|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Discurso de Raúl Castro lança debate sobre o futuro de Cuba
Discussões são de franqueza incomum na ilha, mas Fidel ainda faz sombra
MARC FRANK
DA REUTERS, EM HAVANA
Nos locais de trabalho e nos
bairros de todas as cidades de
Cuba, as pessoas se queixam da
situação de seu país, em um debate nacional sobre reforma
econômica iniciado pelo presidente interino Raúl Castro.
Depois de anos de crise econômica, os cubanos estão sendo convidados a propor soluções, por meio de discussões
coletivas, depois que Raúl reconheceu, em discurso de 26 de
julho, que os salários são baixos
demais e a agricultura precisa
de reformas estruturais a fim
de alimentar o país.
"As pessoas estão se expressando como nunca, sobre todos
os problemas que existem em
suas vidas", disse um membro
do Partido Comunista que
compareceu a um dos debates.
"Raúl elevou as expectativas de
todos, de modo que é melhor
que ele tenha algumas soluções
a oferecer."
As queixas mais comuns variam dos baixos salários (em
média de US$ 15) e serviços
ineficientes às restrições ao
abate de animais de rebanho,
compras de livros e reservas de
quartos em hotéis restritos aos
turistas. "Quando a reunião começou, ninguém queria se pronunciar, mas fomos instruídos
a falar com franqueza sobre as
questões que Raúl havia levantado e tudo que nos afeta", disse
Lariza, que vende café aos colegas de escritório a fim de suplementar seu salário.
Desde que assumiu "temporariamente" o comando do governo cubano e do Partido Comunista, com a doença de seu
irmão Fidel Castro, 81, um ano
atrás, Raúl Castro vem apelando repetidamente por mais debate e críticas construtivas ao
regime. Ele também exigiu estudos de especialistas sobre
propostas de reforma para elevar a produtividade numa economia que é hoje 90% estatal.
Mas ainda não está claro até
que ponto ele planeja levar as
reformas. "O debate entre as
bases não é novidade em Cuba.
Aconteceu coisa semelhante,
sob a liderança de Fidel, no final dos anos 80 e de novo na
metade dos 90", disse Rafael
Hernández, editor da revista
"Temas", que há uma década
vem encorajando a discussão,
ainda que limitada, de questões
controversas.
"O que é novidade é que Fidel
está menos ativo e os outros
precisam construir um novo
consenso porque o povo deixou
de responder às políticas
atuais", disse Hernández.
Fidel Castro escreve artigos
regularmente para a mídia estatal cubana e os funcionários
do governo dizem que ele é
consultado sobre as questões
importantes, mas, desde o ano
passado, só é visto em imagens
gravadas.
Em sua ausência, cresce a
pressão pela mudança.
John Kirk, historiador canadense especializado em assuntos cubanos, diz que Cuba agora está em melhor situação para considerar reformas econômicas porque suas finanças se
recuperaram devido à estreita
aliança com a Venezuela, rica
em petróleo, a créditos comerciais generosos da China e a
preços mais elevados para suas
exportações de níquel.
"O governo cubano está tentado descobrir abordagens inovadoras para um dilema incomum. A situação econômica
continua a melhorar, mas as
desigualdades e outros problemas persistem, em uma longa
crise iniciada com a dissolução
da União Soviética", disse Kirk.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Saiba mais: Comércio chinês com África cresce Próximo Texto: Cubanos trocam velhas geladeiras russas e americanas por modelo chinês Índice
|