São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2007

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Discurso de Raúl Castro lança debate sobre o futuro de Cuba

Discussões são de franqueza incomum na ilha, mas Fidel ainda faz sombra

MARC FRANK
DA REUTERS, EM HAVANA

Nos locais de trabalho e nos bairros de todas as cidades de Cuba, as pessoas se queixam da situação de seu país, em um debate nacional sobre reforma econômica iniciado pelo presidente interino Raúl Castro. Depois de anos de crise econômica, os cubanos estão sendo convidados a propor soluções, por meio de discussões coletivas, depois que Raúl reconheceu, em discurso de 26 de julho, que os salários são baixos demais e a agricultura precisa de reformas estruturais a fim de alimentar o país.
"As pessoas estão se expressando como nunca, sobre todos os problemas que existem em suas vidas", disse um membro do Partido Comunista que compareceu a um dos debates. "Raúl elevou as expectativas de todos, de modo que é melhor que ele tenha algumas soluções a oferecer."
As queixas mais comuns variam dos baixos salários (em média de US$ 15) e serviços ineficientes às restrições ao abate de animais de rebanho, compras de livros e reservas de quartos em hotéis restritos aos turistas. "Quando a reunião começou, ninguém queria se pronunciar, mas fomos instruídos a falar com franqueza sobre as questões que Raúl havia levantado e tudo que nos afeta", disse Lariza, que vende café aos colegas de escritório a fim de suplementar seu salário. Desde que assumiu "temporariamente" o comando do governo cubano e do Partido Comunista, com a doença de seu irmão Fidel Castro, 81, um ano atrás, Raúl Castro vem apelando repetidamente por mais debate e críticas construtivas ao regime. Ele também exigiu estudos de especialistas sobre propostas de reforma para elevar a produtividade numa economia que é hoje 90% estatal.
Mas ainda não está claro até que ponto ele planeja levar as reformas. "O debate entre as bases não é novidade em Cuba.
Aconteceu coisa semelhante, sob a liderança de Fidel, no final dos anos 80 e de novo na metade dos 90", disse Rafael Hernández, editor da revista "Temas", que há uma década vem encorajando a discussão, ainda que limitada, de questões controversas.
"O que é novidade é que Fidel está menos ativo e os outros precisam construir um novo consenso porque o povo deixou de responder às políticas atuais", disse Hernández.
Fidel Castro escreve artigos regularmente para a mídia estatal cubana e os funcionários do governo dizem que ele é consultado sobre as questões importantes, mas, desde o ano passado, só é visto em imagens gravadas.
Em sua ausência, cresce a pressão pela mudança. John Kirk, historiador canadense especializado em assuntos cubanos, diz que Cuba agora está em melhor situação para considerar reformas econômicas porque suas finanças se recuperaram devido à estreita aliança com a Venezuela, rica em petróleo, a créditos comerciais generosos da China e a preços mais elevados para suas exportações de níquel.
"O governo cubano está tentado descobrir abordagens inovadoras para um dilema incomum. A situação econômica continua a melhorar, mas as desigualdades e outros problemas persistem, em uma longa crise iniciada com a dissolução da União Soviética", disse Kirk.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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