São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2004

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Sargento pega 8 anos por maus-tratos em prisão

DA REDAÇÃO

Um juiz militar condenou o sargento Ivan "Chip" Frederick, 38, a oito anos de prisão por abusar física e sexualmente de iraquianos na prisão de Abu Ghraib.
A sentença é a mais rigorosa das recebidas pelos três militares americanos envolvidos em abusos na cadeia iraquiana já condenados. O juiz, coronel James Pohl, ordenou que Frederick tenha a patente reduzida de sargento para soldado e o soldo suspenso e seja dispensado do Exército com desonra. O advogado de defesa Gary Myers disse que a sentença havia sido excessiva e que apelaria dela.
Frederick, soldado de mais alta patente a ser julgado no escândalo de Abu Ghraib, precipitado por fotos de abusos divulgadas em abril, declarou-se culpado de cinco acusações, incluindo agressão e indecência. Ele admitiu ter ajudado a enrolar fios elétricos nos dedos e no pênis de um prisioneiro e dito a ele que poderia ser eletrocutado se não confessasse seus crimes. Ele afirmou ainda ter forçado três homens a se masturbar.
O sargento freqüentava a igreja e trabalhava como carcereiro em uma prisão em sua vida civil.
Dois psicólogos que testemunharam para a defesa descreveram Frederick como uma pessoa introvertida, que tinha um forte desejo de agradar. Segundo eles, sua personalidade explica por que ele não puniu seus colegas que abusaram de prisioneiros.
"Mostre-me uma imagem do perfeito garoto americano e ele é esse rapaz", disse o psicólogo Philip Zimbardo. "Ele é um jovem maravilhoso que fez essas coisas horríveis."
Zimbardo é conhecido por ter coordenado uma experiência com universitários de Stanford em 1971. No estudo, planejado para durar duas semanas, um grupo de estudantes foi dividido em dois: metade faria o papel de prisioneiros e a outra, de carcereiros. Mas os alunos internalizaram seus papéis a tal ponto -com carcereiros abusando de prisioneiros- que o estudo teve de ser interrompido após seis dias.
Zimbardo concluiu que certas situações são capazes de fazer com que pessoas psicologicamente equilibradas cometam abusos e ignorem princípios morais que normalmente as orientam.
Myers disse que Frederick, encarregado do turno da noite em Abu Ghraib, não recebera treinamento suficiente para lidar com as condições que encontrou e atribuiu parte da responsabilidade aos comandantes do sargento.
"Sim, esse indivíduo cometeu crimes. Mas há pessoas que, por ação ou omissão, levaram-no a aquele ponto", disse. "Seria um erro grave tratar isso como problema único de Chip Frederick."
Mas o promotor, major Michael Holley, afirmou que Frederick era um adulto que sabia distinguir o certo do errado. "De quanto treinamento você precisa para aprender que é errado forçar um homem a se masturbar?", disse.
Dois outros soldados americanos receberam sentenças de entre oito meses e um ano na prisão por abusos em Abu Ghraib. Outros cinco aguardam julgamento.
Dois oficiais que foram testemunhas no julgamento de Frederick afirmaram que a CIA (serviço secreto dos EUA) ordenou alguns abusos e que comandantes militares deram ordens para endurecer os interrogatórios.
O Pentágono alega que os abusos foram obra de "maçãs podres" agindo por conta própria.


Com agências internacionais


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