito islâmico" para identificar o grupo potencial de vítimas se torna corrente no momento em que os seqüestradores publicam comunicados na internet nos quais evocam "tribunais islâmicos".
Antes, os reféns não eram "julgados" por colaborarem com as forças de ocupação, fossem eles ou não muçulmanos. O seqüestro de ocidentais serve agora como meio de chantagem contra seus respectivos países.

Jornalistas na mira
A respeito, o xeque deixa claro a seu interlocutor que "a nova estratégia também se aplica a jornalistas". O xeque diz que "infelizmente" as coisas são assim. Afirma acreditar que os jornalistas, mesmo os americanos, deveriam trabalhar em liberdade. Mas que, na resistência, eles são freqüentemente acusados de vínculos com a CIA, o que, segundo ele, coloca muita gente da comunidade estrangeira num "estado crítico" de insegurança.
Indagado se não seria negativo para a imagem da guerrilha e da resistência o fato de tantos correspondentes estrangeiros já terem deixado o Iraque, ele reage de forma insólita: "Por que? Não seríamos afetados se todos os repórteres deixassem o Iraque. Por que é que a resistência iraquiana precisaria de repórteres?"


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