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ANÁLISE
Igreja ultrapassa divisão entre conservadores e progressistas
JUAN ARIAS
DO "EL PAÍS"
Os meios de comunicação
costumam dividir os cardeais, salomonicamente, em dois
grupos: conservadores e progressistas. Mas a situação não é tão
simples. Por definição, dificilmente se poderia classificar um
membro da hierarquia institucional da igreja de progressista.
D. Hélder Câmara ou d. Pedro
Casaldáliga, bispos que fustigaram o regime militar brasileiro e
criticaram a ortodoxia da igreja,
jamais ascenderam à púrpura
cardinalícia. Pode-se, no máximo,
classificar alguns cardeais de
"menos conservadores" do que
outros. Ma há muitos matizes.
A distinção entre conservadores
e progressistas não serve para a
hierarquia, já que, por exemplo,
existem cardeais com grande
abertura social (especialmente no
Terceiro Mundo), mas muito rigorosos quanto às questões de
doutrina. E, por outro lado, há
cardeais mais abertos em termos
doutrinários (alguns norte-americanos), mas pouco sensíveis a
temas de justiça social.
Curiosamente, João 23 e João
Paulo 1º eram dois cardeais de
piedade muito tradicional, conservadores em termos religiosos,
mas muito empenhados na luta
contra a riqueza na igreja.
No próximo conclave, os grupos de pressão seguirão critérios
diferentes, não havendo a clássica
distinção entre conservadores e
progressistas. Haverá dois grandes blocos: os que desejam que o
poder do papa continue sediado
em Roma, cercado pelo dogma da
infalibilidade, e os que desejam
que esse poder se transfira para a
periferia e advogam maiores poderes para as conferências episcopais. Algo que Paulo 6º quase
aceitou, tendo provavelmente sido impedido pela Cúria Romana.
O tema é tão importante que
João Paulo 2º entregou aos cardeais, no dia simbólico de suas
bodas de prata como papa, em 16
de outubro, um documento em
que defende o poder de Roma e
critica a corrente que advoga
maiores poderes para os bispos. É
quase seu testamento.
Outros grupos são os que se
concentram em torno da Companhia de Jesus e do Opus Dei. No
conclave anterior, o Opus Dei ainda não havia sido legalizado, ainda que o eleito fosse seu candidato
e simpatizante. Ambos os grupos
têm visões diferentes sobre o papel da igreja e sobre o ecumenismo. E lutarão para eleger um papa
que defenda suas idéias.
Pela primeira vez, o papa não terá de gastar suas energias na luta
contra o comunismo, visto como
o grande inimigo da igreja. Isso
torna o novo conclave algo inédito. Mas a igreja sempre precisa de
um inimigo. Será que o papel será
dado ao islamismo, cujo número
de fiéis se aproxima do total do
cristianismo? Ou ele será dado às
seitas evangélicas, que crescem
vertiginosamente -sobretudo
na América Latina, a maior fábrica de católicos do mundo?
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